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Festival de Veneza tem noite sangrenta e sem sutilezas

O turco ‘Sivas’, com brigas de cachorro, e o japonês ‘Nobi’, com canibalismo, chocaram o público

Por Mariane Morisawa, de Veneza
3 set 2014, 10h34

Foi preciso mais que um estômago forte para assistir ao turco Sivas, de Kaan Müjdeci, e ao japonês Nobi (ou Fires on the Plain, “Fogos na planície”, na tradução direta do inglês), de Shinya Tsukamoto, concorrentes ao Leão de Ouro exibidos na noite desta terça-feira no 71º Festival de Veneza.

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A sessão de imprensa de Sivas provocou uma reação raivosa de um dos jornalistas, que se levantou após o término do filme, gritando “Fuera” (“Fora” em espanhol), em direção à tela. No filme, o menino Aslan (Dogan Izci) resgata um cachorro que perdeu uma briga. Aslan tem um temperamento forte e reage explosivamente aos constantes maus tratos recebidos das figuras masculinas de sua vida: o pai, o irmão mais velho, o professor, o rival na escola. A mãe está quase ausente. Não à toa, o menino é desajeitado ao lidar com o objeto de seu afeto, Ayse (Ezgi Ergin). Mas acaba dominado por esse mundo de homens rudes, que pretende ganhar dinheiro colocando o cão Sivas para brigar novamente. Müjdeci talvez queira discutir esse universo marcado pela brutalidade, na qual a briga de cachorros é simbólica. Só que, em grande medida, acaba explorando justamente o que deseja criticar, e exagera na quantidade e duração das cenas de batalhas entre os animais.

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Em Nobi, também não faltam cenas chocantes. O assunto é a Segunda Guerra Mundial no Pacífico, mais especificamente nas Filipinas. Quando a campanha no Sudeste Asiático prolonga-se além do que o governo previa, os soldados do Japão ficam entregues à própria sorte, sem comida e munição, encurralados pela resistência filipina, ajudada pelos americanos. Só que o cineasta não quer tratar os soldados como vítimas. O personagem principal é Tamura (vivido pelo próprio diretor), um escritor jogado no absurdo e na crueldade da guerra, obrigado a seguir ordens ridículas e a matar. O filme faz o espectador mergulhar no caos de uma batalha, em que sangue espirra para todos os lados (inclusive na câmera), braços e pernas são decepados, órgãos internos, derramados. Para sobreviver, alguns soldados recorrem ao canibalismo. As cenas são bem explícitas e difíceis de assistir, mas fazem sentido dentro de sua loucura.

Delicadeza – O clima mudou na manhã desta quarta-feira com o quarto filme francês da competição, Le Dernier Coup de Marteau (O Último Golpe de Martelo, na tradução livre), de Alix Delaporte, emocionante e sutil. Seu personagem principal é o adolescente Victor (o excelente Romain Paul, forte candidato à Coppa Volpi de atuação masculina), que precisa crescer rapidamente com a doença da mãe, Nadia (Clotilde Hesme). Sem dinheiro, os dois vivem em um trailer à beira da praia. Tudo é tratado com delicadeza: a paixão do calado Victor pela vizinha Luna (Mirela Vilapuig); a possibilidade de jogar em um grande time de futebol e seu medo de não realizar o sonho, que às vezes sobrepõe-se à vontade; a descoberta do pai, o exigente maestro Grégory Gadebois, um homem de poucas palavras que se abre com o filho por meio da música de Gustav Mahler. O menino também é calado, mas com a sensibilidade à flor da pele, como o filme, que evita os clichês do gênero e constrói-se nos detalhes, no sussurro.

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