Pornô 3D ‘Love’ causa tédio do tamanho do ego de seu diretor
Franco-argentino Gaspar Noé se perde em projeto pretensioso, que não excita nem empolga
Quando Murphy (Karl Glusman) pensou em ter um filho, escolheu dar a ele o nome de Gaspar. E, ao conhecer o ex de sua namorada, Electra (Aomi Muyock), foi apresentado ao dono de uma galeria de arte chamado Noé. Zero coincidência, os dois nomes juntos compõem o do ególatra diretor de Love, espécie de pornô com história em cartaz desde quinta-feira no país. Pretensioso, o longa do franco-argentino mais conhecido pelo interessante projeto de Irreversível, que tem seu roteiro escrito de trás para a frente, se perde na grandiloquência do seu cineasta, que se arrisca até a atuar no filme – é ele mesmo quem faz o dono da galeria de arte.
LEIA TAMBÉM:
Kanye West lança clipe ‘inspirado’ em abertura de filme de Gaspar Noé
Pretensiosa, a proposta de Love é apresentada por Murphy, estudante de cinema que é uma espécie de alter-ego de Noé, a uma garota em uma balada. “Os filmes ou têm sexo ou têm amor. Quero fazer um filme de sexo sobre amor”, diz ele à menina, que na mesma hora o arrasta para o banheiro do bar, na frente de Electra. É mais ou menos nessa fase da relação de Electra e Murphy, aliás, quando os dois se abrem para a infidelidade e para experimentações como sexo com travesti ou uma visita a uma casa de suingue, que o casal começa a degringolar. A estudante de artes, que se dizia tão liberal, não tolera a notícia de que o namorado a traiu – e, pior, que engravidou a vizinha.
E assim Murphy acaba se casando com Omi (Klara Kristin), a loirinha que ele e a ex-namorada, a fim de realizar uma fantasia de ambos, colocaram juntos no meio do relacionamento dos dois. É durante um café da manhã no lar de Murphy e Omi que a história tem início. O estudante, que de maneira arrogante se apresenta aos outros como diretor de cinema, embora não tenha qualquer projeto realizado, recebe uma ligação da mãe de Electra. O telefonema cai na caixa postal, onde ele ouve a mensagem de que a ex-namorada está desaparecida há dois meses.
Omi dá uma saída com Gaspar, o filho dos dois, e deixa Murphy imerso em lembranças de sua relação com Electra, de quem ele gosta de verdade. O roteiro perpassa assim todo o relacionamento dos dois, a crise que levou à separação, os momentos felizes, as experiências com drogas, o dia em que se conheceram, as experimentações sexuais, a imensa DR (discussão da relação) etc. Não traça um arco, como Azul É a Cor Mais Quente (2013), de Abdellatif Kechiche, outro longa que chocou Cannes e que, vale dizer, se saiu muito melhor na tarefa de fazer um raio-x de uma relação permeado de cenas de sexo.
Além de cenas nada sensuais que fazem um uso pobre do 3D – a cena que de fato utiliza o recurso é, como se pode esperar, a de uma ejaculação -, tudo o que Love consegue apresentar ao espectador são diálogos sofríveis. É um pouco perdoável se pensarmos que os protagonistas são todos jovens universitários. Isso não justifica, no entanto. Há gente mais inteligente nas salas de aula. E nas salas de cinema. Que não vão querer ver esse filme.