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A primeira vez é inesquecível, diz presidente na Libertadores de 92

Por Da Redação
15 jun 2012, 10h03

Entre 1984 e 1988, Carlos Miguel Aidar, então presidente do São Paulo, montou o chamado ‘Projeto Tóquio’, que não teve sucesso com ele ou com seu sucessor, Juvenal Juvêncio, no mandato de 1988 e 1990. Foi com José Eduardo Mesquita Pimenta, mandatário de 1990 a 1994, que o objetivo se concretizou. E o pontapé inicial, com a conquista da Libertadores de 1992, ainda emociona o dirigente.

Até ver uma multidão invadir o campo do Morumbi em 17 de junho após Zetti defender o pênalti de Gamboa na decisão com o Newell’s Old Boys, da Argentina, Pimenta travou batalhas nos bastidores além de transformar um time ‘transferido’ para a segunda divisão paulista em 1990 em bicampeão mundial em 1993

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Primeiro, em 1992, precisava convencer Telê Santana da seriedade da Libertadores. Solucionou o problema ao ouvir de Nicolas Leóz, já presidente da Conmebol (Confederação Sul-americana de Futebol) a garantia de que bastava ter um time campeão. O que foi comprovado com o ‘mar branco’ no gramado do Morumbi há 20 anos. ‘A primeira vez é inesquecível’, relembrou Pimenta nesta entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.Net.Gazeta Esportiva.Net: Como você explica essa obsessão que se tornou a Libertadores para o São Paulo?

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José Eduardo Mesquita Pimenta: Nós nos habituamos e gostamos da brincadeira. Já estávamos pré-classificados para a Libertadores de 1993 e, como gostamos e aprendemos, até reforçamos o time em certo aspecto. E ainda ganhamos a Supercopa de 1993, que era a melhor competição da época, com um nível muito alto por congregar todos os vencedores da Libertadores. Aprendemos o caminho das pedras em 1992 e fomos com moral muito elevado tanto para a outra Libertadores quanto para os Mundiais.

GE.Net: Qual foi o trabalho para convencer o Telê da importância da Libertadores?

Pimenta: Para nós, da presidência e da diretoria, servia a Libertadores. Tivemos um esforço muito grande, encontramos o presidente da Confederação Sul-americana e recebemos com surpresa a garantia de que era só montar um time bom porque não teríamos problema nenhum extracampo. Aí virou o fio para o Telê.

GE.Net: Como foi este encontro com o Leóz?

Pimenta: A sede (da Conmebol) antes era itinerante, sempre no país do presidente. Quando o Doutor Leóz foi eleito, fez uma sede própria no Paraguai. E tivemos um encontro informal com ele lá, falamos da sensação que tínhamos em relação à competição e ele nos assegurou que não teríamos nenhum desses problemas. Se tivéssemos um bom time, chegaríamos às finais. Nós nos empenhamos, acreditamos e mudamos a convicção do Telê.

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Acervo/Gazeta Press

Pimenta presidiu clube entre 1990 e 1994

‘SÓ’ ESPERANÇOSO, EX-PRESIDENTE PEDE EQUILÍBRIO PELAS GLÓRI

Em 1992, na gestão de José Eduardo Mesquita Pimenta, o São Paulo iniciou uma série de conquistas internacionais que culminou com o bicampeonato mundial em 1993. Desde então, porém, os únicos torneios envolvendo equipes estrangeiras de expressão vencidos pelo clube foram a Libertadores e o Mundial de 2005. E o ex-presidente demonstra otimismo só como torcedor pela volta dos bons tempos.

‘É necessária uma combinação de fatores, que tudo ande em equilíbrio. O clube precisa acertar mais do que errar. Se começar a ter muita dificuldade, não chega lá’, explicou Pimenta, em dúvida mesmo na busca pelo primeiro título da Copa do Brasil.

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‘Não sei nem se passa pelo Coritiba (nas semifinais). O São Paulo está muito sem padrão de jogo, com a defesa muito fraca. Tenho esperança, sempre torço para que dê certo, mas acho difícil’, opinou.

