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Miley Cyrus, em pleno rito de passagem

Ela virou notícia ao sensualizar no palco do VMA e despertou discussões sobre a conduta transgressora usada pelos jovens como prova de ‘amadurecimento’

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 set 2013, 11h20

“Vai ser mais louco que a apresentação com o beijo”, avisou Miley Cyrus à MTV antes da transmissão do Video Music Awards (VMA), premiação transmitida no último domingo pelo canal. Ela se referia à célebre performance em que Madonna, Britney Spears e Christina Aguilera trocaram beijos na boca do palco do mesmo VMA, há exatos 10 anos. O referencial falava por si. E pelo que viria. Quando chegou a sua vez, Miley não beijou ninguém, mas sensualizou à beça: rebolou, se esfregou no cantor Robin Thicke, despiu uma roupa de ursinho para reaparecer quase nua em um biquíni de látex cor de pele. Vulgarizou. Tanto ela fez que conseguiu se tornar a notícia mais comentada da semana nas redes sociais e nos mais diversos títulos da imprensa, como foi, à sua época e à sua maneira, o beijo do trio Madonna, Britney e Christina. Mas não era apenas audiência o que Miley queria alcançar.

“Ela quis mostrar ao mundo que cresceu”, comentou dois dias depois o colega Justin Timberlake, ele próprio um dos muitos jovens artistas que precisaram se reinventar – e trocar de público – na passagem da adolescência para a idade adulta. Embora não tenha investido nesse expediente, Timberlake sabe, por experiência de mercado, que apelar para a erotização e para a óbvia tentativa de chocar a plateia faz parte de uma cartilha manjada no showbiz. Foram vários os que o ex-vocalista do ‘N Sync viu se fazerem de “loucos” – para usar o termo da própria Miley – no afã de se mostrarem dignos da atenção dos pós-adolescentes. Fazem parte da lista a ex-namorada Britney Spears, que o teria traído com um dançarino, outros ex-colegas da Disney, como a amalucada Lindsay Lohan, e um recém-chegado ao clube como o canadense Justin Bieber. Lindsay e Bieber são, na verdade, mais junkies que eróticos. Ao lado do sexo, as drogas são, desde os Beatles, também um modo de transgredir e dizer que não se é mais um anjinho.

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Se Miley queria mostrar que cresceu, e que não tem mais nada a ver com a personagem infantil, Hannah Montana, lançada na Disney em 2006, quando ela tinha 14 anos, escolheu o lugar certo para isso. Como lembra o produtor americano radicado no Brasil Brendan Duffey, que trabalhou com o rapper 50 Cent, o grupo Marron 5 e a cantora Wanessa Camargo, o palco do VMA é o local mais utilizado por estrelas infantis que tentam fazer sua transição para o público adulto. “Essa receita é clássica. Foi a mesma utilizada por Britney Spears, que se apresentou seminua na festa, carregando uma cobra enorme, em 2001.”

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013
Britney Spears no VMA de 2000 e Miley Cyrus no VMA de 2013 (VEJA)

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Britney Spears no VMA 2000

Confira a apresentação de Britney no VMA que serviu de modelo à de Miley.

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Miley Cyrus no VMA 2013

Reveja o show de Miley Cyrus na festa da MTV.

Clássica, manjada, mas não obrigatória. O já citado Justin Timberlake é exemplo de um jovem artista que amadureceu de fato aos olhos do público. “Justin conseguiu isso por causa do talento. No entanto, essa transição foi pensada e feita ao longo de anos, não ancorada em um único evento controverso que demonstrasse uma mudança drástica”, elogia Duffey. Outra jovem estrela que vem se firmando por sua postura mais séria é Selena Gomez. Também ex-Disney, ela ganhou pontos ao dispensar o cada vez mais problemático e chato Justin Bieber, emplacou um disco nas paradas americanas e vem cavando papéis em produções adultas do cinema.

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E crescer numa boa traz os seus benefícios: além de independência financeira, ambos, mas especialmente Timberlake, parecem ter autonomia na carreira e na vida, escolhendo que trabalhos querem fazer e quem querem namorar. Sem medo de ser feliz.

Rito de passagem – Mesmo sendo premeditada e previsível, a performance de Miley – seguida três dias depois por um dueto sobre rebolado com (o agora também desajustado) Justin Bieber – não é exclusividade de jovens estrelas. Ela também pode ser vista, em doses mais contidas, em adolescentes comuns.

“Eu nem ligo, mas tem horas que fico chateado quando alguém vem dizer para me comportar como um rapaz da minha idade. Outras vezes, me comporto como se fosse bem mais velho – no duro – mas aí ninguém repara. Ninguém nunca repara em coisa alguma”, já dizia Holden Caulfield, o protagonista de 16 anos de O Apanhador no Campo de Centeio, romance de formação publicado pelo americano J. D. Salinger em 1951. A necessidade de ser percebido, olhado e comentado sempre acompanhou os que estão vivendo ou deixando a adolescência – mas ainda carregam traços dessa fase na chamada transição para a idade adulta.

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Essa necessidade, no entanto, parece ter se potencializado nas gerações Y e Z, nascidas dos anos 1990 em diante. “Por muito tempo, o ‘ser’ foi confundido com o ‘ter’. Agora, mais recentemente, com o ‘aparecer’. Vivemos a cultura do ‘Eu existo se eu apareço’. É a necessidade de ser olhado”, diz Vera Zimmermann, psicóloga coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp. “O íntimo virou algo para ser exposto. Todo mundo quer se virar do avesso e viver a falsa ilusão de ser admirado e desejado”, afirma Aurélio Fabrício Torres de Melo, professor e supervisor do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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A situação é extrema no caso de artistas que adquirem fama cedo. O crescimento de uma criança no meio artístico é considerado pouco saudável por especialistas e, muitas vezes, não passa de um simples capricho dos pais que querem se projetar na criança. “Jovens que passam saudavelmente pela adolescência vêm de uma família e de um ambiente apropriado. Já crianças artistas enfrentam desde cedo uma agenda de compromissos, uma rotina exagerada e a cobrança pela perfeição. Eles mal podem ficar doentes ou tristes para manter a imagem do produto que são”, diz Elizabeth Monteiro, psicóloga autora do livro Criando Adolescentes em Tempos Difíceis. Uma infância mal vivida pode ampliar a vulnerabilidade de um adolescente.

A adolescência também tem os próprios riscos. É típico dessa fase o sentimento de onipotência que leva muitos a desafiar limites, com a presunção de que os vencerão. “Os jovens se acham imunes às consequências trazidas por brigas, drogas, álcool, sexo sem proteção”, diz Elizabeth. “O rito de passagem da adolescência para a vida adulta nada mais é que o luto pela perda da infância. O jovem se comporta dessa maneira para mostrar que cresceu e é independente dos pais.”

No caso de um jovem artista, o luto se faz também pelo personagem que ele quer deixar de representar – o avatar infantil que garantia o seu sucesso junto a um público de pouca idade. E a onipotência, amplificada pelos meios de comunicação, pode render não apenas transgressões, mas shows de bizarrice como o de Miley Cyrus. Para além do luto, porém, despontam as conquistas da fase: o autoconhecimento e a conquista do próprio corpo, reivindicada pela cantora em sua performance no VMA, e a liberdade que só a idade adulta, ainda que com as responsabilidades que a acompanham, pode proporcionar. Mais do que nunca, é hora de crescer.

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