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‘Taxi’, do iraniano Jafar Panahi, vence o Urso de Ouro

Os chilenos “El Club” e “El Botón de Nácar” ganharam o Grande Prêmio do Júri e o Urso de Prata de roteiro, respectivamente

Por Mariane Morisawa, de Berlim
14 fev 2015, 16h50

Taxi, de Jafar Panahi, foi o ganhador do Urso de Ouro no 65º Festival de Berlim. “Panahi criou uma carta de amor pelo cinema. Seu filme é preenchido pelo amor por sua cultura, seu povo e seu país”, disse Darren Aronofsky. O diretor está banido de fazer cinema por 20 anos no Irã. A sobrinha do cineasta, a pequena Hana, subiu ao palco para receber o prêmio, chorando.

O Grande Prêmio do Júri, espécie de segundo lugar, foi para El Club, dirigido pelo chileno Pablo Larraín.

O Urso de Prata de direção teve dois vencedores: o romeno Radu Jude, por Aferim!, e a polonesa Malgorzata Szumowska, por Body. “Sou cineasta e também mulher, o que acho uma boa combinação”, disse Szumowska.

Leia também: ‘Táxi’, do iraniano Panahi, leva prêmio da crítica na Berlinale

A melhor atriz foi Charlotte Rampling, por 45 Years, de Andrew Haigh. “A primeira vez que ouvi falar de Berlim foi porque meu pai esteve aqui em 1936 e ganhou uma medalha na Olimpíada. Sempre fui muito competitiva, então, acho que este Urso de Prata serve!”, afirmou Rampling. Seu pai era o corredor Godfrey Rampling. Seu colega de elenco no filme, Tom Courtenay, levou o Urso de Prata. “Meu amigo Albert Finney ganhou este prêmio em 1984, então só levei uns 30 anos para alcançá-lo”, disse o ator inglês.

O melhor roteiro foi para o chileno Patricio Guzmán, por El Botón de Nácar, dirigido por ele mesmo.

O Urso de Prata para contribuição artística foi para a fotografia de Sturla Brandth Grøvlen para Victoria, dirigido por Sebastian Schipper. O júri decidiu dar um segundo Urso de Prata para contribuição artística para a fotografia de Evgeniy Privin e Sergey Mikhalchuk para Pod Electricheskimi Oblakami (ou Under Electric Clouds), de Alexey German Jr.

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O Urso de Prata Alfred Bauer, dado a um longa-metragem que abre novas perspectivas, foi para Ixcanul, do guatemalteco Jayro Bustamante. O diretor subiu ao palco acompanhado pelas duas atrizes, María Mercedes Coroy e María Telón.

O cineasta americano Darren Aronofsky (Noé, O Lutador) foi o presidente do júri da competição, que contou também com o ator alemão Daniel Brühl, o cineasta sul-coreano Bong Joon-ho, a produtora americana Martha de Laurentiis, a cineasta peruana Claudia Llosa, a atriz francesa Audrey Tautou e o produtor e roteirista americano Matthew Weiner, criador da série Mad Men.

O mexicano 600 Millas, de Gabriel Ripstein, foi eleito o melhor filme de estreante. O júri do prêmio foi formado pelo cineasta mexicano Fernando Eimbcke, o documentarista americano Joshua Oppenheimer e a atriz ucraniana Olga Kurylenko.

Entre os curtas-metragens, o Urso de Ouro foi para HOSANNA, do sul-coreano Na Young-kil, e o Urso de Prata, para Bad at Dancing, da americana Joanna Arnow. A produção francesa Planet Zygma, de Momoko Seto, recebeu menção especial.

O brasileiro Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, foi o preferido do público na mostra Panorama.

Balanço – Na média, não foi um mau Festival de Berlim. Verdade que nenhum dos 19 longas-metragens concorrentes parece ter chances de repetir a trajetória de Boyhood – Da Infância à Juventude, de Richard Linklater, e O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, que saíram da Berlinale para a lista de concorrentes ao Oscar. Mas o Oscar não é a única medida para a qualidade, afinal.

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Vários filmes da competição do 65º Festival de Berlim têm tudo para figurar entre os melhores do ano. Os latino-americanos foram um grande destaque. El Club, de Pablo Larraín, sobre padres que cometeram crimes confinados numa casa, e El Botón de Nácar, de Patricio Guzmán, que relacionou os povos indígenas da Patagônia com os desaparecidos do regime militar, indiscutivelmente estavam entre os melhores do festival. Ixcanul, de Jayro Bustamante, coprodução entre Guatemala e França, tratou os costumes maias sem exotismo.

O iraniano Taxi surpreendeu por usar o humor para tratar da dura situação do país, que vitimou o próprio diretor Jafar Panahi, banido de fazer cinema por 20 anos. O italiano Vergine Giurata, de Laura Bispuri, tratou com delicadeza um tema original: uma mulher que, para conseguir sua liberdade, resolve vestir-se de homem, usando a lei do Kanun, observada em algumas aldeias albanesas. O vietnamita Cha Và Con Và, de Phan Dang Di, falou com sensibilidade de jovens à deriva, à beira da marginalidade, e suas descobertas sexuais. 45 Years, do inglês Andrew Haigh, estampou nos gestos minúsculos a decepção de Kate (Charlotte Rampling) com seu marido há 45 anos, Geoff (Tom Courtenay), que manteve vários segredos sobre seu passado. O romeno Aferim!, de Radu Jude, contou a história da escravidão de ciganos na região, no século 19.

Tirando Guzmán e Panahi, veteranos premiados, os outros são todos cineastas jovens. Jayro Bustamante e Laura Bispuri fazem suas estreias em longas-metragens, Andrew Haigh e Phan Dang Di estão no segundo filme, Radu Jude, no terceiro, e Pablo Larraín, no quinto. Todos têm menos de 40 anos, a não ser Haigh, com 41.

Na comparação, os veteranos decepcionaram, especialmente aqueles com uma obra de peso no passado. Terrence Malick ainda se sai bem com sua divagação poética e filosófica sobre amor e vazio interior em Knight of Cups. Não se compara, claro, a seus melhores trabalhos. Werner Herzog filma muito bem, como sempre, em Queen of the Desert, mas se perde nas cenas de amor e na interpretação de James Franco. Para quem já teve Klaus Kinski e Bruno Ganz entre seus musos, é uma escolha equivocada. Peter Greenaway também deu mostras de que seu estilo ficou ultrapassado lá na virada dos anos 1980 para os 1990 com seu Eisenstein in Guanajuato, sobre a passagem do cineasta russo Sergei Eisenstein pelo México, onde toma contato com uma cultura completamente diferente e assume sua homossexualidade.

Mas nenhuma competição fica completa sem algumas bombas ou quase-bombas, caso do alemão Victoria, de Sebastian Schipper, duas horas e quinze minutos de plano-sequência para dar conta de um encontro, conversas sem sentido, um início de romance e um assalto a banco mal planejado. Já o chinês Yi Bu Zhi Yao (ou Gone with the Bullets), de Jiang Wen, é tão absurdo, tão barroco, tão mais exagerado do que o mais exagerado dos filmes de Baz Luhrmann, que é daqueles momentos “que diabos está acontecendo aqui?”. Tão absurdo que quase chega a ser bom.

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