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O Clique de 1 Bilhão de Dólares

Em um livro sobre o criador brasileiro do Instagram, Filipe Vilicic, editor de VEJA, retrata o vertiginoso mundo das startups que fazem fortuna da noite para o dia

Por Joel Pinheiro da Fonseca
26 jun 2015, 21h06

Na Sexta-Feira Santa de 2012, fechou-se um negócio histórico: a venda do Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos, ao Facebook, por 1 bilhão de dólares. Os dois sócios do aplicativo foram alçados ao Olimpo dos empreendedores multimilionários do Vale do Silício. Eram eles Kevin Systrom, americano, e Mike Krieger, brasileiro. Em O Clique de 1 Bilhão de Dólares (Intrínseca; 240 páginas; 39,90 reais ou 19,90 reais na versão eletrônica), Filipe Vilicic, editor de ciência e tecnologia de VEJA, usa o episódio como ponto de partida e de chegada para narrar a trajetória do brasileiro. A escolha da venda como o clímax pré-anunciado da narrativa dá à história de Krieger certa aura de predestinação: tudo o que ele fazia aproximava-o daquele bilhão. A impressão final do livro, contudo, é a oposta: a de que o sucesso depende de uma dose desconfortável de sorte.

De origem privilegiada, Michel Krieger (“Mike” nos Estados Unidos) passou a maior parte da vida no exterior e sente-se mais à vontade falando inglês do que português. Educou-se em uma cara escola americana de São Paulo e de lá foi para a Universidade Stanford. Dí­namo de trabalho e dedicação, Krieger, entre idas e vindas em diferentes startups do Vale do Silício, associou-se a Systrom para trabalhar na rede social Burbn. A função de carregar fotografias na rede, que era um detalhe do projeto, acabou se tornando, em uma virada decisiva, a função central do agora rebatizado Instagram. O sucesso foi imediato, e em menos de dezoito meses do lançamento o Facebook fazia sua proposta irrecusável.

Krieger tem, sem dúvida, enorme capacidade de foco, muita inteligência e criatividade, e trabalha duro. Não difere, contudo, de tantos outros empreendedores sem sucesso e, por isso, sem biografia. Como tantos outros, teve sua cota de oportunidades perdidas. Esteve próximo de fazer fortuna em um negócio brasileiro, quando colaborou na criação do site Peixe Urbano, mas deixou o projeto antes que ele estourasse, o que é comum no setor.

O Instagram, ele próprio uma mudança fortuita de rumo, não era revolucionário. Existiam outros aplicativos e redes sociais de fotos, e mesmo os filtros para tratar imagens, um de seus atrativos, não eram novidade. Poderia ter sido só mais uma na lista das redes sociais esquecidas. O mesmo vale para a negociação que culminou na venda para o Facebook: num mundo de valorações tão etéreas e pouco assentadas em critérios objetivos, números radicalmente diferentes seriam igualmente plausíveis. Três anos depois, ainda se discute se o preço pago foi alto ou baixo.

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Paira sobre toda a narrativa o espectro da crise das empresas pontocom no ano 2000. O primeiro florescimento da economia on-line se desmanchou da noite para o dia. Nada garante que o mesmo não possa acontecer nesta nova fase, na qual uma pequena startup como o Instagram pôde ser vendida por 1 bilhão de dólares não apenas sem nunca ter dado lucro, mas sem ter sequer gerado um centavo de receita. O próprio império do Facebook vive cotidianamente o medo de se tornar irrelevante.

Vilicic fez um bom trabalho de averiguação de fatos e de entrevista com as pessoas mencionadas na história. Sua evidente admiração por Krieger pode às vezes soar excessiva. Mas isso é um detalhe numa narrativa que, mais do que qualquer coisa, nos ajuda a conhecer, por meio de uma ponte brasileira, a história e a cultura do Vale do Silício, onde idealismo, ego e ambição caminham lado a lado, produzindo casos de sucesso e enormes frustrações.

Ocasionalmente, o autor arrisca incursões por temas controversos ligados ao mundo das redes sociais. Tratados de maneira curta mas eficaz, os possíveis efeitos das tecnologias em nossa mente deixam uma inquietação no ar. Os empreendedores sonham em melhorar o mundo, mas e se estiverem contribuindo para o empobrecimento mental da humanidade, para relações mais superficiais e para a diminuição da capacidade de concentração?

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A parte final do livro trata do Instagram pós-aquisição. Apesar das promessas de que ele continuaria independente, a “facebookização” (é o termo empregado por Vilicic) foi inevitável. A publicidade entrou, os termos de uso se tornaram menos protetores da privacidade e a abertura para novos empreendedores desenvolverem projetos ligados ao serviço foi cortada abruptamente. Na visão popular, uma rede social alternativa e “do bem” passou a integrar o império do mal.

O Clique de 1 Bilhão de Dólares é uma boa janela para os nomes e as grandes sagas que se desenrolam no Vale do Silício. Um campo de competição feroz, de gênios megalomaníacos, de transformações sociais e de cifras inacreditáveis, no qual o triunfo retumbante e o fracasso mais aterrador estão a um clique de distância.

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