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UFC com futebol é péssima ideia (a não ser para os clubes)

Ligação entre lutadores e times deveria ficar restrita à arquibancada. Quem tem patrocínio oficial atrai a ira de outros torcedores - e ganha muito pouco com isso

Por Davi Correia, do Rio de Janeiro
11 jan 2012, 08h56

O valor que Anderson recebe do Corinthians – cerca de 30.000 reais por mês – equivale ao pagamento mensal de um jogador reserva ou iniciante da equipe campeã brasileira (e a uma fração pequena do pagamento que o lutador recebe a cada combate)

“Ronaldo, estamos juntos e misturados”, gritou Anderson Silva, vestindo uma camisa do Corinthians, após nocautear Vitor Belfort no UFC 126, em fevereiro de 2011. O campeão tinha acabado de vencer uma das lutas mais aguardadas da história do UFC, e sua imagem estava sendo exibida para o mundo todo. Anderson, torcedor fanático do clube paulista, não lucrou um centavo sequer para exibir o distintivo da agremiação num evento esportivo de grande repercussão internacional – ganhou apenas a antipatia dos seguidores mais fanáticos das equipes rivais. Meses depois, o brasileiro foi anunciado como atleta contratado do Corinthians, transformando-se no primeiro atleta a misturar (oficialmente, pelo menos) o MMA ao futebol. Essa ligação, porém, não parece nada vantajosa – pelo menos para os lutadores.

Além de vaias, o “Spider” recebeu muito pouco em troca. O valor que recebe do Corinthians – cerca de 30.000 reais por mês, quantia não confirmada pelo clube nem pelos representantes do lutador – equivale ao pagamento mensal de um jogador reserva ou iniciante da equipe campeã brasileira (e a uma fração pequena do pagamento que Anderson recebe a cada combate). O Corinthians, por sua vez, fez um investimento certeiro: associou sua imagem a um atleta famoso, respeitado e carismático, que exibe o distintivo da equipe em lugares em que a marca Corinthians normalmente não seria mostrada. A principal delas, é claro, é o próprio octógono. No primeiro UFC Rio, em agosto, Anderson fez sua luta de estreia como atleta do Corinthians. Ao nocautear Yushin Okami, no entanto, o brasileiro escutou um coro do ginásio provocando seu time e exaltando o Flamengo.

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O campeão pegou o microfone e disse: “Nunca serão, jamais serão”, citação do filme Tropa de Elite, interpretada por alguns como provocação pelas vaias ao Corinthians. Dias depois, Anderson garantiu que a alfinetada, na verdade, foi para os lutadores estrangeiros que não conseguem tomar seu cinturão. De qualquer forma, o nome do Corinthians voltou a ser comentado – e a Anderson restou apenas a necessidade de se explicar. Logo em seguida, Chael Sonnen, o polêmico americano que vive pedindo uma revanche contra o brasileiro, usou a internet para divulgar que é “torcedor” do Palmeiras e espera pela oportunidade de fazer um “clássico” no octógono. Jamais tinha ouvido falar do time, evidentemente – mas tudo o que queria era uma chance de irritar Anderson. O Palmeiras não perdeu tempo e mandou um kit com camisa e DVD ao falastrão.

A imagem de Sonnen vestido de verde foi muito divulgada no Brasil – com direito a longas exposições do distintivo do clube e do logotipo de seu patrocinador. Propaganda gratuita que definitivamente não combina com a tentativa quase obsessiva dos chefões do UFC de profissionalizar ao máximo sua modalidade. Além da desvantagem financeira, há também o prejuízo ao próprio evento – uma noitada de UFC com torcidas de futebol rivais apoiando os lutadores de acordo com as preferências clubísticas é o que de pior pode acontecer a esse esporte no país, não apenas pelo risco de violência, mas principalmente pela divisão do apoio aos lutadores. Ao invés de representar o Brasil no octógono e concentrar a torcida de todos, um lutador patrocinado enfrenta o risco de perder adeptos que não gostam da ideia de aplaudir um atleta vestido com as cores de um time rival.

Na arquibancada – No segundo UFC Rio, no sábado, essa ligação entre UFC e futebol será testada mais uma vez. Depois do corintiano Anderson na primeira edição do evento, agora é a vez de José Aldo, protagonista da luta principal da noite. Torcedor do Flamengo, ele tentará defender seu título de campeão dos penas usando pela primeira vez as cores do clube. A torcida flamenguista pode até ser maioria na Arena HSBC, mas os simpatizantes dos outros clubes não vão gostar. Aldo não se importa: “É um sonho que está realizado. Sempre torci, chorei e acompanhei o Flamengo desde criança e, agora, poder fazer parte desta companhia é maravilhoso”, disse o campeão, que costuma acompanhar os jogos na arquibancada e sabe na ponta da língua as músicas das torcidas organizadas. O rival do brasileiro, o invicto Chad Mendes, fez o mesmo que Sonnen e provocou Aldo vestindo uma camisa do Vasco. Na contramão de Anderson e Aldo, Vitor Belfort, que participa da outra grande luta da noite, contra o americano Anthony Johnson, prefere não misturar luta e futebol. Flamenguista assumido – chegou até a jogar bola nas categorias de base do clube, que visitou no ano passado para tirar fotos com seus ídolos -, ele diz preferir defender o Brasil, e não uma só equipe de futebol, dentro do octógono. “Represento cada pessoa que torce por mim. Vou carregar esses valores sempre que for patrocinado, seja por uma empresa, seja por um time. Mas se um dia eu for representar um time, ele não vai ser de futebol, vai ser um time de UFC”, explica. Outro que também não mistura futebol com MMA é Maurício Shogun. Os responsáveis pela carreira do lutador já falaram que o ex-campeão do UFC não tem interesse em assinar com nenhuma equipe.

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