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Roteiro óbvio atrapalha beleza de ‘A Colina Escarlate’

Novo filme de Guillermo Del Toro se perde no excesso de didatismo, enquanto elenco desfila por cenas dignas de um clássico

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 out 2015, 11h00

Apelidado de mestre do horror, o mexicano Guillermo Del Toro é um diretor detalhista, sensível, que costuma oferecer bons roteiros aliados a estéticas impecáveis. Como provam alguns de seus filmes mais elogiados, como o terror A Espinha do Diabo (2001), a adaptação Hellboy (2004) e o esplêndido O Labirinto do Fauno (2006), vencedor de três estatuetas no Oscar. Com tal currículo, é de se espantar que A Colina Escarlate, seu novo longa, seja uma experiência tão convencional, que, apesar das belíssimas cenas e bons atores, peca pelos excessos do melodrama e do didatismo.

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Ambientado em Buffalo, Nova York, em 1901, o romance gótico é protagonizado por Edith (Mia Wasikowska), uma aspirante a escritora, filha do magnata da construção Carter Cushing (Jim Beaver). Edith perde a mãe durante a infância e é a matrona a primeira fantasma a visitar a jovem. Durante a noite, em um quarto que por si só já é de arrepiar, Edith chora na cama enquanto a mãe, um esqueleto preto com vestido e aura esfumaçada, suspira em seu ouvido o conselho: “Cuidado com a Colina Escarlate”. Logo, Edith diz na narração que descobriria tarde demais a importância do aviso.

Avessa aos eventos da alta sociedade, a garota trabalha na tentativa de emplacar seu primeiro livro, enquanto foge do amor, sentimento representado por seu amigo de infância, o bonitão Alan McMichael (Charlie Hunnam). Porém, em uma reunião no escritório do pai, ela conhece Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), um inventor inglês que tenta na América conquistar patrocínio para uma de suas máquinas, que extrai a argila vermelha, abundante no solo ao redor de sua casa na Europa, e a transforma em tijolo.

Cushing percebe que existe algo de errado com Sharpe e sua irmã, Lucille (Jessica Chastain). Afinal, só falta um painel pisca-pisca pendurado no pescoço da dupla, com a palavra “perigo”. O empresário recusa a oferta e, mais tarde, ao perceber a aproximação entre Thomas e sua filha, oferece aos irmãos um cheque em troca de sua partida. Edith fica arrasada com a notícia. Mas a dor do coração logo é substituída pelo luto, quando seu pai é misteriosamente assassinado. A jovem então se casa com Thomas e aceita se mudar para a residência dos Sharpe na Inglaterra.

O local é aquele tipo de cenário clichê de filme de terror. Porém, nas mãos de Del Toro, o feio se torna belo: uma mansão escura e em decomposição, com buracos no teto, por onde entram folhagens secas e neve; paredes e janelas tomados por plantas e mofo; e um piso que cede à lama avermelhada que corrói a casa e escorre pelas paredes do subsolo. Ao redor da propriedade, a argila “sangrenta” toma o chão, e no inverno penetra a neve, causando o efeito sinistro, como se um assassinato em grande escala tivesse ocorrido no local. Bem, e é mais ou menos isso mesmo.

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Apesar dos muitos avisos, do além e do plano físico, Edith chega inocente e apaixonada à mansão, diz não se importar com a falência da família e oferece sua herança para investir nos sonhos de Thomas. Já Lucille, do início ao fim, não disfarça sua personalidade duvidosa. Logo proíbe a Edith o acesso a todos os cômodos da casa, trancados com chaves protegidas por ela. De cara amarrada e roupas escuras, a irmã bizarra tem constantes acessos de ciúme do caçula. Relacionamento estranho, que contamina o casamento de Edith.

Em uma casa com aparência assombrada, nada mais conveniente que um constante desfile de seres desencarnados. As visões de Edith aumentam e ela passa a encarar vultos, pesadelos e aparições bastante concretas de fantasmas que viveram (e morreram) naquela mansão. A cada sensação ou pesadelo, Edith acorda no meio da noite, sem o marido ao lado, pega um candelabro, e sai pela casa escura. Atitude tão sensata quanto suas tentativas de encarar a cunhada carrancuda. Contudo, logo, Edith – e o espectador – se acostuma e deixa de temer os seres sobrenaturais.

O roteiro conduz a plateia pela mão, de forma excessivamente mastigada. A surpresa principal, não surpreende. E o terror, não assusta. Antes da metade do filme, todas as intenções dos personagens já estão bem claras. Rumores dizem que produtores e o estúdio teriam sido responsáveis por podar a criatividade de Del Toro. O próprio disse, ao site The Wrap, que Hollywood limita o potencial de filmes de terror.

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Seja lá de quem for a culpa, fica apenas a frustração do potencial jogado fora. Del Toro tinha em mãos um futuro clássico. Mas colocou em circuito um terror mediano e fácil de esquecer.

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