James Franco falha de novo ao adaptar William Faulkner
O problema é que, como sempre em seus filmes, há uma excessiva preocupação em traduzir quase literalmente a forma do romance, quando literatura e cinema são meios completamente diferentes. Não seria melhor escrever livros em vez de fazer filmes?
Por Mariane Morisawa, de Veneza
5 set 2014, 14h10
É quase impossível escapar de um festival de cinema sem James Franco. Só em 2014, sua página no imdb, aquele site americano especializado em cinema e TV que foi citado no palco do último Emmy, conta doze créditos como ator e cinco como diretor. Com ele, tem sido sempre assim. The Sound of the Fury (O Som e a Fúria), apresentado fora de competição no 71º Festival de Veneza, onde Franco foi homenageado com o troféu Glory to the Filmmaker, é a sua segunda adaptação de uma obra de William Faulkner em menos de dois anos. Em sua defesa, The Sound and the Fury é bem melhor do que As I Lay Dying, sua primeira tentativa de transpor para o cinema um livro do sofisticado escritor americano.
“Eu atuo há quase 20 anos e dirijo há metade desse tempo”, disse Franco na coletiva de imprensa no início da tarde desta sexta-feira, onde apareceu careca por causa de seu novo trabalho no filme Zeroville. “Atuei em blockbusters e em filmes menores, fui indicado a um Oscar e fiz trabalhos horríveis, conhecia essas experiências. Então, se vou me esforçar para ser diretor, devo fazer os filmes que quero fazer, que nenhum outro diretor está fazendo.”
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O filme segue quase fielmente a estrutura do livro, que tem quatro partes – na versão cinematográfica, são três -, e conta a história da família sulista Compson, em franca decadência econômica e de poder. Na primeira, o foco está em Benjy (o próprio James Franco, que poderia se beneficiar de um diretor melhor). O rapaz nasceu com problemas mentais, e o roteiro e direção tentam reproduzir seus pensamentos desordenados, com memórias da infância e de outras partes de sua vida, sempre obcecado com a irmã Caddy (Ahna O’Reilly na versão adulta). Na segunda, é a vez de Quentin (o bom Jacob Loeb), que foi mandado para Harvard com o dinheiro da venda do último pedaço de terra e também mantém uma relação ambígua com a irmã. A terceira é dominada por Jason (Scott Haze), que só pensa em dinheiro.
O problema é que, como sempre em seus filmes, há uma excessiva preocupação em traduzir quase literalmente a forma do romance, quando literatura e cinema são meios completamente diferentes. Em sua declaração de intenções no material de imprensa, dá para entender seu pensamento: “Há um ditado antigo segundo o qual um bom livro pode se tornar um mau filme e um livro não muito bom pode se tornar um grande filme. Eu acredito que isso só é verdade porque o que amamos nos grandes livros é frequentemente seu estilo, sua estrutura e a maneira como a narrativa funciona na página, e porque a escrita de boa qualidade, intrincada, frequentemente é difícil de adaptar para a tela e o estilo e a estrutura de um livro frequentemente fica perdido na tradução de um meio para o outro”.
A questão é se isso é possível. Pelo que se vê no fraco O Som e a Fúria, provavelmente não. E, se ele vê o cinema como um meio que deve se submeter à forma de outro, no caso, a literatura, não seria melhor escrever livros em vez de fazer filmes?
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