Inspirado em ‘Anticristo’, ‘Isolados’ amplia o suspense no cinema nacional
Fruto de um laboratório aterrorizante feito pelo diretor Tomas Portella, que procurou deixar os atores com a “nuca arrepiada”, longa agrada por boas atuações de Bruno Gagliasso e Regiane Alves e roteiro bem construído de Mariana Vielmond
A presença do suspense no cinema já é bem conhecida pelo público. Clássicos como O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick e Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, fizeram escola e inspiraram uma leva de cineastas ao longo das últimas décadas. No Brasil, o gênero ainda é pouco explorado, principalmente no circuito comercial, mas vem ganhando força no último ano. Depois de O Lobo Atrás da Porta (2013) e Quando Eu Era Vivo (2014), chega às salas, neste fim de semana, Isolados. Com forte inspiração em Anticristo (2009), de Lars Von Trier, o filme, que estreia nesta quinta-feira, coloca Bruno Gagliasso e Regiane Alves em situações sombrias e conflitos psicológicos trabalhados minuciosamente pelo diretor Thomas Portella (Qualquer Gato Vira-Lata).
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Em Isolados, Lauro (Bruno Gagliasso) e sua esposa, Renata (Regiane Alves), decidem passar um final de semana em uma casa na região serrana do Rio de Janeiro para reavivar o relacionamento. No entanto, a presença de dois assassinos infiltrados na mata que cerca a residência insalubre começa a criar pânico e, principalmente, paranoia nos novos inquilinos. Além do terror, a situação agrava os problemas psicológicos de Renata, que é ex-paciente da clínica onde Lauro trabalha como psiquiatra. Além de Anticristo, Portella diz ter se baseado em clássicos do gênero como Ilha do Medo, de Martin Scorsese, e O Iluminado, de Stanley Kubrick.
“O desafio era encontrar dentro de uma estrutura clássica de suspense uma forma de enganar, surpreender e tirar o chão do público”, afirma Thomas Portella. Ele, que tem no currículo de diretor apenas produções de comédia, como o longa Qualquer Gato Vira-Lata (2011) e a série Copa Hotel (2013), exibida pelo canal pago GNT, não deixa a desejar em sua primeira empreitada no suspense. Apesar de não revolucionar, Isolados satisfaz na medida certa o fã do gênero. “Uma preocupação que a gente tinha era o fato de o suspense brasileiro ser ainda novidade para o público. Então, se eu quisesse revolucionar, ia ser coisa demais. Por isso, busquei elementos clássicos.”
https://youtube.com/watch?v=mzVAwEYAxx4
Alguns pontos contribuíram para a construção do clima de terror psicológico, como a casa onde o filme se passa, próxima a uma área de preservação ambiental e com todas as características de um local mal-assombrado, como móveis antigos, pouca iluminação e uma decoração rústica. Mas de nada adiantaria as ferramentas perfeitas nas mãos erradas. O que não foi o caso de Portella, que acerta em cheio ao arriscar bons planos sequência e uma fotografia obscura, criando a tensão ideal nos ambientes da trama. As boas atuações de Bruno Gagliasso e Regiane Alves também contribuem para que o terror seja concretizado na tela e prenda a atenção do público.
A preparação para a filmagem e os ensaios, aliás, foram traumáticos para a dupla de atores, tanto psicológica como fisicamente. “Eu peguei uma infecção respiratória violenta de tanto segurar um candeeiro nas filmagens. Eu iluminava o Bruno e inalava a fumaça de óleo. Além disso, a casa era úmida e a gente ficou muito tempo fechado lá”, conta Regiane, que teve que passar por um laboratório aterrorizante, de acordo com o cineasta. “Eu levei eles para o meio do mato, que é área de preservação ambiental, então tem onça, tem cobra. A gente apagou a lanterna, fez todo mundo ficar em silêncio para ouvir os barulhos da mata e eu tive que me manter firme ali, mesmo morrendo de medo (risos)“, diz Portella, para quem o diretor de suspense tem que deixar o ator “aflito, com a nuca arrepiada”.
Reforçando o filão de suspense aberto por lançamentos recentes, Isolados contribui para mudar a imagem de um gênero que, no país, tinha como principal referência apenas José Mojica Marins, o Zé do Caixão, até anos atrás.
‘O Lobo atrás da Porta’ (2014)
Após o desaparecimento de sua filha, o casal Sylvia (Fabiula Nascimento) e Bernardo (Milhem Cortaz) é levado à delegacia para prestar depoimento. Pelas declarações, dadas separadamente, o delegado (Juliano Cazarré) descobre que Bernardo tinha uma amante, Rosa (Leandra Leal), que também é chamada para ser interrogada como suspeita. O longa dirigido por Fernando Coimbra foi selecionado para participar do Festival de Cinema de Toronto.
https://youtube.com/watch?v=G-3vg1YNqpM
‘Entre Nós’ (2014)
No longa Entre Nós, sete jovens amigos viajam para uma casa de campo, em 1992, onde escrevem cartas e as enterram para serem abertas e lidas dez anos depois. A viagem termina com a morte trágica de um deles, em um acidente de carro, o que não impede que os amigos concretizem a reunião programada para o futuro. Dirigido por Paulo Morelli (Cidade dos Homens), o filme venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Tem Caio Blat, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro e Paulo Vilhena no elenco.
https://youtube.com/watch?v=Nrf6R1nwSxM
‘Quando Eu Era Vivo’ (2014)
Dirigido por Marco Dutra (Trabalhar Cansa), Quando Eu Era Vivo conta a história de Junior (Marat Descartes), que, após se divorciar e perder o emprego, se muda para a casa do pai, que tem como inquilina a jovem Bruna (Sandy). Após dias remoendo as dores e procrastinando no sofá, o rapaz encontra objetos que remetem ao passado de sua família e acaba criando uma obsessão, confundindo delírio com realidade. O longa ainda tem Antônio Fagundes no elenco no papel de Sênior, o pai de Junior.
https://youtube.com/watch?v=7gloQPKVNtI
‘Isolados’ (2014)
Em Isolados, Lauro (Bruno Gagliasso) e sua esposa, Renata (Regiane Alves), decidem passar um final de semana em uma casa na região serrana do Rio de Janeiro para reacender o relacionamento. No entanto, a presença de dois assassinos, infiltrados na mata que cerca a residência insalubre, começa a gerar pânico e, principalmente, paranoia nos novos inquilinos. A situação agrava os problemas psicológicos de Renata, que é ex-paciente da clínica onde o marido trabalha como psiquiatra. O longa é dirigido por Thomas Portella (Qualquer Gato Vira-Lata) e tem José Wilker fazendo sua última participação no cinema.
https://youtube.com/watch?v=sPusr_Bx0Sw
O que já tivemos
Antes dessa retomada do suspense no cinema nacional, o gênero parece ter parado no tempo na época de José Mojica Marins. O diretor das unhas gigantes é até hoje um dos principais nomes do terror no país, mas no estilo trash. Ele viveu seu auge entre as décadas de 1960 e 1980, com filmes como À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) e a sequência, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), que trazem o excêntrico personagem Zé do Caixão como protagonista. Sua última produção foi Encarnação do Demônio (2008). No longa, Zé do Caixão é libertado da cadeia após 40 anos e vaga pelas ruas determinado a encontrar uma mulher que possa gerar seu filho, deixando um rastro de sangue pelo caminho.