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Festival de Berlim celebra a poesia e discute o aborto

O chinês 'Chang Jiang Tu', o francês 'Quand on a 17 Ans' e o alemão '24 Wochen' se destacam na competição

Por Mariane Morisawa, de Berlim
15 fev 2016, 20h22

Com mais da metade dos dezoito longas-metragens em competição já apresentados, o 66º Festival de Berlim continua sem favoritos absolutos. Mas a média tem sido boa, com uma grande diversidade de temas, sejam as escolhas difíceis (24 Wochen, de Anne Zohra Berrached, e Quand on a 17 Ans, de André Téchiné), o amor que ultrapassa distâncias (Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, e Chang Jiang Tu, de Yang Chao) ou a resistência frente à opressão (Alone in Berlin, de Vincent Perez).

Uma das duas diretoras mulheres entre os concorrentes, a alemã Anne Zohra Berrached surpreende com 24 Wochen (“24 semanas”, na tradução livre), que apresenta Julia Jentsch como uma forte candidata ao prêmio de melhor atriz. Ela interpreta a comediante Astrid, que, feliz ao lado do namorado Markus (Bjarne Mädel), espera seu segundo filho. Um exame de rotina, porém, revela que o bebê é portador de síndrome de Down. A legislação alemã dá à mulher o direito de abortar até o final da gravidez em casos de problemas de saúde. Em princípio, os dois decidem ter a criança, mas, semanas depois, ao descobrir a real extensão do problema, Astrid começa a questionar sua decisão. Berrached faz um retrato equilibrado de uma escolha complexa, deixando claro que a escolha é de Astrid, por mais discussões que ela tenha com o pai do bebê e as pessoas ao seu redor. O filme lida com o assunto sem maniqueísmos, e mesmo quem discorda da personagem pode entender suas razões.

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Quand on a 17 Ans (“quando se tem 17 anos”, na tradução livre), dirigido pelo francês André Téchiné, é outro que coloca uma atriz na lista de favoritas. Sandrine Kiberlain faz Marianne, a mãe compreensiva de um adolescente (Kacey Mottet Klein), nesta história de crescimento e descoberta da sexualidade. Os personagens principais são Damien e seu pior inimigo, Tom (Corentin Fila). Os dois se metem em uma série de brigas aparentemente inexplicáveis. Quando Tom, um garoto de origem norte-africana adotado por um casal branco numa fazenda nos Alpes, começa a ter dificuldades na escola por causa de sua longa viagem para estudar e a gravidez de risco de sua mãe, Marianne lhe oferece hospedagem. O relacionamento entre Damien e Tom vai ficar ainda mais complicado. Não há nada exatamente novo na trama, e dá para perceber onde ela vai dar desde o início, mas Téchiné filma com muita energia a confusão de emoções dos dois rapazes, sugerindo ainda questões como preconceito e racismo.

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A poesia toma conta de Cartas da Guerra, do português Ivo M. Ferreira, e Chang Jiang Tu, do chinês Yang Chao. O primeiro se baseia nos textos do escritor António Lobo Antunes quando servia em Angola, durante a guerra colonial – o país se tornaria independente em 1975. Ele escreve com amor para sua mulher grávida, dando pinceladas, bem de leve, da situação na África e da sua discordância em relação ao conflito. Quase não há diálogos, substituídos pela leitura dramatizada das cartas, uma escolha bastante arriscada. Como as imagens não são fortes, o ator que interpreta António (Miguel Nunes) é pouco expressivo, e as próprias cartas são repetitivas, o resultado é morno.

Já o chinês Yang Chao faz um filme-poema sobre o amor e a transformação do país no belo Chang Jiang Tu (ou “contracorrente”, na tradução do inglês). Gao Chun (Qin Hao) ficou órfão recentemente e, de acordo com a tradição, recolhe um peixe negro e o coloca numa caixa – quando o animal morrer, a alma de seu pai estará livre. Numa viagem pelo rio Yangtzé, ele encontra o amor na misteriosa (Xin Zhi Lei), que reaparece e desaparece a cada porto, numa viagem poética pelo tempo e pelo espaço. O diretor documenta as mudanças ao longo do principal rio da China ao mesmo tempo em que abre espaço para as metáforas, a magia e os mistérios da vida.

Alone in Berlin, dirigido pelo também ator Vincent Perez, é um drama clássico sobre a resistência de um casal ao regime de Adolf Hitler durante a II Guerra Mundial. Inspirado em uma história real, traz os ótimos Emma Thompson e Brendan Gleeson como os Quangel, que distribuem cartões com palavras contra o nazismo e seu líder depois de perderem seu filho em combate. A história é interessante, mas o filme, insípido.

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