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Lucas Piazon, em casa na Inglaterra – e pronto para brilhar

Revelado pelo São Paulo e contratado pelo Chelsea antes mesmo de estrear no Brasil, o atacante faz 18 anos - e agora pode jogar na melhor liga do mundo

Por Jonas Oliveira, de Londres
20 jan 2012, 23h17

Lucas já comprou seu primeiro carro – uma Land Rover que chegará em março. Antes, precisa aprender a dirigir. Sobre as comparações com Kaká, diz que a semelhança fica só na aparência: “Meu estilo de jogo é bem diferente”

A advogada Isabel prepara o almoço para a família – arroz, feijão, batatas, filé de peixe e salada. Seu marido, o empresário Antônio Carlos, havia ido buscar o filho Lucas, a um dia de completar 18 anos, no treino de futebol, e a filha Juliana, 13, na escola. Um atraso no treino de Lucas e a distância da escola de Juliana fizeram com que o almoço só fosse servido às quatro da tarde; os três sentam-se à mesa e começam a comer enquanto a mãe termina de preparar uma limonada. A cena corriqueira serviria para descrever uma quinta-feira de qualquer família, mas este lar de brasileiros que trocaram Curitiba por Londres tem algo especial. O aniversariante da sexta-feira é Lucas Piazon, joia das categorias de base do São Paulo comprado pelo Chelsea no ano passado, por cerca de 8 milhões de libras. Em Londres desde setembro do ano passado, o garoto passou a conviver desde o dia 20 de dezembro com os pais e a irmã, que decidiram mudar-se para Londres para acompanhar de perto o filho – apesar de Lucas ter um empresário, Giuliano Bertolucci, é o pai quem cuida de sua carreira e fica na ponte aerea São Paulo-Londres.

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Leia também: A mudança de Lucas Piazon para a Inglaterra, em setembro de 2011

Que tipo de expectativa o fato de completar 18 anos cria em você? Estou tranquilo. A novidade é a possibilidade de jogar. Isso não quer dizer que vou jogar. Vou poder ser inscrito, ser utilizado, mas tudo tem seu tempo. Acho que é um pouco cedo. Preciso amadurecer mais para o futebol inglês. O estilo de jogo no Brasil é muito mais cadenciado, com mais toque de bola. Aqui eles já tentam o gol de qualquer jeito.

E do ponto de vista físico? É muito difícil um jovem com 18, 19 anos jogar, justamente por causa da parte física. É muita força, o espaço é muito pequeno. No Brasil dá para jogar mesmo se for magrinho.

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Você acha que a decisão de vir para cá antes de chegar ao profissional foi acertada? Essa resposta a gente vai ter daqui a algum tempo. O motivo de eu ter vindo foi o novo desafio, mais um na minha vida. E acho que aqui poderia evoluir muito mais que no Brasil.

E como tem sido morar novamente com os pais, após três anos e meio? É diferente. Fazia muito, muito tempo que não ficávamos um mês juntos, como agora. É estranho. Há quatro anos eu era uma criança. Às vezes minha mãe me manda dormir… Acho que ela não lembra que moro há quatro anos sozinho, sei das minhas obrigações, o que tenho de fazer.

Ter uma família que sempre teve boas condições materiais ajuda? Tira um pouco da pressão, da responsabilidade. Convivi com muitos amigos que aos 14, 15 anos mandavam todo o salário para a família. Era um peso muito grande. Para mim não é um peso – independente do que acontecer comigo sei que minha família vai continuar bem. Aprendi muito com meus amigos, que não tinham quase nada e eram pessoas incríveis.

O fato de ter uma financeira melhor dificultou algum relacionamento no futebol? De maneira nenhuma, até porque sou muito simples. Não me importo com luxo. Se tiver de dormir num colchãozinho eu durmo, se tiver de sair descalço eu saio. Não tenho frescuras com nada.

Seu pai diz que você é controlado, até um pouco pão-duro. Não sou pão-duro, só não fico gastando com coisa que não precisa, que não vai me acrescentar nada. Acho que gasto com as coisas certas. Gosto muito de casa, de espaço, de morar bem. Acho que esse é o único luxo que tenho. Morei quatro anos num quarto, e chegou a hora de ter uma boa casa…

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Já realizou algum sonho de consumo? Não tenho grandes ambições. Comprei um carro para o meu pai e um para mim, que vai chegar em março.

Qual modelo escolheu? Uma Land Rover Evoque, gosto muito do interior dele. Um amigo tem um modelo desse, gostei e comprei um igual. Mas nunca fui muito apegado a carro, e agora preciso aprender a dirigir.

Lucas Piazon, jogador brasileiro do Chelsea, em sua casa, em Londres
Lucas Piazon, jogador brasileiro do Chelsea, em sua casa, em Londres (VEJA)

O que você faz em Londres? Saímos para jantar, conversamos, damos risada. Ainda não fui a museu, e fui ver o Big Ben e a roda-gigante London Eye apenas uma vez. Ainda não fui ao museu de cera nem ao bar de gelo, que dizem que é legal. Agora sou mais como um cidadão londrino, não fico visitando pontos turísticos.

Como você definiria seu estilo de jogo? É difícil falar de mim, nem meus amigos conseguem… Com a bola, acho que finalizo bem com os dois pés, sempre jogo para a frente, não sou jogador de muita firula. Gosto de trabalhar mais a bola, tocar, passar. E é isso. O maior defeito que precisava melhorar é a marcação, especialmente quando jogo no meio. Mas estou melhorando, antes não marcava nada.

