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Tarantino volta a transformar violência em arte em novo faroeste

Com seu oitavo filme, cineasta ecoa obras do passado e se mantém acima da média hollywoodiana

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jan 2016, 07h40

Entre os talentos de Quentin Tarantino, dois se destacam. O cineasta tem uma mão impressionante para escrever longos e afiados diálogos, que prendem a atenção do início ao fim, e são repletos de significados. Mas sua habilidade mais proeminente, sem dúvida, é a capacidade de produzir violência sanguinária com um inexplicável e até estranho tom de beleza. Em Os Oito Odiados, Tarantino se debruça sobre ambas as características com intensidade. A primeira, em especial, faz do longa uma peça de teatro de três horas de duração, em que todo o peso da trama fica sobre os ombros dos atores. E que atores…

Fã assumido de faroestes, Tarantino ambienta pela segunda vez seu roteiro em um período em torno da Guerra Civil americana. A nova produção, contudo, lembra mais o primeiro filme do cineasta, Cães de Aluguel, do que seu western anterior, Django Livre – vencedor do Oscar de melhor roteiro original. Assim como em seu longa de estreia, de 1992, Tarantino enclausura um grupo de pessoas de índole duvidosa em um ambiente suspeito e coloca à prova as intenções dos presentes.

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O local é o armazém da Minnie, primeiro abrigo contra a nevasca encontrado pelos viajantes que seguem rumo à cidade de Red Rock. O ótimo Samuel Jackson é o caçador de recompensas Marquis Warren, que surge, inicialmente, no meio da neve, com três corpos de procurados pela Justiça. Na estrada, ele interrompe o caminho de uma diligência, pedindo por carona, já que seu cavalo morreu. No veículo está outro caçador, John Ruth (Kurt Russell), e sua prisioneira, Daisy (Jennifer Jason Leigh) – que tem a cabeça colocada a prêmio por 10.000 dólares.

A mulher, já de olho roxo e outras escoriações no rosto, tem feições sinistras e uma língua afiada, que ela não segura, mesmo sendo punida por seu carrasco a cada palavra atravessada. A diligência, conduzida por O.B. (James Parks), ganhará mais um passageiro quando a dupla de caçadores se vê obrigada a dar carona a Chris Mannix (Walton Goggins), que afirma ser o novo xerife de Red Rock, responsável por pagar as recompensas de ambos.

O clima hostil leva o grupo a parar no armazém da Minnie, onde a tal Minnie não está. No lugar dela, um mexicano (Demián Bichir) é o encarregado do local, que já abriga três outros viajantes: o carrasco itinerante Oswaldo Mobray (Tim Roth), o caubói calado Joe Gage (Michael Madsen) e o general confederado Sandy Smithers (Bruce Dern). Detalhes tentam dizer que algo aconteceu ali, porém, pouco revelam.

São longos os minutos de tensão, mesmo quando tudo parece estar bem. Aos poucos, Tarantino deixa claro que uma explosão de emoções está prestes a acontecer. É quase um thriller psicológico. Antes dos verdadeiros disparos das armas de fogo – o que não é spoiler, afinal, trata-se de um Tarantino – cada palavra dos diálogos funciona como uma bala, direcionada à vítima que terá pouco tempo para devolvê-la a seu agressor.

Dividido em seis capítulos, o longa passa por um marasmo durante a terceira parte, para se recuperar quase no final, com o flashback que ilustra os mistérios da trama. Entre as reviravoltas, Tarantino surge como narrador, com falas cômicas, explicando o momento. Recurso no mínimo divertido.

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Oitavo filme da carreira do cineasta, Os Oito Odiados é, por assim dizer, um apanhado da obra de seu criador. A repetição de recursos, contudo, não interfere na qualidade da obra. O longa é charmoso, o elenco impecável e as discussões contemporâneas. Apesar de não merecer um lugar entre os melhores da filmografia do diretor, a produção passa no teste de qualidade. Até quando é mais ou menos, Tarantino continua acima da média.

‘Cães de Aluguel’ (1992)

Quentin Tarantino estreou como diretor em 1992, com o filme Cães de Aluguel. A história é sobre um grupo de bandidos contratados por um grande criminoso da região, Joe Cabot (Lawrence Tierney), que tenta assaltar uma joalheria. Nenhum dos integrantes da quadrilha se conhece e um não sabe nem mesmo o nome do outro. Com o fracasso do crime, os sobreviventes se encontram em um armazém próximo ao local, previamente combinado. O que se sucede é uma troca de acusações e um clima de tensão, que aumenta quando Mr. Pink (Steve Buscemi) revela sua desconfiança de que teria um policial disfarçado entre eles.

