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‘Infância’: memórias de Domingos de Oliveira soam melhor no teatro

Adaptação estrelada por Fernanda Montenegro traz à tela situações vividas no Rio de Janeiro dos anos 50

Por Simone Costa
19 out 2014, 20h53

No dia em que completa sete anos da morte do avô José, o garoto Rodriguinho passa horas procurando por sua cadela no casarão em Botafogo, no Rio de Janeiro. Ela, na verdade, morreu depois de comer naftalinas que a avó do menino, Dona Mocinha, costumava espalhar pelos armários. Sua mãe, Conceição, ainda não quer contar a ele o que houve. Enquanto ele perambula em busca do bicho de estimação, os adultos se perdem em discussões que vão desde a política – os embates entre o presidente Getúlio Vargas e o jornalista Carlos Lacerda, este último, ídolo de Dona Mocinha – até o malfadado casamento de Orlando, um dos filhos da matriarca que aos 40 anos não trabalha e vive bêbado por ali. São os anos 50 e aquele é apenas mais um dia na vida daquela família. Narrado em Infância (Brasil, 2014), esses acontecimentos reúnem memórias do cineasta carioca Domingos de Oliveira.

Entre os dois extremos dessa história, Dona Mocinha (vivida por Fernanda Montenegro) e Rodriguinho – alter ego de Oliveira -, circulam os outros personagens e seus relacionamentos, sejam fraternais ou eróticos. O casarão é o único cenário do filme, produzido com um orçamento de 2 milhões de reais – alto para os padrões de Oliveira, mas abaixo da média nacional, que gira em torno de 5 milhões de reais. Mas ter apenas uma locação não é algo ruim, já que o casarão é onde os momentos mais importantes da vida daquela gente parece acontecer. Ele é o palco dos amores, dos desentendimentos, das disputas e do crescimento de Rodriguinho.

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O filme é uma adaptação da peça Do Fundo do Lago Escuro, do próprio cineasta, montada nos anos 80. Nela, Fernanda Montenegro era Conceição. Numa remontagem mais recente, do início desta década, Domingos interpretou a avó Dona Mocinha. O roteiro é realmente interessante, tanto que foi premiado em Gramado este ano. Ele permite sentir a atmosfera em que Rodriguinho cresceu. A naftalina que surge no início do filme dá a sensação de que algo ficou guardado no tempo. A rigidez da avó, Dona Mocinha e o momento político dividido entre aqueles que apoiavam Vargas e os que defendiam peremptoriamente Carlos Lacerda são fortes marcas do longa.

Mas algo não soa bem: o tom teatral parece ter sido levado para o filme e incomoda, tirando o foco do que o roteiro traz de bom. Priscilla Rozenbaum (mulher do cineasta que na história é Conceição) e Ricardo Kosovski (Orlando, o tio bêbado de Rodriguinho) são os que mais abusam disso. Ele, principalmente, parece apenas repetir frases que precisa decorar. Não soa real. Paulo Betti no papel de Henrique, genro de Dona Mocinha, está bem (tanto que levou o prêmio de melhor ator coadjuvante em Gramado), mas sua participação é pequena comparada a dos outros dois. O garoto Raul Guaraná (Rodriguinho), escolhido entre mais de duzentas crianças, oscila. Às vezes é ótimo, outras, nem tanto assim.

Fernanda Montenegro reina absoluta no filme. Ela, como sempre, incorporou a personagem e mostra uma senhora dos anos 50, com sua opinião contundente sobre a política, a maneira como os casamentos devem ser e como os filhos devem ser criados. Com seu comportamento de uma verdadeira matriarca que comanda toda a família, deixa claro que não é uma avó que paparica o neto, mas está ali como alicerce da união daquela família, ao mesmo tempo em que de alguma forma percebe que não será capaz de manter todos reunidos para sempre. Mas, mesmo com essa presença exuberante é difícil acompanhar uma hora e meia de um roteiro de que tinha tudo para ser um bom filme mas não é.

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Serviço:

24/10 às 14h – Espaço Itaú de Cinema – Augusta Anexo 4

Rua Augusta, 1475 – Cerqueira César – Tel: (11) 3288-6780

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