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Que jogador você tem como referência? Sempre falo que não tenho um jogador em quem me espelho. Tento ver jogos de todos os lugares e ver o melhor de cada jogador, o que posso aproveitar. Gosto do Rooney, do Aguero, do Fernando Torres, do Lampard, de um menino do Arsenal, o Ramsey, e do Van Persie. E também Ibrahimovic, Pato, Robinho, Milito, Kaká… Gosto de ver a maioria dos jogadores de Barcelona e Real Madrid. No São Paulo gostava bastante do Jean, que não tinha nada a ver com a minha posição, mas gostava muito do jeito que ele jogava no meio. Gostava do Hernanes também.

As comparações com Kaká têm mais a ver com estilo de jogo ou com a semelhança física? Acho que é mais por esse contexto de termos jogado no São Paulo e de ser um menino bonzinho. Até em campo, quando estou de longe, a aparência lembra o Kaká. E quando estava no São Paulo era óbvio que surgiriam as comparações. Mas o estilo de jogo é bem diferente, acho que é mais pela aparência mesmo.

E quais são os planos para sua carreira? Quero jogar pelo Chelsea. Mudei toda a minha vida para isso, quero lutar para me firmar no primeiro time e fazer minha carreira aqui. Estou numa cidade boa, num dos melhores clubes do mundo. Se fizer minha carreira aqui ficaria muito feliz.

E se não houver espaço no time principal e o Chelsea optar por um empréstimo? Acho que um empréstimo faz muito bem ao jogador. Se você fica só treinando, sem jogar, é ruim, não evolui. Não vejo como uma coisa ruim.

Lucas Piazon, jogador brasileiro do Chelsea, com a família, em sua casa, em Londres
Lucas Piazon, jogador brasileiro do Chelsea, com a família, em sua casa, em Londres (VEJA)
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Mesmo que tenha de mudar de país? É preciso analisar a situação, se vai ser bom para a carreira. Se for para crescer e evoluir não tem problema nenhum.

Depois de defender as seleções de base, já fica ansioso pela principal? Para chegar à principal, tenho primeiro de jogar no clube em que estou. É um sonho, óbvio, mas tenho de pensar aqui antes, para depois pensar em seleção.

Você acha que teria sido mais fácil chegar à seleção se tivesse ficado no Brasil? Não. Hoje o mundo é muito globalizado, tudo o que acontece aqui as pessoas ficam sabendo no Brasil. Se estiver jogando e estiver bem, numa fase boa, óbvio que vou ter uma chance.

Ainda dá tempo para pensar em 2014? Acho que está um pouco em cima da hora, mas sempre dá. Temos dois anos e meio para a Copa. Se estiver jogando até o final de 2013, participando dos jogos do Chelsea até essa época, vou ter pelo menos uma chance.

Com ‘fico’ de Neymar, despedidas prematuras agora são raras

Há cerca de um ano, uma reportagem do site de VEJA mostrou o sucesso internacional de uma geração de jogadores formados nas divisões de base dos clubes brasileiros, mas consagrados apenas no futebol europeu – casos de David Luiz, Hulk, Thiago Motta e outros que saíram anônimos do Brasil e viraram ídolos no exterior. Se emplacar no Chelsea, Lucas Piazon poderá reforçar esse time de craques revelados no país e exportados antes mesmo de subir para a equipe titular de um grande clube. O caso de Piazon, no entanto, pode ser um dos últimos desse tipo. Em 2011, a saída prematura de jovens promessas rumo à Europa parece ter sido estancada – e, na esteira da permanência de novos astros como Neymar, do Santos, e Lucas, do São Paulo, os clubes brasileiros decidiram virar o jogo e investir na manutenção de seus futuros craques no país. Ainda é difícil resistir à tentação de uma proposta milionária por um jogador de 17 ou 18 anos – até porque essa alternativa é um retorno garantido para um investimento incerto, já que muitos jogadores excepcionais na base acabam fracassando entre os adultos. Mas ficou claro, principalmente com o caso de Neymar, que existem formas de evitar o adeus precoce a uma jovem estrela – e ainda por cima ganhar muito dinheiro com isso.

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Os cofres reforçados dos clubes, aliás, ajudam a explicar essa mudança de tendência. Contratos mais rentáveis de patrocínio e venda de direitos de transmissão de TV deram um alívio nas contas das agremiações. Sem a necessidade de vender jogadores por qualquer oferta, as equipes passaram a segurar seus atletas mais promissores. Além de Neymar, que garantiu a permanência até 2014, Lucas também avisou que não pretende sair do São Paulo tão cedo, mesmo com propostas atraentes (a Inter de Milão acaba de oferecer 30 milhões de euros pelo meia-atacante, mas o valor foi rejeitado). No Santos, Victor Andrade, de apenas 16 anos, assinou contrato por três anos, já como profissional – para tirá-lo do Brasil é preciso pagar 50 milhões de euros. Sinal de que, sem a crise que abatia os clubes nos últimos anos, o Brasil pode enfim passar a ver seus jovens craques de perto, e não apenas nas partidas da TV por assinatura.

Leia também: Commodities da bola – a Europa e nossos jovens craques

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