A projeção deixa clara a contrariedade de Pimenta à gestão de Juvenal Juvêncio. ‘O São Paulo, no momento, tem uma administração que não está grande coisa, sem continuidade, com pretensões políticas pessoais que se sobrepõem aos interesses do clube. Nem gostaria muito de falar sobre isso, na verdade.’

GE.Net: O São Paulo tinha muita preocupação com doping e até pagava os exames antidoping…

Pimenta: Os exames foram introduzidos e oficializados por sugestão do São Paulo. Antes, o São Paulo pedia e era atendido esporadicamente, mas depois insistimos e os exames foram introduzidos efetivamente. Pagávamos os exames só no começo. E não era só o São Paulo, mas todos os clubes que solicitavam.

GE.Net: O transporte público foi gratuito para o Morumbi no dia da final. Isso foi um acordo que o clube fez com a prefeitura?

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Pimenta: Conversamos e discutimos muito para que tivéssemos esse acordo. Por isso tivemos mais de 100 mil pessoas só entre os que passaram a catraca. Foi impressionante, uma alegria contagiante. A Sul-americana chegou a sugerir a interdição do Morumbi por falta de segurança, mas os próprios dirigentes (da Sul-americana), por ponderação do São Paulo, entenderam que aquilo era uma comemoração nossa, não violência. Ficaram muito impressionados com a sensibilidade do torcedor. Era tudo novidade na época e o Morumbi era muito grande, o maior estádio particular do mundo.

GE.Net: O senhor lembra o que sentiu ao ser campeão?

Pimenta: Uma emoção violenta. Eu não imaginava que tínhamos chegado ao fim daquela jornada. E foi um espetáculo os torcedores invadindo o campo. Inesquecível. Foi a nossa primeira sensação de vitória em competições internacionais e a maior de todas, a mais sensível. Depois fomos nos habituando, o São Paulo foi ganhando, mas a primeira vez é realmente inesquecível.

GE.Net: Chegou a pensar que o título não viria?

Pimenta: Sempre temos a expectativa e a esperança de que vamos ganhar, mas sempre passa pela cabeça, é um receio natural. Perdemos o jogo de ida em um pênalti duvidoso e tínhamos condições de virar, mas será que iríamos virar? Ninguém tem nenhuma segurança. E a decisão por pênalti é um horror, uma tortura. Imagine para um presidente! Mas deu certo. Aliás, enquanto fui presidente, tivemos algumas disputas por pênaltis e não me lembro de ter perdido nenhuma.

GE.Net: Pelo que vejo, a final foi o jogo mais marcante para o senhor.

Pimenta: Com certeza. E ainda me emociono ao lembrá-la, sobretudo pela alegria que proporcionou à torcida, que teve a felicidade em campo e um crescimento inexorável. Foi realmente algo comovente. Eu sentia que era uma virada.

GE.Net: No início da década de 1990, os clubes brasileiros pareciam não dar tanta importância à Libertadores.

Pimenta: Em 1992, já fazia nove anos que não vencíamos uma Libertadores. E na Copa de 1990 tínhamos sido desclassificados pela Argentina. O futebol brasileiro estava realmente em baixa, muito acanhado. O São Paulo retomou o caminho de glórias. E os clubes brasileiros começaram a dar importância à Libertadores, ver como era vantajosa.

GE.Net: Falava-se muito em ‘Projeto Tóquio’ na época…

Pimenta: E ele foi seguido à risca. O Projeto Tóquio já vinha do Carlos Miguel Aidar. Não teve sucesso com ele, mas já tinha sido planejado. Sabíamos que o São Paulo, para se projetar universalmente, precisava de títulos internacionais. Éramos um time caseiro, muito respeitado e reconhecido aqui dentro do Brasil, mas não externamente. Sabíamos que íamos nos projetar dentro da nossa grandeza ganhando títulos.

GE.Net: Como foi a montagem daquele time?

Pimenta:Foi montado em 1990. Quando assumi, o time estava totalmente desfigurado, o São Paulo estava mal, desorganizado e transferido para a segunda divisão – não houve rebaixamento porque o regulamento falava em transferência. Remontamos tudo aos pouquinhos. Em outubro de 1990 o Telê foi contratado e no final do ano, já no Brasileiro, fomos vice-campeões perdendo as finais para o Corinthians, mas já tínhamos um time organizado. Em 1991, no primeiro semestre, já fomos campeões brasileiros. Aos pouquinhos, com dificuldades, tivemos um resultado relativamente rápido.

