Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O modernista malogrado

Inédito de Mário de Andrade comprova sua mediocridade

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 jun 2015, 16h40

Entre tantos desdobramentos de sua carreira de polígrafo – contista, romancista, poeta, missivista compulsivo -, Mário de Andrade (1893-1945) escreveu crítica musical e até publicou uma Pequena História da Música. No entanto, o escritor paulista não tinha ouvido – não, pelo menos, para a prosa em língua portuguesa. Vícios cacofônicos já são patentes em sua mais conhecida realização, Macunaíma, e se tornam ainda mais dolorosos em Café (Nova Fronteira; 264 páginas; 34,90 reais). Esta obra inédita e inacabada chega agora às livrarias em edição de Tatiana Longo Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, renomado centro de culto a Mário de Andrade. A profusão de superlativos (fatigadíssima, extravagantíssimo) deixaria acanhado até o José Dias de Dom Casmurro. Ainda mais canhestro é certo fraseado que parece antecipar a pior escrita acadêmica dos atuais departamentos de ciências humanas (exemplo: “seres que adoram a posse pela permanência física ineludível do possuído”).

Mário de Andrade planejara uma obra caudalosa, de 800 páginas, mas sua misericordiosa preguiça o fez parar no segundo capítulo. O primeiro acompanha as desventuras de Chico Antônio, nordestino néscio e ingênuo – o clichê do “tipo popular” – que vai ganhar a vida em uma fazenda de café paulista. O segundo retrata a decadente família do dono da fazenda. Ao estilo do naturalismo do século XIX, os personagens são quase todos encaixados na moldura torta de algum estereótipo nacional, regional ou racial. Há todo um rebarbativo parágrafo sobre os hábitos higiênicos dos nordestinos, que poderia ser resumido em um velho e odioso lugar-comum: são pobres, mas limpinhos. Os interessados em especular sobre a sexualidade do autor devem ler a passagem em que Chico Antônio anda por São Paulo de mãos dadas com um recém-descoberto “companheiro íntimo” (mas a narrativa covarde recua da sugestão homoerótica: a dupla em seguida admira as pernas de uma mulher).

Café é um entre vários projetos literários que Mário de Andrade deixou inconclusos. Planejara também, por exemplo, uma obra de crítica intitulada O Pico dos Três Irmãos, dedicada aos poetas do modernismo que ele considerava mais bem realizados: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Em muitas faculdades de letras, acredita-se que o próprio Mário poderia ser o quarto irmão. Não, não é, nem de longe. A tardia publicação de Café terá o mérito de tornar mais clara esta realidade: Mário de Andrade foi um escritor medíocre.

Para ler outras reportagens compre a edição desta semana de VEJA no tablet, no iPhone ou nas bancas. Tenha acesso a todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no iba clube.

Outros destaques de VEJA desta semana

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.