‘Foxcatcher’: a luta perdida dos irmãos Schultz
Filme em exibição na Mostra de Cinema de SP é uma história real contada por Bennett Miller, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes
Em 1987, aos 27 anos, Mark Schultz era campeão mundial e medalhista de ouro na Olimpíada de 1984, mas vivia uma rotina que se resumia a ir aos treinos, voltar para casa e dar algumas palestras motivacionais para crianças quando foi convidado para conhecer o excêntrico John du Pont, milionário da indústria de armamentos. Ao aceitar o convite para participar do time de luta de Du Pont, o Foxcatcher, na Pensilvânia, Mark não poderia imaginar que isso o separaria de seu irmão de maneira tão literal. Dave, um ano mais novo e o verdadeiro mentor e incentivador de Mark, também tinha sido ouro em 1984. Ele resistiu ao máximo ao convite de Du Pont. Mas, tempos depois, aceitou se juntar ao Foxcatcher. E em 1996, acabou baleado pelo milionário.
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A história real orienta o roteiro de Foxcatcher, Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, EUA, 2014), filme de Bennett Miller, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Cannes de 2014. Não é a primeira vez que Miller reconstrói uma história real. Ele já fez isso em Capote (2005) e O Homem que Mudou o Jogo (2011), mas Foxcatcher é mais tocante. Nos papéis de Mark, Dave e Du Pont, Channing Tatum e dois impressionantes Mark Ruffalo e Steve Carell, respectivamente.
É preciso olhar mais uma vez para ter certeza de que aquele personagem com os ombros encolhidos, nariz adunco e uma voz esganiçada liberada em intervalos irritantes é Carell, muito mais conhecido por suas comédias, como O Virgem de 40 anos (2005) e a ótima série The Office (2005-2013). O personagem é tão bem caracterizado que quase chega a incomodar. Mas Carell consegue mostrar o quanto Du Pont era incapaz de se relacionar com as pessoas, até mesmo com sua mãe (vivida pela premiada Vanessa Redgrave) – uma relação para Freud explicar. Sobre o papel, Carell disse esta semana, durante o Festival de Cinema de Londres, que ainda permanece com ele. “Eu continuo pensando sobre isso”, disse, segundo o site da revista The Hollywood Reporter.
Mark Ruffalo também não fica atrás. Sem tantos recursos extras para entrar no personagem, mas com um cabelo bem curto e barbudo, ele parece outra pessoa e mostra que, quando não está preocupado com política de países que não conhece bem, é um excelente ator. Ele é talvez o mais convincente dos três. Mesmo aparecendo menos do que Tatum, ele brilha mais. Não que Tatum esteja mal. Pelo contrário. Ele apresenta um convincente Mark de pouquíssimas palavras e sem perspectiva, apesar de ser um campeão. Um homem jovem que mais parece um adolescente que deixa se levar por Du Pont e chega quase a arruinar a própria vida.
O filme é centrado na relação entre os três. Os outros personagens apenas circulam ao redor deles. Mark não tem amigo, nem vive nenhum romance. Apenas faz o que Du Pont quer, seja acordar de madrugada para ajudá-lo nos treinos (ele luta na categoria sênior) ou ler discursos (escritos pelo próprio Du Pont) que falam de uma relação de quase paternidade entre os dois durante festas e eventos sociais). Dave tem família, mas a mulher (interpretada por Sienna Miller) e os filhos estão ali apenas para mostrar que ele era um cara equilibrado e bacana. Construído de forma emocionante, seja mostrando Du Pont em seu esforço para chamar a atenção da mãe ou Dave tentando resgatar o irmão, nem parece que tem quase duas horas e meia de duração.
Serviço:
Na Mostra:
19/10 às 20h – Cine Sabesp
Rua Fradique Coutinho, 361 – Tel: (0/xx/11) 5096 0585
20/10 às 18h – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2 – Shopping Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569 – Bela Vista Tel: (0/xx/11) 3472-2368
Nos cinemas:
Estreia 29 Janeiro