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Melodrama exagerado é o gigante no caminho de ‘Homem-Formiga’

Novo filme da Marvel peca ao levar muito a sério a trama em torno de um herói do tamanho de um inseto

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 jul 2015, 08h58

Para além dos músculos de Thor, da ira de Hulk e do brilhantismo do Homem de Ferro, existe no universo da Marvel um estranho herói, até então desconhecido no cinema, batizado de Homem-Formiga. Seu superpoder, como sugere o nome, é ficar do tamanho de um inseto, porém com uma força avassaladora. Nos quadrinhos, o mascarado é vivido primeiramente por Dr. Hank Pym, um cientista importante nas tramas das revistas – foi ele, por exemplo, quem criou Ultron, o vilão do segundo filme dos Vingadores. Irrisório no tamanho mas imenso na força, era de se esperar que o Homem-Formiga recebesse no cinema o tratamento bem-humorado que a Marvel dispensa a seus heróis — que o diga o vaidoso Homem de Ferro. Pena que o estúdio optou por uma mistura por vezes sem graça de piada com um melodrama digno de novelão. O dramalhão em excesso é o grande — sem brincadeira — problema do filme. Sorte que seu protagonista, Paul Rudd, tem charme e tempo cômico suficientes para salvar o filme de um fiasco.

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A trama começa em 1989, quando Hank Pym, interpretado por Michael Douglas (rejuvenescido por efeitos especiais), se recusa a compartilhar a fórmula das partículas Pym, capaz de alterar o tamanho de objetos e seres vivos. Seu medo é de que, como acontece a toda grande descoberta dos quadrinhos, as partículas caiam em mãos erradas ou sejam usadas em guerras. Décadas depois, o longa entra na cadeia da qual Scott Lang (Rudd) está se despedindo. Lang foi preso por um roubo no melhor estilo Robin Hood. Engenheiro e especialista em tecnologias, o rapaz roubou milhões de sua antiga empresa em um golpe considerado impossível, apenas para devolver o dinheiro aos donos originais e fazer justiça pelas próprias mãos.

Com ficha suja e sem emprego, ele aceita participar de um novo roubo, que consiste em abrir o cofre de um milionário solitário. Acompanhado por um grupo de amigos fora da lei, Lang passa pelos obstáculos com certa facilidade para descobrir que dentro do cofre está guardado um velho uniforme que mais parece uma roupa de motociclista. Ele leva a vestimenta para casa, curioso, experimenta e se surpreende ao diminuir de tamanho. Todo o processo, desde o roubo até o encolhimento, é acompanhado de perto por Pym, o velhote abastado, que há tempos estava de olho no novo pupilo, escolhido para assumir a identidade do herói nanico e completar uma missão que requer qualidades de um invasor.

É então que o melodrama se derrama, em meio a passagens que pecam pelo didatismo. Tudo é ilustrado com flashbacks, mapas e fórmulas matemáticas, que, no fim, não oferecem explicações boas o suficiente para pontos centrais, como, por exemplo, a escolha de Lang por Pym — o ex-presidiário não passa de um estranho para o ricaço. Boa parte da ação acontece dentro da mansão de Pym, onde ele e sua filha Hope (Evangeline Lilly) treinam o ladrão-futuro-herói. A relação entre pai e filha é complicada, e os diálogos, sofríveis. Do outro lado da força, está o vilão Darren Cross (Corey Stoll), outro que pende para o chororô ao se sentir desprezado pelo milionário, que antigamente o tratava como um discípulo na empresa. Resultado: Cross e Hope conseguem afastar o velho Pym do comando de sua própria companhia e assumir o poder. Hope, contudo, fica do lado do pai quando vê crescer a obsessão de Cross pela ideia de criar um exército de soldados do tipo Homem-Formiga, agora batizado de Jaqueta Amarela – nos quadrinhos, outra identidade de Pym, que era polivalente e encarnou diferentes heróis.

A missão de Lang é entrar na empresa, ultrapassar o complexo sistema de segurança e sair de lá com o uniforme do Jaqueta Amarela. Entre um momento meloso aqui e uma explicação ali, Rudd encontra espaço para ganhar o filme e salvá-lo do buraco. Ele até tem o seu drama pessoal, sem breguices, que é reconquistar a confiança da ex-esposa e da filha, com quem deseja ter mais contato. Ao aceitar a missão de Pym, ele quer, na verdade, ser um herói para a pequena herdeira.

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Tamanha lambança no roteiro estaria ligada ao fato de ele ter passado por tantas mãos antes de descer pelo crivo da Marvel. Edgar Wright, da divertida aventura nerd Scott Pilgrim contra o Mundo (2010), abandonou o projeto no ano passado por “diferenças artísticas”. Seu nome ainda aparece creditado no roteiro, porém, ao lado de mais três nomes (entre eles Rudd). Sem Wright, a direção passou para Peyton Reed, de comédias como Sim, Senhor (2008) e Separados pelo Casamento (2006).

Já Rudd, conhecido por papéis de coadjuvante em filmes de comédia como O Virgem de 40 Anos (2005), se mostra um novo Chris Pratt do cinema. Inteligente, ágil e engraçado, ele consegue contrabalançar os exageros da trama e oferecer verdade a um personagem inverossímil. Ser bonitão também ajuda. Apesar de Evangeline ser a bela mocinha do filme, é Rudd quem acaba exposto, como em uma cena em que ele aparece sem camisa e a câmera acompanha seu corpo pelo olhar da filha de Pym. Michael Pena, que vive Luis, amigo de crime de Lang, é outro ponto positivo do elenco — e talvez a melhor surpresa do filme. O ator interpreta um mexicano falante com pouco talento para a bandidagem. Seus momentos são poucos, mas memoráveis.

Com potencial para abrir ao público do cinema um novo e ótimo flanco do universo cinemático da Marvel, Homem-Formiga poderia ser mais, muito mais. Porém, não ultrapassou os limites do entretenimento fácil de blockbuster e preferiu ficar no raso, assim como o seu protagonista baixinho.

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