Os apaixonados que perdoem, mas poucos filmes são tão tediosos quanto Titanic. Na época em que foi lançada, a história romântica de narrativa épica – ou, como o diretor James Cameron gosta de chamar, “Romeu e Julieta num navio” – atraiu milhões de espectadores e se tornou a maior bilheteria da história do cinema. Hoje, passados quinze anos e já computados os seus ganhos com a versão 3D, o longa só perde para Avatar, do mesmo diretor (vide lista abaixo). Além de fenômeno comercial, o filme teve um desempenho notável no Oscar: indicado a catorze estatuetas, arrebatou onze. Que os fãs não levem a mal: Titanic é um filme bom. Mas se tornou chato por causa do entusiasmo que gerou nos anos 1990 – e que parece não acabar jamais.
Prova de que até hoje o filme continua com muitos fãs são os infindáveis lançamentos de DVDs com extras feitos nos últimos anos. Nesta sexta-feira, mais um deles chega às prateleiras, trazendo pela primeira vez a história na versão Blu-Ray e no formato 3D, que foi lançado no começo do ano em alguns cinemas e que, para ser visto em casa, requer um aparelho compatível.
Apesar de a conversão não mudar muito a experiência do filme – e não acrescentar nada para quem já o viu várias vezes -, o lançamento vale pelos extras. São mais de 2h30 de gravações de bastidores e cenas que foram deletadas da versão final do longa, de 1997, além de explicações surpreendentes sobre os efeitos visuais do filme, desenvolvidos em uma época em que a tecnologia não estava tão avançada.
Recentemente, Kate Winslet tem chamado a atenção por dizer em entrevistas que detesta rever suas cenas em Titanic — ela chegou a afirmar que sente engulhos ao ouvir a melosa música-tema do filme, gravada pela canadense Céline Dion. Segundo a atriz, que tinha 19 anos na época em que foi escalada para o filme, seu amadorismo é evidente na produção. Aos olhos da academia de Hollywood, pelo menos, ela melhorou. Kate já foi indicada seis vezes ao Oscar e venceu o prêmio como coadjuvante em 2008, por sua atuação em O Leitor.
A verdade é que Titanic tem aspectos vergonhosos para todos. Em uma das cenas do documentário inédito que foi produzido pelo canal National Geographic com James Cameron e vários atores do filme (com exceção de Leonardo DiCaprio, que na época estava gravando um filme), e também está no novo DVD, o diretor afirma que, se pudesse, voltaria no tempo e mudaria o discurso que deu quando levou o Oscar de melhor filme e direção. “Eu sou o rei do mundo, uhu!”, disse então, fazendo referência a uma fala do filme. “Se pudesse dar um conselho a qualquer pessoa que venha a ganhar um Oscar, seria: ‘Não faça citações a seu próprio filme'”, diz o diretor.
O problema de Titanic não tem nada a ver com o filme. A questão é que, a não ser que você tenha nascido depois do lançamento do longa ou se escondido em um buraco nos últimos 15 anos, você com certeza já assistiu a ele no mínimo uma vez, e sabe muito mais a seu respeito do que provavelmente gostaria. O mesmo acontece com a tal música-tema, My Heart Will Go On. Em entrevista ao programa da televisão americana Today, neste ano, a cantora Céline Dion admitiu que nem ela aguenta mais cantar a música.
No documentário que está no lançamento, Cameron conta que era tão desacreditado por colegas da indústria, antes do longa sair, que deixava uma lâmina de barbear sobre sua mesa, junto com um bilhete que dizia: “Use caso o filme seja uma droga”. Desnecessário dizer que Cameron nunca usou a lâmina de barbear. Mas, após 15 anos, Titanic – e seus fãs – poderiam dar algum descanso. O produtor Jon Landau quer o mesmo. “Poder voltar e fazer uma nova première de Titanic no começo do ano, no lançamento do filme em 3D, foi ótimo. Mas espero que sirva, também, como um encerramento para todos nós”, diz no documentário. Amém.