Garoto prodígio e crítico de Putin brigam por prêmios

Dois fortes candidatos a prêmios e uma decepção marcaram os últimos dias da competição do 67º Festival de Cannes, cujos vencedores serão conhecidos neste sábado.

O menino prodígio Xavier Dolan, de apenas 25 anos e já dono de uma obra bastante contestada, arrebatou o público com Mommy, seu quinto longa-metragem. O franco-canadense gosta de usar tintas fortes, e aqui não é diferente. Diane (Anne Dorval) é uma mulher de 40 e tantos anos, alegre e sexy, que precisa cuidar em casa do filho com déficit de atenção. Steve (Antoine Olivier Piton) acabou de ser liberado do colégio interno depois de cometer um ato de violência. A situação não é nada fácil: o dinheiro é curto, e Steve pode ficar bem violento. É num desses surtos que mãe e filho conhecem Kyla (Suzanne Clément), a vizinha da frente, uma professora que ficou com problemas de fala depois de um trauma emocional. Acabam formando uma família meio torta. Nos filmes de Dolan, não há meio termo: os personagens são fortes, a música está lá o tempo todo e há um bocado de gritaria e cenas extra dramáticas. No emocionante Mommy, porém, o cineasta mostra mais maturidade, ainda que cometa erros como a bobagem de ambientar a história num “Canadá fictício” para que ela possa funcionar. O elenco é forte candidato a prêmios.

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Rússia – Outro que entrou sério na disputa pela Palma de Ouro é o russo Leviathan, de Andrey Zvyagintsev. É a história de Kolia (Alexey Serebryakov), um mecânico casado com sua segunda mulher, Lilya (Elena Lyadova), e pai de Romka (Sergey Pokhodaev). Kolia começa a sofrer enorme pressão para vender sua propriedade, porque o prefeito (Roman Madyanov) quer tomar sua terra. Para combater essa ameaça, Kolia vai contar com a ajuda do seu amigo Dmitri (Vladimir Vdovichenkov), um advogado de Moscou. A trama é só um pretexto para Zvyagintsev poder falar do estado das coisas na Rússia sob Vladimir Putin, onde corrupção e abuso de poder são moedas correntes. Há pouco respiro em Leviathan e a história é contada em um estilo formal rigoroso e impactante, aliado a boas interpretações.

Decepção – Já o francês Olivier Assayas, que costuma fazer filmes cheios de vigor e vinha numa boa onda com a minissérie Carlos e com o filme Depois de Maio, decepcionou com o frio Clouds of Sils Maria, o último da competição. Juliette Binoche é Maria Enders, uma estrela cinquentona que ficou famosa por interpretar a personagem Sigrid numa peça de teatro. Cerca de trinta anos mais tarde, ela vê a jovem estrela Jo-Ann (Chloë Grace Moretz) tomar seu lugar como Sigrid, enquanto ela assume o papel mais velho, Helena. Maria também tem uma assistente, Val (Kristen Stewart, em boa atuação), que faz tudo, inclusive dar pitacos na sua vida amorosa e profissional. A relação entre Maria e Val espelha aquela entre Helena e Sigrid. Assayas discute fama, envelhecimento e sucesso num jogo de metáforas.