GE.Net: Quais foram as principais dificuldades para a diretoria em 1992?

Pimenta: A nossa inexperiência na competição. Para todos nós brasileiros, àquela altura, era tudo novidade. Até tivemos outras dificuldades intercorrentes, mas nenhuma que pudesse nos tirar a atenção. Correu tudo bem, dentro do previsto.GE.Net: O que a diretoria introduziu na busca pelo primeiro título da Libertadores?

Pimenta: O São Paulo era muito inovador. Tínhamos a melhor comissão técnica da época, com o Valdir de Moraes (preparador de goleiros), o Turíbio (Leite de Barros Neto, fisiologista), o Telê, o Moraci (Sant’anna, preparador físico), a equipe médica. Eles introduziram muitas novidades. Esses scouts que existem hoje foram introduzidos pelo Moraci, que já fazia isso na época. Era uma porção de novidades. Tentamos, por exemplo, fazer a reprodução do clima de altitude no CT, treinamos nestas condições. Fomos sempre pioneiros

GE.Net: A viagem à Bolívia custou Cr$ 40 milhões, a vaga na decisão valeu Cr$ 6 milhões para cada atleta e o título, Cr$ 15 milhões. Dá para dizer que o São Paulo não poupou gastos para vencer sua primeira Libertadores?

Pimenta: Estivemos sempre dentro do orçamento. Os meus balanços eram sempre auditados e já publicados mesmo sem sermos obrigados. Em 1992, fechamos o balanço com índice de liquidez de 7,5 para 1, Cr$ 4 milhões em caixa e um superávit de 51% em relação à receita. Tínhamos tudo de melhor, mas com bastante equilíbrio porque os balanços eram complicados. Mas valeu a pena.

GE.Net: A negociação para as premiações sempre foi tranquila?

Pimenta: A premiação era progressiva. O time ia cumprindo etapa e fomos melhorando o bicho. Sempre foi assim. E estipulávamos o bicho com antecedência, mas íamos reconhecendo e modificando a tabela de bichos. Tudo tranquilo porque havia harmonia internamente. Por isso foram quatro anos de títulos. Até tivemos erros, mas acertamos mais.

GE.Net: Com quem vocês negociavam as premiações?

Pimenta: O Raí era o porta-voz. Apesar de existirem outros no grupo com o mesmo nível, inclusive intelectual, ele tinha uma liderança natural entre eles. E o diálogo era sempre muito franco. De vez em quando surgiam problemas, mas todos eram contornados satisfatoriamente.

GE.Net: Entre os problemas, um que surgiu foi o afastamento do lateral esquerdo Nelsinho, à revelia de Telê Santana, após uma expulsão contra o Goiás. Os jogadores chegaram a deixar de comemorar gol.

Pimenta: Eu não gostaria de falar muito sobre o assunto, mas o Nelsinho foi afastado durante a competição porque cometeu exageros. Inicialmente, isso gerou um problema no plantel, mas depois eles entenderam bem a posição da diretoria e tudo foi superado.

GE.Net: Na época, três jogadores que estavam afastados do elenco e esperavam por novos contratos revelaram necessidades financeiras enquanto treinavam no clube: o Baiano, o Vizolli e o Edmilson, que até vendia camisetas para aumentar sua renda…

Pimenta: Sinceramente, não me lembro desses problemas. Sempre existe alguém descontente, mas, no geral, tínhamos um ambiente bem harmonioso, com todos os problemas bem superados. Sempre existem exceções, mas nada que afastasse o equilíbrio das relações entre elenco, comissão técnica e diretoria.

GE.Net: O Valdir de Moraes conta que o Pintado renovou seu contrato em 1992 em cinco minutos…

Pimenta: Sim, porque todos queriam jogar no São Paulo. O São Paulo sempre foi bom pagador, pontual, com os salários mais altos. E já tinha infraestrutura. Era um clube muito avançado.

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