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Shawn Mendes e os herdeiros de Justin Bieber

O ciclo da música pop trouxe uma nova leva de astros adolescentes que usam a internet como plataforma para angariar fãs e chamar a atenção das gravadoras

Por Vivian Carrer Elias
Atualizado em 22 fev 2017, 17h14 - Publicado em 14 Maio 2016, 10h17

Um jovem canadense boa pinta, de voz afinada e com um violão na mão decide cantar músicas de outros artistas e faz sucesso na internet. Em pouco tempo, é descoberto por uma gravadora que o torna uma celebridade meteórica do mundo pop. Com jeito de bom moço e cabelos milimetricamente penteados, cativa uma multidão de fãs dedicadas e raivosas, que usam as redes sociais como campo de batalha para defender o ídolo.

O resumo do início da carreira de Justin Bieber, canadense descoberto por uma grande gravadora aos 14 anos, quando publicava covers no Youtube, não é mais exclusividade do rapaz, hoje com 22 primaveras completas. A história descrita acima pertence também a outro adolescente bonitinho, de tenor ligeiro e um violão na mão: Shawn Mendes, quatro anos mais novo que Bieber. São tantas as semelhanças entre a trajetória de ambos que compará-los é inevitável. Enquanto Mendes ainda vive o início de sua ascensão como celebridade, Bieber passou dessa fase. Como é de conhecimento geral, a franja arrumadinha se despenteou, e o cantor teen viveu dias de rebeldia. Agora, ele caminha para um amadurecimento pessoal e musical. Sim, Justin Bieber está mais velho – e já tem herdeiros.

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O grande discípulo – Há três anos, Shawn Mendes era um estudante entediado e com pouca experiência no violão. Diante das poucas opções de entretenimento que o condado de Pickering, subúrbio de Toronto, oferecia, e munido de um celular com acesso à internet, ele passou a compartilhar covers caseiros no Vine, rede social que armazena vídeos de até seis segundos. Seu repertório incluía artistas como Taylor Swift, Beyoncé e – adivinhe? – Justin Bieber. Em alguns meses, o adolescente conquistou milhares de fãs na plataforma (que já são 4,7 milhões) e hoje, aos 17 anos, tem um currículo que inclui de shows em estádios com ingressos esgotados em minutos a hits com lugar cativo entre as canções mais populares do momento.

A faixa Stitches é um exemplo. A canção, parte do disco Handwritten, o primeiro do cantor, chegou ao quarto lugar entre as mais ouvidas nos Estados Unidos em novembro de 2015. Ela soma mais de 480 milhões de execuções no Spotify e, até abril deste ano, continuava entre as vinte mais ouvidas no site de streaming no território brasileiro. Seu clipe oficial foi visto mais de 440 milhões de vezes no YouTube. E, como todo hit, a música também ganhou dezenas de covers – feitos por outros jovens aspirantes a cantores. O mundo gira.

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Mendes se encaixa na mesma fôrma que produziu outros tantos ídolos musicais adolescentes nas últimas décadas. É bonito, alto (1,85m) e ostenta sorriso largo e cabelos sempre sedosos e penteados. Educado, charmoso e carismático, canta sobre o amor e as desilusões, temas que causam empatia nas fãs tão jovens quanto ele. Tais atributos um dia fizeram de John Lennon, por exemplo, o sonho das meninas da década de 1960.

O que diferencia Mendes dos demais ídolos jovens do passado é a velocidade espantosa, promovida pela internet e pelo atual engajamento das redes sociais, que o impulsionou ao estrelato. Se, antes, cantores passavam meses fazendo shows em espaços escondidos na tentativa de divulgar seu trabalho autoral, os músicos adolescentes de hoje chegam verdes ao palco. Muitos deles não têm canções próprias no repertório e nem se apresentaram fora de seus quartos quando assinam um contrato com uma gravadora.

“Essa é uma realidade do mercado atual. A geração Youtube está em sua casa aprendendo a cantar e postando seus vídeos. Muita gente talentosa pode aparecer mais facilmente. Claro que esses artistas exigem um trabalho de desenvolvimento de carreira porque, na maioria das vezes, não têm experiência”, explica o produtor musical Rick Bonadio, parceiro de nomes como NX Zero e CPM 22, ao site de VEJA.

