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Novas heroínas invertem o jogo no cinema e na TV

A geração de meninas que hoje acompanha aventuras e contos de fadas terá histórias bem diferentes para repassar a suas filhas no futuro. Agora, são as garotas que lideram exércitos, como em 'Branca de Neve e o Caçador', enchem a cara como em 'Girls', e defendem a família, como em 'Jogo Vorazes'

Por Carol Nogueira
28 jul 2012, 14h28

Roupas, sapatos, brunchs chiquérrimos, affaires para matar o tédio. A imagem da mulher construída na última década em filmes e séries como Sex and the City não poderia ser mais distante da representação de hoje. Tomada de assalto pela geração Y, a produção atual para a tela e a telona está dominada por um novo tipo de heroína. Da Katniss de Jogos Vorazes às durangas de Girls, passando pela princesa que não quer casar do longa de animação Valente, da Pixar, nunca as garotas foram retratadas de modo tão firme, independente e divertido. Elas não esperam mais o príncipe encantado que venha salvá-las. Agora, são elas que salvam a pátria – ou a si mesmas do desastre financeiro.

Última a estrear no país, a série Girls, no ar pela HBO desde a última segunda-feira, tem o elenco centrado em garotas de 20 e poucos anos — outra diferença para a turma de Sex and the City, feita de balzaquianas. Mais: essas meninas, além (ou apesar) de se meter em roubadas e suar para pagar as contas, são (ou se pretendem) autossuficientes e seguras do que querem (ou do que não querem). As garotas de Girls sabem que lutar pelos ideais é mais importante do que acertar o tom da maquiagem. Elas são o ponto alto dessa enxurrada de lançamentos que rompe de vez com o padrão mulherzinha de feminilidade.

No cinema, esse novo tipo de menina ganha representação expressiva com Katniss (do best-seller que virou filme Jogos Vorazes), Merida (de Valente, a nova animação da Pixar/Disney) e a protagonista de Branca de Neve e o Caçador vivida por Kristen Stewart. As três representam um mesmo papel social: da jovem decidida e disposta a lutar – inclusive fisicamente, se preciso – para ter o que quer. Mais que um amor, a Branca de Neve de Kristen Stewart quer, como uma Electra atualizada, vingar a morte do pai e retomar seu poder. A divertida princesa Merida, por sua vez, luta contra o casamento arranjado pelos pais e pelo prolongamento indefinido da adolescência – sua jovialidade inclui encher a boca de comida e falar pelos cotovelos.

No caso de Katniss, o objetivo é salvar a irmã, tomando o seu lugar numa macabra competição de luta, e depois a si mesma nessa disputa em que a morte é o troféu dos perdedores. A heroína de Jogos Vorazes se tornou tão influente no imaginário popular que, segundo o jornal New York Post, o número de praticantes de arco e flecha, as armas da heroína, nos Estados Unidos cresceu 20% de dezembro, antes de o filme estrear, até agora.

Tampo infográfico heroínas geração Y
Tampo infográfico heroínas geração Y (VEJA)

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Transição – O fato de serem despachadas e guerreiras, no entanto, não faz dessas heroínas um produto acabado. Pelo contrário: o que essas séries e filmes exploram são personagens em um momento de dupla transição. Primeiro, porque estão no meio do caminho entre a adolescência e a vida adulta. Segundo, porque personificam uma mudança em curso na sociedade, em que a igualdade entre homens e mulheres atinge índices e formas inéditos.

Em plena fase de amadurecimento, as meninas de Girls, por exemplo, cometem erros hilários. Nas redes sociais, onde o programa marcava presença forte nos Estados Unidos até junho, mês em que terminou a sua primeira temporada, uma das expressões mais utilizadas pelo marketing da série é #mistakesGIRLSmake (erros que garotas cometem, em inglês). Entre esses erros, estão as escolhas de parceiros amorosos. Que são vários. Afinal, falamos aqui de uma geração que tem a oportunidade de morar com os pais até os 30 anos.

As protagonistas da série 2 Broke Girls, a comédia de maior sucesso na TV americana no ano passado, seguem esse perfil. A pobretona Max (Kat Dennings) e a ricaça Caroline (Beth Behrs), amigas que trabalham em um restaurante e sonham em abrir uma loja de cupcakes, dividem um apartamento sem ansiedade de subir ao altar. E Jess, personagem de Zooey Deschanel na divertida série New Girl, no ar desde setembro no canal Fox, é uma garota que levou um fora do namorado e passou a repartir uma casa com três marmanjos. Além de continuar solteira em meio a esses marmanjos, Jess mantém sua personalidade doce e engraçada, que lhe rendeu nos EUA o apelido de “adorkable”, uma mistura de “adorable” (adorável) com “dork”, uma espécie de nerd.

As comédias são um dos principais flancos da safra de novas heroínas. A gama atual de personagens femininas no humor é tão grande e boa que levou o Emmy, o maior prêmio da televisão americana, a indicar sete atrizes – são sempre seis – para a categoria este ano.

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Zeitgeist – Ao contrário do que se pode pensar, os maiores consumidores das séries com as “novas garotas” não são mulheres. Nem jovens. De acordo com a empresa americana de pesquisas Nielsen, 56% da audiência de Girls é composta por homens, 22% deles acima dos 50 anos. Os números mudam um pouco quando se toma o público dos serviços de vídeo on demand (VoD): aqui, 63% são mulheres, segundo a Rentrak, outra empresa especializada em medição de audiência. A diversidade do público atingido pela atração mostra que a mudança no comportamento das meninas não diz respeito apenas a elas mesmas. A mudança é maior. É uma transformação que está no ar, como um espírito da época — zeitgeist, na feliz expressão alemã.

“Quando começamos a passar Girls, queríamos atingir um público mais jovem, de 18 a 25 anos, mas foi uma surpresa perceber que outras pessoas estavam assistindo”, diz Luis Peraza, vice-presidente executivo de produção original da HBO América Latina. Segundo ele, a HBO americana investiu pesado na divulgação da série nas redes sociais justamente para fisgar uma plateia jovem, mas acabou recebendo um espectador inesperado. “Acho que isso acontece porque o programa fala de desejos humanos, mais que de qualquer faixa etária ou grupo social. E também porque muitos homens querem entender o universo feminino.”

Não foi só a HBO que “errou” a mira. Segundo Alexandra Barrera, diretora de pesquisa da Warner Bros América Latina, a comédia 2 Broke Girls se dirige a homens e mulheres adultos, mas desde a estreia o programa conquistou mesmo foi a plateia masculina. “O público do canal Warner, e o público de séries em geral, adora comédias marcadas por um leve sarcasmo e situações mundanas”, opina Alexandra. E isso, de fato, a vida das novas e descoladas heroínas tem de sobra. Para todos os públicos.

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