Com mais de 30 anos de TV e figurinos de causar vergonha – nos anos 1980, ela vestiu peças verdadeiramente tenebrosas -, Xuxa enfrenta pela primeira vez uma forte oposição ao seu guarda-roupa. Isso porque, além de copiar o programa da americana Ellen DeGeneres, a brasileira resolveu replicar a imagem da apresentadora, adepta de cabelos curtos, terninhos e gravatas. Para parte dos fãs, Xuxa deixou de ser “feminina” e essa mudança seria um erro. Ela deveria, dizem esses mesmos fãs, abandonar o terninho e voltar ao vestido e às saias. A pressão sobre a apresentadora é tão grande que levou até Silvio Santos, no palco do Teleton deste ano, a dar pitaco contra as suas escolhas. Tamanha ingerência fez Xuxa desabafar no palco de seu programa, na última segunda-feira. “Não aguento mais”, disparou, em conversa com a atriz Luana Piovani, a quem disse invejar a maneira – curta e grossa – como responde a comentários inconvenientes.
É verdade que um artista é uma espécie de produto, consumido por pessoas que com ele se identificam, seja lá por que razão. Mas até onde vai a liberdade, e mesmo o direito, do fã de opinar e sugerir mudanças – alguns têm sido agressivos com Xuxa, lançando mão de ofensas para impor seu gosto – e se há algum limite para a autonomia do artista são questões que podem e devem ser discutidas. Ainda que produto, uma figura pública é, antes de tudo, uma pessoa.
Também é verdade que Xuxa não foi original ao adotar o visual – e o formato do programa – de Ellen DeGeneres. A atração que apresenta desde agosto na Record é uma cópia piorada do talk-show comandado por Ellen na TV americana. Recém-saída da Globo, a apresentadora também acenou e fez reverência, na sua estreia em nova emissora, a Hebe Camargo e Silvio Santos, do SBT, embora seu programa não mostre a força da atração de nenhum desses pares. Xuxa pode, portanto e sem dúvida, ser acusada de falta de criatividade. E seu novo visual pode, de fato, ser dito de inspiração masculina. Mas daí a ofendê-la por isso, como alguns chegam a fazer, vai uma boa distância.
Além de ter o direito de se vestir como bem entende e de querer ser julgada não pela embalagem, mas pelo conteúdo que oferece, este sim bastante questionável, Xuxa vem dando uma contribuição, talvez de forma involuntária, a uma discussão que está quente nos últimos tempos: a dos papéis atribuídos aos gêneros. Como expressão da população, a moda é, afinal, um terreno perpassado por questões sociais, e nesse caso não seria diferente. Em um mundo em que Thammys e Caitlyn Jenners lutam pela legitimidade de suas redefinições de gênero, para o assombro de uma parcela do público, e que estrelas de Hollywood põem na ordem do dia a briga pela equidade salaria entre homens e mulheres, por que Xuxa não poderia usar terninhos? Por que usar uma gravata faria dela um protótipo de homem? E, se ela desejasse isso, por que seria um problema?
Continua após a publicidade
Xuxa acerta em se manter firme na sua decisão e não aposentar o traje à la Ellen DeGeneres. Pode não demonstrar aquela personalidade toda, já que copia a americana, mas colabora para um debate bastante atual.
Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
a partir de R$ 2,00/semana*
ou
Impressa + Digital
Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
a partir de R$ 39,90/mês
*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.
PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis CLIQUE AQUI.