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‘Pulp Fiction: Tempo de Violência’ (1994)

O segundo filme do diretor se transformou em um dos maiores clássicos do cinema contemporâneo. A trama é contada em ordem não-linear, de modo que o espectador muda sua ótica em relação aos acontecimentos a medida que o filme avança. O enredo é, inicialmente, sobre dois matadores de aluguel, Vicent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), que trabalham para o criminoso Marsellus Wallace (Ving Rhames). A dupla se envolve com outros personagens ao longo da trama, como o boxeador Butch (Bruce Willis) e Mia Wallace (Uma Thruman) – esposa do gângster. O longa conta com algumas das cenas mais famosas do cinema, como a dança de Mia e Vega em uma lanchonete. O filme levou o Oscar de melhor roteiro original em 1995.

‘Jackie Brown’ (1997)

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A aeromoça que dá nome ao filme, e é vivida por Pam Grier, é uma traficante de dinheiro ilegal para os Estados Unidos e possui uma relação estranha com o vendedor de armas Ordell (Samuel L. Jackson). Ele usa a companheira para realizar suas transações criminosas. Após ser pega, a Polícia Federal oferece um acordo para que ela entregue todos os criminosos envolvidos no esquema, o que a faz pensar em um plano para sair por cima de todos. O longa marca a segunda parceria entre Jackson e Tarantino

‘Kill Bill’ (2003 e 2004)

O filme, lançado em dois volumes, é considerado pelo seu diretor como um só. A história é sobre uma noiva grávida – que não tem seu nome revelado -, vivida por Uma Thruman, que é traída por seu parceiro, Bill (David Carradine), e seus amigos no dia do casamento: todos tentam matá-la. Ela fica em coma por anos. Quando finalmente acorda, parte em busca de vingança. Fã declarado de filmes de artes marciais, Tarantino explorou exaustivamente o gênero na história, que, como as outras do cineasta, conta com bons litros de sangue derramados ao longo das mais de 4 horas das duas partes.

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‘À Prova de Morte’ (2007)

Três amigas – vividas por Rosario Dawson, Zoe Bell e Sydney Tamiia – saem para beber em uma cidade no Texas. No bar escolhido por elas há um estranho homem: Stuntman Mike (Kurt Russel). O maluco decide perseguir as garotas em seu carro à prova de morte – que mais parece um tanque de guerra. A perseguição incessante resulta em um filme de ação em alta velocidade. Apesar de interessante e intenso, o longa é considerado um dos mais fracos da filmografia do cineasta. 

‘Bastardos Inglórios’ (2009)

Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de judeus americanos, liderados por Aldo Raine (Brad Pitt), sai pela Europa matando nazistas. Ao descobrir que haverá uma exibição de um filme em Paris que contará com a presença de Hitler (Martin Wuttke), o pelotão monta uma missão para matar todos os que estarão dentro do teatro. O local é propriedade da judia Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent), que vive disfarçada na capital francesa e também vê na oportunidade uma chance de se vingar do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), que matou toda a sua família anos atrás, e estará presente no evento. O longa levou o Oscar de melhor ator coadjuvante, concedido para Waltz.

‘Django Livre’ (2012)

Tarantino se aventurou em um novo gênero em seu sétimo filme: o faroeste. A trama, que se passa alguns anos antes da Guerra Civil americana conta a história do escravo Django (Jamie Foxx), que é comprado pelo alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz), um assassino de aluguel que finge ser um dentista. A compra, entretanto, não passa de um plano, já que o caçador de recompensas quer o escravo apenas para ajudar na sua missão e promete libertá-lo quando essa for cumprida. Os dois se tornam amigos e vão juntos à fazenda de algodão do rico Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), a fim de libertar Broomhilda (Kerry Washington), esposa de Django, que trabalha como escrava no local. O filme venceu dois prêmios no Oscar: melhor roteiro original e de ator coadjuvante, novamente pela atuação do austríaco Christoph Waltz.

‘Os Oito Odiados’ (2015)

O diretor volta ao faroeste em seu oitavo longa que começa com a história dos caçadores de recompensa Marquis Warren (Samuel L. Jackson) e John Ruth (Kurt Russel). O último está levando a procurada Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) à uma cidadezinha, onde ela será enforcada e ele receberá o prêmio de 10.000 dólares. No caminho, eles encontram Chris Mannix (Walton Goggins), que afirma ser o futuro xerife da cidade para onde a diligência caminha. O grupo segue viagem, mas tem que parar em um armazém no meio das montanhas devido a uma forte nevasca. Lá eles encontram outros hóspedes e um mexicano (Demián Bichir), que afirma ser o responsável pelo local enquanto a proprietária visita a família. O clima entre os desconhecidos se torna tenso e aumenta até explodir em um banho de sangue.

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