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O pioneiro – Foi Justin Bieber o principal expoente a puxar a fila de artistas descobertos precocemente na internet. Quando migrou do YouTube para uma gravadora, em 2009, provou que celebridades virtuais podem, sim, se dar bem na indústria musical. Com seu primeiro CD completo, My World 2.0 (2010), o canadense quebrou um recorde batido por Stevie Wonder em 1963 e se tornou o artista mais jovem a emplacar um disco de estreia no topo da parada americana Billboard.

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Em 2015, Mendes encostou na marca de seu conterrâneo. Seu primeiro disco, Handwritten, também estreou no topo da Billboard 200. Mendes tinha 16 anos e 8 meses, Bieber, quando conseguiu o recorde, tinha 16 anos e 2 meses. Por um detalhe técnico, o discípulo não superou o mestre.

Outras “coincidências” equiparam a carreira de ambos. Por exemplo, Mendes se destacou no Vine depois de compartilhar um cover de As Long As You Love Me, canção de Bieber. “Eu estava entediado e não tinha nada para fazer. Foi uma surpresa. No dia seguinte eu acordei e meu perfil havia decolado”, disse ele à Billboard. O caso motivaria uma rápida troca de farpas entre os dois no ano passado. Mendes, seguro da popularidade do cover, disse que com certeza o colega teria visto o vídeo. Bieber, contudo, quando questionado sobre o assunto, respondeu: “Quem é Shawn Mendes?”. Mais tarde, o cantor pop pediria desculpas pelo comentário. Com razão…

Até porque, as apresentações caseiras de Mendes chamaram a atenção da gravadora Island Records – a mesma de Bieber -, que o convidou para uma reunião em Nova York, mesmo sem ter ouvido um trabalho autoral do adolescente. Lá, o rapaz revelou que também havia escrito algumas músicas. “Desde o início, ele insistiu no fato de que gostaria de ser um compositor. Quando ouvimos suas letras, ficamos animados. Ele é naturalmente talentoso”, contou o empresário Andrew Gertler à Rolling Stone americana, que recentemente publicou um extenso perfil do garoto. Mendes assinou com a gravadora em 2014 e lançou o seu primeiro álbum em abril do ano seguinte.

Outros herdeiros – Fazer sucesso na internet com covers e angariar milhões de seguidores não significa que um artista necessariamente dará certo na tumultuada indústria fonográfica. “Uma carreira artística é feita de shows, que dependem de fãs que pagam pelo ingresso e que saem de casa para ver o cantor. É diferente de ligar a câmera e cantar uma música que já é conhecida”, diz Dudu Borges, produtor musical, ao site de VEJA. “Shawn Mendes provou seu potencial. Ele tem carisma e é talentoso. A internet foi apenas uma ferramenta para ele ser notado”.

A poderosa plataforma de lançamento também ajudou na promoção de outros jovens cantores cujas carreiras vão muito bem, obrigado (veja lista abaixo). Mas se encaixar no padrão de aparência e mensagem também se mostrou importante. Prova de que a velha fórmula de concepção de artistas pop continua, apesar dos avanços tecnológicos.

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O americano Austin Mahone, 20 anos, e o australiano Cody Simpson, 19, por exemplo, também foram descobertos fazendo covers no YouTube. Austin adota um estilo mais parecido com o de Bieber, com músicas dançantes, roupas de adolescente descolado e pose de conquistador. Já Cody parece com um surfista e se comporta como tal, optando por canções mais calmas nas quais pode exibir seus dotes como guitarrista.

Outro astro pop que surgiu da rede de vídeos é Troye Sivan, 20. O seu caso é curioso porque ele já fazia sucesso no YouTube antes de assinar com uma gravadora, mas não com apresentações musicais, e sim com vlogs cotidianos, nos quais falava sobre assuntos pessoais. Em um deles, visto mais de 6 milhões de vezes, o rapaz assume ser gay.

Em busca da maturidade – Uma das consequências de se tornar celebridade tão cedo é encarar o processo de amadurecimento pessoal e musical diante dos olhos do público. É um processo complicado. A rebeldia de Bieber que o diga.

