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Dana White: ‘É difícil fazer algo acontecer aqui no Brasil’

No país da Copa e da Olimpíada, presidente do UFC, o evento esportivo que mais cresce no mundo, fala a VEJA sobre obstáculos que encontrou no país

Por Davi Correia, do Rio de Janeiro
26 abr 2012, 09h15

“Garanto que o Chael preferiria fazer essa luta no Rio. Porque todas as pessoas no Brasil que o odeiam e querem vê-lo derrotado não podem incomodá-lo da maneira que a Comissão de Nevada tentará fazer”

Dana White avisou via Twitter que chegaria ao Brasil no domingo, para anunciar as próximos lutas do UFC. Mas o presidente do maior torneio de artes marciais mistas do planeta só desembarcou no Aeroporto do Galeão na terça-feira, poucas horas antes de uma entrevista coletiva desgastante, em que decepcionou milhares de fãs do mercado mais promissor para a franquia no mundo. Depois de confirmar que a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen seria transferida do Rio para Las Vegas, no 7 de julho, Dana White recebeu a reportagem de VEJA em uma sala no hotel Windsor Barra. Ainda exausto pela longa viagem em seu jatinho particular e pela conversa de mais de duas horas com Anderson Silva, que teve de ser convencido a aceitar a luta nos EUA, o presidente do UFC manteve um tom de voz baixo, bem diferente de suas outras entrevistas, e pareceu estar decepcionado por não conseguir realizar a revanche entre Anderson e Chael Sonnen em um estádio, com público superior a 50.000 pessoas, no Brasil. Dana White queria bater um recorde histórico de público na cidade que, dentro de alguns anos, receberá a final da Copa do Mundo e a Olimpíada. A falta de hotéis disponíveis – a luta aconteceria no mesmo período que a Rio+20 – e os vários obstáculos logísticos ao ousado empreendimento acabaram jogando os planos por terra.

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Sem economizar nos palavrões, Dana White vestia seu traje preferido – jeans e camisa polo preta, com as mangas apertadas nos braços. O presidente do UFC rasgou elogios a Anderson Silva, que considera o melhor lutador da história, e disse admirar Chael Sonnen pela coragem de enfrentar o campeão. “Foi o que chegou mais perto de vencer Anderson Silva, e é o único que está sempre pedindo uma revanche”, explicou. Mas também criticou os lutadores flagrados no exame antidoping e disse que a Comissão Atlética de Nevada, responsável pelos exames das lutas realizadas em Vegas, não gosta de Chael Sonnen, flagrado num teste em 2010 com um alto nível de testosterona. Segundo ele, a comissão fará de tudo para complicar sua vida até essa luta. “Acreditem, Sonnen preferia enfrentar Anderson Silva no Rio de Janeiro”, garantiu. A organização de um evento de MMA no Brasil pode ser considerada amadora? É difícil fazer as coisas acontecerem por aqui. Como nos últimos onze anos, gostaríamos de continuar levando as coisas para o nível seguinte, queríamos fazer um evento num estádio de futebol no Brasil e não conseguimos, simplesmente não aconteceu. O UFC está tentando transformar o Jon Jones no principal astro da franquia? Jon Jones é o campeão mais jovem do UFC, um cara incrível, é um dos lutadores mais criativos desde o Anderson Silva. A imprensa americana me pergunta se Jon Jones é o melhor lutador do mundo, mas este posto é do Anderson Silva. Seria ruim o UFC não ter nenhum americano entre os campeões? Nem um pouco. As pessoas amam o Anderson Silva nos EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Austrália… Se você perguntar à maioria das pessoas nos Estados Unidos quem é seu lutador preferido, vão responder que é o Anderson Silva. Ou o Georges St-Pierre, que é do Canadá, não é dos EUA. Georges St-Pierre é um fenômeno no mundo todo também. Você está falando de dois caras que dominaram duas categorias de peso por muito tempo, e as pessoas amam isso. Mas os dois estão sem lutar há um bom tempo, certo? Georges St-Pierre estourou seu joelho, voltará depois de um ano. O Anderson teve alguns problemas no ombro depois de sua última luta. Mas o Anderson é daqueles caras que, estejam lesionados ou não, vão para a luta. É ruim para o negócio quando um atleta domina sua categoria por muito tempo? Não, não acho uma coisa ruim. Anderson Silva dominou a categoria dos médios, subiu para a categoria meio-pesado e destruiu dois caras, e o Chael Sonnen é o único que chegou perto de derrotá-lo. Vai ser uma grande luta. Sei o quão famoso o Anderson Silva é por aqui, mas o que as pessoas não percebem é que ele é gigante nos Estados Unidos. E na Inglaterra, e na Austrália, e em outros países.

