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Morre o humorista Jorge Loredo, criador do Zé Bonitinho, 89

Suas tiradas como o conquistador feio provocam inúmeras gargalhadas dos espectadores do programa 'Noites Cariocas', na antiga TV Rio

Por Da Redação
26 mar 2015, 11h10

Criador do famoso personagem Zé Bonitinho, feio, de voz nasalada e de gestos robóticos, o ator Jorge Loredo morreu na manhã desta quinta-feira, 26, no Rio de Janeiro, aos 89 anos. Ele estava hospitalizado desde o dia 3 de fevereiro no Hospital São Lucas, no Rio. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos. O velório ocorre nesta sexta-feira, 27, no Memorial do Carmo, Caju, na capital carioca.

O canal SBT divulgou uma nota oficial sobre Loredo. “O SBT lamenta a perda do ator e humorista Jorge Rodrigues Loredo”, diz o comunicado. “Loredo faz parte da história da emissora desde setembro de 2001, quando ingressou no elenco principal do humorístico A Praça é Nossa onde sempre encarnou seu o hilário Zé Bonitinho. Sua última participação no programa aconteceu no dia 8 de março de 2012, porém permaneceu funcionário do SBT até esta quinta-feira.”

Jorge Loredo nasceu em Campo Grande, no dia 7 de maio de 1925, e não parecia que viveria muito tempo. Aos 12 anos, foi diagnosticado com osteomielite na perna esquerda, doença que provocava uma dor constante e só foi curada na década de 1970. Como reflexo, Loredo foi um garoto tímido e introvertido. Quando completou 20 anos, foi internado em um sanatório com diagnóstico de tuberculose. O que para muitos representaria o fim tornou-se uma nova opção de vida – incentivado por médicos, Loredo ingressou em um grupo teatral no próprio hospital, onde descobriu sua vocação de ator.

Após receber alta, um teste vocacional identificou uma tendência para “atividades exibicionistas”. Mesmo assim, Loredo procurou uma escola de teatro em busca de papéis “sérios”, mas, contra a sua vontade, sua primeira audição foi para representar o monólogo cômico Como Pedir uma Moça em Casamento. Aprovado, não lhe restou alternativa se não adotar o humor como profissão. Surgiram assim personagens que se tornaram clássicos como o mendigo filósofo da Praça da Alegria, criado no final dos 1950 – era um vaidoso e esnobe que a todos tratava de “meu nobre colega”.

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O grande sucesso veio em 1961, com o surgimento de Zé Bonitinho, personagem que marcou definitivamente sua carreira. O motivo era o jogo de contradições: apesar de visivelmente um homem feio, com imensos óculos e um bigodinho delgado, Bonitinho justificava o apelido e era o terror das mulheres. Suas frases de efeito (“Mulher para mim é igual parafuso: é no arrocho”) e os motivos de seu cansaço (“Hoje beijei 999 mulheres e estou com a boca mole”) provocaram inúmeras gargalhadas dos espectadores do programa Noites Cariocas, na antiga TV Rio. Zé Bonitinho depois apareceria em uma série de programas de TV, como A Praça É Nossa, do SBT.

“Para mim, Jorge Loredo foi um colega de trabalho exemplar”, diz Carlos Alberto de Nobrega. “Mesmo doente, ele chegava ao SBT, ia até o ambulatório para receber oxigênio e, assim que podia, fazia sua gravação. Retornava ao ambulatório para mais uma sessão de oxigênio e em seguida voltava ao Rio de Janeiro aonde residia. Respeitávamos essa atitude porque essa era a vontade dele. Loredo irá nos fazer muito falta”, finaliza o humorista.

https://youtube.com/watch?v=haSElgCMFSc

Segundo Loredo, a inspiração veio de um amigo metido a garanhão, chamado Jarbas. “Ele era uma figura, cantava todas as mulheres, parava em frente ao espelho para pentear o bigode. Eu o imitava nas festas e as pessoas se divertiam muito”, contava.

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O personagem agradava também os chamados intelectuais, a ponto de o cineasta Rogério Sganzerla ter se inspirado em Zé Bonitinho para criar as histórias dos filmes Sem Essa, Aranha (1970) e O Abismo (1978).

Trabalho jurídico — Apesar do sucesso, Jorge Loredo nunca se iludiu com a fama. Tanto que, durante a semana, trabalhava como advogado, especializado em previdência social. Em 2001, ele garantia que muitas vezes viu sua renda totalmente atrelada ao trabalho jurídico, uma “retaguarda financeira” que o salvou muitas vezes de situações difíceis. “A TV é inconstante: hoje você está empregado e famoso, amanhã nem lembram seu nome”, dizia. “Atualmente, quase tudo o que ganho vem do meu escritório. Suspiro aliviado quando lembro que tenho outra profissão.”

Jorge Loredo não gostava de misturar o personagem Zé Bonitinho com sua carreira de advogado, mas contava que perdera a quantidade de vezes em que flagrou um cliente com vontade de rir só de olhar para sua cara. “No meu escritório, adoto uma conduta séria para não confundirem as coisas, e evito falar sobre TV com os clientes. Tenho de passar credibilidade, minhas graças como humorista são um outro negócio”, dizia. “Mas não foram poucas as vezes que clientes se surpreenderam ao me verem e até começaram a rir. Tem gente até que pede foto do Zé Bonitinho autografada depois das audiências.”

(Com Estadão Conteúdo)

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