Nação Zumbi retorna às origens vinte anos depois do álbum ‘Da Lama ao Caos’
O grupo ícone do manguebeat lança novo trabalho e se reinventa no aniversário de duas décadas do lançamento de seu primeiro disco
A banda recifense Nação Zumbi tem dois motivos para celebrar 2014. O primeiro é o aniversário de vinte anos do disco Da Lama ao Caos, marco na música brasileira que apresentou o grupo ao país e popularizou o manguebeat, movimento pernambucano comparável à inovação trazida pela Tropicália. O segundo motivo é o lançamento do novo CD que traz o grupo às raízes e marca a reinvenção do manifesto iniciado por Chico Sciense.
Prova disso é o título do novo trabalho, batizado apenas como Nação Zumbi, tática usada por muitos cantores e bandas que retornam à sua essência ou lançam algo depois de muito tempo sem novidades. Mais direto e autocentrado impossível.
Após sete anos sem inéditas, os integrantes apresentam neste sábado, 7 de junho, o novo trabalho na casa de shows Baile Perfumado, no Recife. Em entrevista ao site de VEJA, o vocalista Jorge Du Peixe fala sobre o novo projeto e garante que a intenção não é se repetir, mas sempre amadurecer.
Quando começou a produção deste novo trabalho? Começamos em 2011, em um estúdio na casa de Lucio Maia (guitarrista). Sentamos para dar o “pontapé inicial” e passamos aquele ano moldando uma batida aqui outra acolá e alguns refrãos. Em 2012, começamos a gravar e, então, Pupillo e Lucio receberam o convite para participar da turnê da Marisa Monte. Demos um respiro na produção e colocamos para fora projetos paralelos, para só depois voltar ao disco e finalizá-lo agora em 2014.
Como compara o novo trabalho do Nação Zumbi com os anteriores? Cada disco é distinto um do outro. Isso mostra a evolução natural e maturidade musical da banda. Soar diferente é importante para nós, contudo, no fundo, a essência do que somos está ali. Digo que este é um disco de evolução. Claro que não podemos ser o que fomos há quatros anos – quiçá há três dias.
Até que ponto os projetos paralelos da banda, como Los Sebosos Postizos e Afrobombas, influenciaram nas batidas deste trabalho? É legal dar essa “transitada” por outros universos sonoros e encontrar outros músicos. Isso agrega coisas novas a cada disco que a gente lança. É bom sair um pouco do conforto da Nação Zumbi, que é a nave mãe, e sempre será, e tocar com outras pessoas e com outras intenções musicais.
Em 2014 o álbum Da Lama ao Caos completa vinte anos. Qual a importância desse trabalho para a cultura brasileira? Apesar dos vinte anos, Da Lama ao Caos é um disco atual. Ele trouxe uma gama de cultura originalmente pernambucana, como o maracatu, o frevo e a ciranda. Era uma época que se cantava muito em inglês e nós chegamos, com outras bandas como Skank e O Rappa que cantavam em português e usavam elementos nacionais. Também trouxemos o manifesto, aquele movimento utópico.
E a utopia acabou? Hoje estamos em outro tempo, outra época, outras possibilidades e outras intenções sonoras. Vivemos uma nova realidade. Com novas maneiras de mostrar a música e de se ouvir a música. Mesmo assim, ela continua como uma ferramenta de longo alcance e um poder muito forte.
Qual a principal lição que você aprendeu com o Chico? “A diversão levada a sério”. Isso é muito forte e rege a banda até hoje.
Como você enxerga o cenário cultural atual no Recife? A partir desse grito, há vinte anos, muita coisa aconteceu em termos profissionais da música: produtores, engenheiros, quantidade de estúdios, festivais, etc. A cena cultural continua a crescer. Vejo diversas bandas nascendo com boas ideias. Não só no Recife, mas em todo o Brasil.
O Nação Zumbi, mesmo com todas as mudanças, continua seguindo as suas raízes? Sem dúvidas. Somos pernambucanos. Só que a ideia é a evolução natural. A música é elástica, ela propicia tudo isso. A mudança é importante e primordial. Mas a essência do começo está ali, está tudo ali.
O single Cicatriz fala sobre as cicatrizes da vida. Seria uma homenagem a Chico Science? É engraçada a repercussão que essa música teve e as teorias que surgiram sobre ela. Eu prefiro deixar livre a interpretação. Mas ela está sim ligada à história da banda.
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