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A entrevista coletiva de Anderson Silva, Chael Sonnen e Dana White no Rio de Janeiro
A entrevista coletiva de Anderson Silva, Chael Sonnen e Dana White no Rio de Janeiro (VEJA)

A falta de adversários na categoria de Anderson pode tornar seus confrontos monótonos? Anderson luta bem demais, mas tudo depende do oponente. Ele foi espetacular na vitória contra o Vítor Belfort. Ele contra Chael Sonnen será fantástico. Depende de quem ele está enfrentando. Anderson Silva tem mais quatro lutas em seu contrato e já fala que, depois disso, pode se aposentar. As pessoas não percebem que o Anderson tem 38 anos… Como foi a decisão de afastar Alistair Overeem do UFC 146? Não podemos esperar para ver o que vai acontecer com Alistair Overeem. As pessoas não percebem que ele não foi pego por usar esteroides. Ele não usou esteroides. O que aconteceu foi que seus níveis de testosterona pra estrogênio estavam altos. De qualquer forma, a resposta honesta é que eu não estou feliz com Alistair Overeem. Você considera Chael Sonnen um bom lutador ou a revanche é mais pelo marketing dele? Primeiro, não se pode negar que o Chael Sonnen foi o único a colocar o Anderson em uma situação perigosa. O Chael é louco? Não sei. Não sei se ele é louco ou brilhante. Mas te digo que ele tem coragem, isso é certo. Ele estava disposto a enfrentar o Anderson Silva no Rio. Repito, uma coisa é o cara sentado nos EUA, em sua casa, dando entrevistas e dizendo coisas. Outra é o cara vir para o seu país e falar essas coisas na frente de uma centena de pessoas. Você não precisa gostar dele, mas precisa admitir que esse cara é completamente insano. Mas você sorri e parece gostar das respostas do Chael. Não acho que haverá outro lutador como Chael Sonnen. Não é que eu goste das coisas que ele diz. Juro que às vezes alguns jornalistas me ligam falando “Chael Sonnen disse isso, Chael Sonnen disse aquilo”, e eu respondo: “Por que diabos você está dando ouvidos ao Chael Sonnen?”. Eu tenho que falar coisas como: “Não, isso não é verdade, ele não é o campeão, Anderson Silva é o campeão”. (O americano já disse várias vezes que é o “verdadeiro dono do cinturão”.) Nunca vi um cara como o Chael e acho que nunca mais veremos um cara como ele. É melhor um lutador mediano que sabe promover uma luta ou um excelente lutador que não tem tanto apelo de marketing? Já tive caras que não falam nada e lutam como monstros. É a única coisa que importa. Quando o Anderson se tornou campeão, e parecia que seria por muito tempo, todos diziam que ele não falava inglês. Não dou a mínima se ele não fala nada. Do jeito que ele luta, as pessoas não aparecem pra ouvi-lo dando longos discursos, as pessoas aparecem para vê-lo lutando. Estamos no negócio de lutas. O UFC pretende fazer exames antidoping surpresa com Chael Sonnen? Entendam isso: ele está lutando em Nevada. A Comissão Atlética de Nevada odeia o Chael Sonnen. Eles o odeiam. Vão complicar a vida dele de todas as maneiras possíveis até essa luta. Guarde minhas palavras: garanto que o Chael preferiria fazer essa luta no Rio. Porque todas as pessoas neste país que o odeiam, e querem vê-lo derrotado, não podem incomodá-lo da maneira que a Comissão Atlética de Nevada tentará fazer.

Chael Sonnen, o piadista: bigode e nariz falsos na entrevista coletiva do UFC no Rio
Chael Sonnen, o piadista: bigode e nariz falsos na entrevista coletiva do UFC no Rio (VEJA)

Já estão pensando na segunda temporada brasileira do reality show The Ultimate Fighter? O programa é um grande sucesso aqui, tem sido fenomenal. Estamos muito felizes e animados. Sabíamos que seria, mas não se sabe realmente até que vá ao ar. Mas achávamos que seria tão bom quanto tem sido. Estamos trabalhando na segunda temporada. Na realidade, esta temporada está na metade, acho que estamos indo para o sexto episódio, e as pessoas verão que só irá melhorar à medida que a temporada for progredindo. Mas estamos trabalhando na segunda temporada, sim – só não sei quem serão os treinadores. A coletiva atrasou por que você estava convencendo Anderson Silva a lutar em Las Vegas? Sim. Falamos por muito tempo, e não foi uma boa conversa. Se você conhece o Anderson, sabe que ele estava muito irritado por essa luta não ocorrer no Brasil. Sabia que teria bastante trabalho quando vim para o Rio de Janeiro. Sabia antes de chegar, tanto que liguei para os representantes do UFC no Brasil na segunda-feira e falei: “Preciso que vocês adiem essa coletiva por uma hora, porque não há como terminar isso até as 11 horas”. Nós estivemos no meu quarto brigando pelas últimas duas horas… Você entende a raiva dele? Entendo. Mas não fiquem com raiva de mim, ou do UFC. Não é nossa culpa. Tentamos fazer isso acontecer aqui e não conseguimos. Vocês brasileiros têm de entender, há coisas imprevistas que acontecem… O que justifica tanta expectativa pela luta? Vejam o que Chael fez com o Anderson Silva naquela primeira luta. Ninguém nunca chegou perto de fazer aquilo com o Anderson Silva. O Chael Sonnen bateu no Anderson Silva por cinco rounds, e com um minuto e meio faltando, foi pego num triângulo. Então… Essa é a coisa mais importante de tudo, se você olhar para as lutas do Chael e tudo o que ele fez, é muito impressionante. E é por isso que essa é uma luta tão importante.

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