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Gordon-Levitt dá passo atrás em estreia como diretor

Ator, que vinha em ascensão em Hollywood, dá tiro n’água com filme que retrata viciado em vídeos de sexo de forma superficial e com didatismo exagerado. Nem o forte elenco, com Scarlett Johansson e Julianne Moore, salva a produção

Por Juliana Zambelo
6 dez 2013, 10h46

Em 2011, o diretor britânico Steve McQueen chamou a atenção com Shame, filme denso e incômodo sobre um atormentado viciado em sexo e pornografia interpretado por Michael Fassbender. Como Não Perder Essa Mulher, primeiro longa-metragem escrito e dirigido pelo ator Joseph Gordon-Levitt, retoma o tema, mas dá a ele tratamento de comédia romântica hollywoodiana: superficial e cheio de clichês. O filme, que traz também Scarlett Johansson e Julianne Moore no elenco, estreia no país nesta sexta-feira como uma produção que perdeu a oportunidade de trabalhar a fundo um tema que merecia mais.

Como Não Perder Esta Mulher (Don Jon) é centrado em Jon, um jovem americano de Nova Jersey de inteligência e ambição limitadas. Sua vida é malhar, ir a baladas, caçar e levar mulheres bonitas para casa – depois de, com os amigos, ter analisado a aparência das presas e dado a elas notas de 1 a 10, em uma prática à la Lulu. E, é claro, passar horas em frente ao computador vendo filmes pornográficos. Ele assiste a vídeos pela internet mais de uma vez ao dia, e tem, nessas experiências solitárias, mais prazer do que com o sexo real. Mas, para ele, está tudo bem assim.

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Até que conhece Barbara (Scarlett Johansson), uma mulher tão rasa quando ele, mas com um corpo nota 10 que o faz se apaixonar pela primeira vez. Após algumas semanas de namoro, ela descobre o vício de Jon e impõe, para ficar com ele, que deixe de consumir pornografia.

O longa ousa ao mostrar imagens quase explícitas, feitas de colagens de vídeos adultos, e fala sobre sexo com detalhes e linguagem incomuns para Hollywood. Lançada no festival de Sundance, em janeiro deste ano, a produção recebeu críticas variadas. O site da revista The Hollywood Reporter classificou o trabalho como repetitivo e unidimensional, enquanto o jornal britânico The Guardian chamou o filme de simplista, mas salvou o diretor estreante, tido como promessa. “Muitas pessoas querem que Gordon-Levitt faça sucesso e isso é uma coisa boa: ele é um cara talentoso, simpático e ambicioso”, diz a crítica.

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A aposta em Gordon-Levitt se renovou nesta semana, com a sua indicação na categoria Melhor Primeiro Roteiro do respeitado Independent Spirit Awards – prêmio já conferido a Darren Aronofsky por Pi, a Charlie Kaufman por Quero Ser John Malkovich, a Diablo Cody por Juno e a Michael Arndt por Pequena Miss Sunshine, só para dar uma ideia do peso do troféu. E é mesmo mais no roteiro do que na direção que o ator dá mostras de seu talento, com boas ideias e sacadas interessantes. Ele critica a forma como homens são incentivados a enxergar mulheres como objetos — Jon, o protagonista, vê na pornografia o seu modelo ideal de relação sexual — e explora o modo como algumas delas se apegam a filmes românticos como modelo de relacionamento.

O principal trunfo do longa, no entanto, é o carisma do ator-diretor. Dono de uma simpatia pessoal, ele soube encontrar os papeis certos para construir a imagem de bom garoto com conteúdo. O ator possui uma longa carreira, iniciada ainda na infância em séries e filmes para a TV. Na adolescência, arriscou-se no cinema e chegou a protagonizar produções pequenas, mas só deu um salto importante em 2009, ao interpretar um nerd de coração partido em (500) Dias com Ela, ao lado de Zooey Deschanel. Com um orçamento de apenas 7 milhões de dólares, o filme indie conquistou crítica e público e faturou mais de 90 milhões de dólares no mundo todo, além de duas indicações ao Globo de Ouro, incluindo a de melhor ator em musical ou comédia para Gordon-Levitt.

Joseph Gordon-Levitt, por volta dos 15 anos, na série de TV '3rd Rock from the Sun'
Joseph Gordon-Levitt, por volta dos 15 anos, na série de TV ‘3rd Rock from the Sun’ (VEJA)

Com o sucesso, o ator passou a diversificar suas investidas. Participou de filmes de ação, como G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009) e Looper: Assassinos do Futuro (2012), dramas como 50% (2011), no qual interpreta um jovem com câncer, trabalhou com o diretor Christopher Nolan em A Origem (2010) e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) e com Steven Spielberg em Lincoln (2012). Ao mesmo tempo, começou a experimentar o trabalho por trás das câmeras, na direção de cinco curtas-metragens rodados entre 2009 e 2012.

Fora dos estúdios, ele comanda a hitRECord, uma produtora colaborativa que apoia artistas na troca de experiências, ideias e trabalhos. A companhia já lançou curtas-metragens, CDs, livros e uma série de TV apresentada pelo ator. Mais uma promessa, portanto.

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Apesar do carisma, o personagem que Gordon-Levitt escreveu para si mesmo, em seu primeiro longa, é antipático e imaturo e, ainda que sua pose e suas conquistas possam impressionar adolescentes do sexo masculino com hormônios em fúria, sua total falta de reflexão sobre a própria vida desanima qualquer adulto. Para compensar essa característica e tornar possível que o personagem evolua, o filme coloca em seu caminho duas mulheres sábias que vão explicar – para ele e para o espectador – cada sentimento e atitude mostrados na tela: são elas a irmã, tão deslocada na família que passa o tempo todo no celular (Brie Larson), e a mulher misteriosa, experiente e liberal que Jon conhece em um curso noturno (Julianne Moore). O didatismo deixa a impressão de que o diretor acredita que seu público é tão estúpido quanto seu personagem principal. E deixa a dever para o histórico que ele mesmo já construiu.

O filme traz boas atuações do trio de protagonistas, em especial de Julianne, e tem algumas piadas boas, mas elas são repetidas até perder a graça. O desfecho é abrupto e quase milagroso, uma boa forçada de mão para chegar ao inevitável final feliz. E nem é preciso se esforçar para entender: ele também é bem explicadinho por uma narração, para ter certeza que ninguém saiu confuso da sala escura.

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