Mendes, à Rolling Stone, confessou que já não aprecia algumas músicas de seu álbum, apesar de ele ter sido lançado há apenas um ano. “Eu sou muito, muito amador”, disse. “Há tanta expectativa ao meu redor, e é muito difícil corresponder a elas. Isso tem sido um grande stress na minha vida. Nunca senti que era bom o suficiente, somente agora começo a sentir que mereço tudo isso.”

Para o produtor Rick Bonadio, é normal – e essencial – que o artista se atualize e amadureça sem perder a mão. “Bieber se manteve no pop, mas está mais adulto nos temas das letras e arranjos. Isso aconteceu para ele ser mais respeitado. É algo natural e necessário, ou o artista repete sempre as mesmas fórmulas”.

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Goste ou não, Bieber já deixou sua marca na música pop mundial. Se seus herdeiros conseguirão o mesmo feito, só o tempo dirá. Mendes, por exemplo, parece se dedicar mais às redes sociais do que à música. Mas ele ainda é bem jovem e cresce em uma época que a vida virtual chega a ser mais relevante que a real. “O meu maior medo é que, um dia, nem tantas pessoas apareçam no show ou que, um dia, nem tantas pessoas curtam meus posts no Twitter. O que é engraçado de dizer, mas é verdade”, revela o jovem, expondo as ansiedades de ser um adolescente no século XXI. Ainda mais um adolescente celebridade.

Shawn Mendes

O canadense de 17 anos ficou conhecido na internet fazendo covers de nomes como Taylor Swift, Beyoncé e Ed Sheeran. Mas foi com uma versão de As Long As You Love Me, de Justin Bieber, que ele virou uma das maiores celebridades do Vine,  rede social que armazena vídeos de até seis segundos. Hoje, Shawn tem 4,7 milhões de seguidores na plataforma. O sucesso virtual do rapaz e seu potencial de se tornar um astro pop chamaram a atenção da Island Records (a mesma que descobriu Bieber), que apostou no adolescente. E deu certo: Stitches, maior hit do primeiro disco do cantor, Handwritten, chegou ao quarto lugar entre as mais ouvidas dos Estados Unidos. Bonito, simpático e acessível nas redes sociais, Shawn diz que sua maior inspiração é o britânico Ed Sheeran – e isso é visível. O canadense tem jeito de bom moço, está quase sempre com o violão na mão e tem o desejo de se firmar não só como cantor, mas também compositor.

Seguidores nas redes sociais:
Youtube:  3,7 milhões (canal da Vevo)
Instagram: 9,9 milhões
Spotify: 1,3 milhões

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Troye Sivan

O australiano ficou famoso na internet ao publicar vídeos sobre seu dia-a-dia no YouTube. Em um deles, que foi ao ar em 2013 e já foi visto mais de 6 milhões de vezes, Troye assume que é gay. No ano seguinte, ficou conhecido fora das redes sociais com o lançamento do EP TRXYE, fama que foi impulsionada por outros fatores: ele cantou uma música da trilha do filme A Culpa É das Estrelas e recebeu elogios públicos de Adele, Taylor Swift e Harry Styles, por exemplo. Em 2015, o jovem de 20 anos lançou Blue Neighbourhood, seu primeiro álbum de estúdio, que estreou nas paradas da Billboard na décima posição. O disco já soma 1 milhão de vendas no mundo e 15.000 no Brasil (físicas e em serviços de streaming). O CD é repleto de músicas lentas e intimistas, que falam principalmente de tristes términos de relacionamentos.

Seguidores nas redes sociais:
YouTube: 4,1 milhões (no canal pessoal); 1,4 milhões (canal da Vevo)
Instagram: 4,2 milhões
Spotify: 964.000

Austin Mahone

Aos 20 anos, o cantor do Texas, Estados Unidos, tem uma trajetória – e um estilo – similar a Justin Bieber. Ele chamou a atenção da gravadora Universal depois de publicar covers no Youtube e angariou fãs adolescentes com seu rostinho bonito, estilo descolado e talento para a dança. A fama fora da internet veio em 2012, quando lançou singles como Say Somethin, que tem uma melodia dançante típica de canções pop adolescentes, como as do próprio Bieber e da boyband One Direction. Já as letras tentam colocá-lo mais como um galanteador do que como um rapaz romântico. A carreira do jovem também decolou com parcerias: ele gravou com o rapper Flo Rida e Pitbull.  Os seus dois EPs, Extended Play (2013) e The Secret (2014), já somam 900.000 em vendas (físicas e em serviços de streaming) no mundo e 21.000 no Brasil.

