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Quanto pesa ser o comandante da seleção brasileira?

Por Silvio Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 jul 2010, 13h59

Ser treinador da seleção brasileira é atingir o ponto mais alto de uma carreira. Junto com esse “atestado de qualidade”, contudo, vem um custo: a despeito de vitórias ou derrotas, o escolhido será cobrado pelo resto da vida por algum resultado. Se for escalado para uma Copa, então a cobrança será maior e mais implacável – principalmente em caso de derrota.

O peso é tão grande que, mesmo depois da conquista do penta, em 2002, o aplaudido Luis Felipe Scolari deixou o cargo. Em 2006, após o fracasso na Alemanha, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, correu atrás dele novamente. Felipão pediu um tempo para pensar e resolveu não passar pelo stress outra vez. Ficou seis anos à frente da seleção de Portugal, passou por clubes da Inglaterra e países da ex-União Soviética e aporta no Palmeiras ainda em julho. Foi vencedor de ponta a ponta com a seleção. Mesmo assim, reluta em voltar à equipe nacional.

A exemplo do que ocorreu com Felipão, a conquista da taça não aliviou a situação de outros vencedores. Zagallo, campeão em 1970, amargou a derrota em 1974 e foi massacrado, após ser eliminado pela Holanda de Cruijff. Voltou ao comando em 1998 – nova derrota na França. Não adianta bater recordes, ser campeão com vários times grandes: ao fim, o que vale é o sucesso absoluto na seleção.

Outro que carregou esse estigma foi Carlos Alberto Parreira. Ele estava à frente do time brasileiro do tetra, em 1994. Mas a malfadada campanha de 2006, na Alemanha, maculou seus sucessos na seleção. Vale lembrar que ele já havia feito o trabalho em 1983, com retrospecto pífio em 14 jogos, vencendo apenas cinco e perdendo sete. Apesar de respeitado, atualmente o treinador vive às voltas com o fantasma da eliminação em 2006. As perguntas giram, giram, e acabam versando sobre o Mundial da Alemanha.

O peso de ocupar ou ter ocupado o cargo, é claro, é tanto maior se a vitória não vier. Telê Santana morreu em abril de 2006, pouco antes de ver o Brasil em outra final do Mundial. Afastado do futebol havia alguns anos, ainda era reverenciado com um dos maiores da profissão no país. Comandou a seleção de 1982, com Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates, e a de 1986. Sempre foi saudado por motivar em suas equipes um futebol alegre, ofensivo, com dribladores, lançadores, toda sorte de jogador que “representa” o futebol brasileiro. Mas até o fim de seus dias, teve de amargar perguntas sobre o fato de não ter ganho uma Copa. Não importava o teor da entrevista: sempre redundava nos “fracassos” de 1982 e 1986. E a cobrança voltava, a despeito do retrospecto de Telê à frente da seleção. Entre 1980 e 1982, foram 38 jogos, 29 vitórias, seis empates e apenas três derrotas – aproveitamento de 84,21%. Depois, entre 1985 e 1986, foram 17 partidas, 11 vitórias, quatro empates e duas derrotas – 76,47% de sucesso. Números nada desprezíveis.

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Portanto, Dunga que prepare a sua falta de paciência para falar sobre o assunto por muitos e muitos anos. Que o digam Sebastião Lazaroni, que capitaneou a seleção na copa de 1990. Ou ainda os que nem foram a um Mundial, como Emerson Leão e Paulo Roberto Falcão.

A passagem pela seleção foi tão traumática para Leão que ele estabelece regras para tocar no assunto: não gosta de fazer comentários sobre o time atual e falou uma única vez sobre sua passagem pelo comando – foram dez jogos entre 2000 e 2001, com apenas três vitórias. “Foi uma péssima experiência, da qual não guardo nada de bom”, disse. Acabou demitido ainda no aeroporto, quando voltava da fracassada Copa das Confederações do Japão.

A seleção também deixou cicatrizes em Falcão. Como jogador, foi incontestável, mas sua passagem em 1991 foi marcada pelo baixo aproveitamento (55,88%): em 17 jogos, foram seis vitórias, sete empates e quatro derrotas. Trabalhando como comentarista de TV, não costuma falar muito sobre sua experiência e aparenta sentir desconforto com o assunto. Entrevista com ele costuma ser difícil: dependendo do veículo de comunicação interessado na conversa, Falcão pode até cobrar cachê.

Talvez o único que esteja disposto a enfrentar a pressão novamente é Vanderlei Luxemburgo, que atuou na seleção entre 1998 e 2000, fracassando em mais uma tentativa de medalha olímpica. Mas o que de fato afastou o técnico da seleção foram as acusações de sonegação de impostos e fraudes. Treinou o Real Madrid, mas voltou ao Brasil após uma única temporada no exterior. Em 34 partidas à frente da seleção, conseguiu 21 vitórias, oito empates e cinco derrotas – aproveitamento de 69,61%.

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