Seguidores nas redes sociais:
YouTube: 1,5 milhões (no canal pessoal); 2,7 milhões (canal da Vevo)
Instagram: 9,1 milhões
Spotify: 511.000

Cody Simpson

O australiano de 18 anos é mais um exemplo de artista que publicava covers no YouTube até ser contrato por uma gravadora. Cody assinou com a Atlantic em 2010 e fez sucesso principalmente em seu país e nos Estados Unidos, que recebeu bem o estilo surfista do rapaz. No ano passado, ele rompeu com a gravadora para ter “liberdade criativa”, segundo ele. Da nova fase, saiu o álbum Free (2010) e o single Flower, que reforça suas habilidades com a guitarra e o gosto por melodias mais calmas e letras românticas. A vida pessoal do rapaz também costuma ser alvo de curiosidade, já que ele mantém amizades e affair com outras celebridades. Cody, por exemplo, já namorou a modelo Gigi Hadid, é amigo de Miley Cyrus e considera Justin Bieber, com quem anunciou uma parceria que nunca aconteceu, seu “irmão mais velho”.

Seguidores nas redes sociais:
Youtube:  938.000 (no canal pessoal); 64.000 (canal da Vevo)
Instagram: 3 milhões
Spotify: 367.000

Charlie Puth

Aos 24 anos e dono de um estilo mais retrô, o rapaz é um dos mais velhos na leva de novos astros adolescentes do pop. E é o mais completo também: além de cantor, o americano toca piano, compõe e produz canções. Foi descoberto depois de publicar covers no YouTube e de lançar trabalhos independentes. Em 2015, assinou um contrato com a Atlantic Records e emplacou uma série de hits que se tornaram onipresentes nas rádios. O primeiro foi Marvin Gaye, uma parceria com a cantora Meghan Trainor. Depois, Charlie co-escreveu e co-produziu See You Again, música que gravou com o rapper Wiz Khalifa para a trilha sonora de Velozes e Furiosos 7. A faixa ficou entre as mais ouvidas nos Estados Unidos em abril do ano passado. O lançamento do seu primeiro CD, Nine Track Mind, veio alguns meses depois, junto com o single One Call Away, que chegou ao 12º lugar nas paradas americanas.

Seguidores nas redes sociais:
Youtube:  2,5 milhões
Instagram: 2,1 milhões
Spotify: 518.000

Ross Lynch

Ross Lynch, 20 anos, ficou famoso ao entrar para o elenco de programas da Disney – plataforma que lançou boa parte das celebridades adolescentes das outras gerações, de Britney Spears a Selena Gomez. Em 2011, o cantor foi convidado para viver o músico Austin Moon na série Austin & Alley, do Disney Chanel. Ele cantou grande parte da trilha sonora da atração e as canções se tornaram hits famosos fora da TV. O público infantil de Ross no programa da Disney ajudou a alavancar a carreira da banda que ele formou com seus quatro irmãos em 2009, a R5. Um ano depois de ele estrear no canal, o grupo assinou com a Hollywood Records e lançou o disco Louder (2015), que ficou entre os mais vendidos no iTunes, da Apple, em dez países. O segundo álbum dos irmãos, Something Last Night, veio no ano passado e continuou colhendo frutos da fama de Ross. O CD chegou a sexto lugar nas paradas americanas em julho daquele ano e um dos seus singles, Smile, já foi visualizado mais de 17 milhões de vezes no YouTube.

Seguidores nas redes sociais:
Youtube:  1 milhão (canal da banda R5)
Instagram: 2,9 milhões
Spotify: 141.000 (perfil pessoal) e 332.000 (perfil da banda R5)

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