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Fatih Akin decepciona com o melodramático ‘The Cut’

Diretor alemão de origem turca, que já levou prêmios em Berlim e Cannes, não acerta com história sobre genocídio armênio

Por Mariane Morisawa, de Veneza
31 ago 2014, 13h13

The Cut (O corte, em tradução literal) tinha tudo para se tornar um dos favoritos ao Leão de Ouro do 71º Festival de Veneza. A direção é do alemão de origem turca Fatih Akin, autor de filmes fortes como Contra a Parede, Urso de Ouro em Berlim em 2004, e Do Outro Lado, melhor roteiro em Cannes em 2007. O personagem principal é interpretado por Tahar Rahim, que tem feito papéis importantes desde que foi revelado em O Profeta, de Jacques Audiard, em 2009. E o tema é sério, daqueles que costumam agradar em festivais europeus: o genocídio armênio. Mas a recepção ao longa-metragem na sessão de imprensa, realizada na manhã deste domingo, foi a pior possível, com risos fora de lugar, para dizer o mínimo. Só mesmo se der a louca no júri para The Cut se sair bem na competição.

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Akin usa como pano de fundo de sua história o massacre de armênios cristãos perpetrado pelo Império Otomano – que ocupou boa parte do Oriente Médio e do Norte da África entre os séculos XIII e XX – na Primeira Guerra Mundial, com o apoio da Alemanha e da Áustria-Hungria. Os armênios eram obrigados a percorrer grandes distâncias nas chamadas marchas da morte e abandonados, sem comida e sem água, para morrer em campos de concentração. Estima-se que entre 1 milhão e 1,5 milhão de pessoas tenham perecido assim. O extermínio sistemático provocou uma diáspora de armênios, que se instalaram em vários países, inclusive no Brasil.

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Nazaret Magoonian (Rahim) é um ferreiro que tem sua casa invadida em uma noite de 1915, deixando para trás a mulher e as duas filhas gêmeas. Junto com outros homens armênios, ele é obrigado a fazer trabalho pesado, construindo estradas como prisioneiro dos otomanos. Todos são tratados com violência e, quando a construção termina, sumariamente assassinados. O turco encarregado de cortar seu pescoço, condenado à prisão por roubo, consegue apenas romper suas cordas vocais, deixando-o mudo, o que vem bem a calhar para a história – até então, ele falava em um terrível inglês com sotaque, como todos os armênios de The Cut, enquanto os turcos falam a sua própria língua. A partir daí, Nazaret se lança em uma longa jornada em busca de sua família: ele caminha pelo deserto, é acolhido por um fabricante de sabão, encontra a cunhada à beira da morte em um campo de concentração e finalmente descobre que as suas filhas sobreviveram, e então vai atrás das duas em Cuba e depois nos Estados Unidos.

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Akin quis fazer um épico daqueles de que o cinema americano tanto gosta, com tons melodramáticos e um quê de western sobre um pano de fundo histórico. Só que não funciona. Os diálogos são dignos de telenovelas, e nem um bom ator como Rahim consegue fazer muita coisa para salvá-los. Se fosse bem-sucedido, o longa serviria para apresentar a um público mais amplo um episódio da história ainda pouco abordado no cinema – e que a Turquia nega que tenha acontecido. Mas, como o outro melodrama da competição, 3 Coeurs, de Benoit Jacquot, não consegue fazer o espectador comprar a sua ideia básica, o que é fundamental para um gênero que brinca com a verossimilhança.

A noite do sábado teve sessão para imprensa de outro filme sobre jornadas pelo deserto, com pitadas de western: o francês Loin des Hommes (Longe dos homens, em tradução literal), de David Oelhoffen. O cenário, agora, é a Argélia de 1954, que se rebela para tornar-se independente da França. O professor Daru (Viggo Mortensen, colocando em prática suas habilidades de poliglota e falando francês, árabe e espanhol) é encarregado pelos franceses de levar Mohamed (Reda Kateb), acusado de matar o primo, a outra vila. No caminho, eles se deparam com soldados rebeldes e franceses e formam um laço. Os dois atores principais estão bem nesta boa adaptação do conto O Hóspede, de Albert Camus. Um alívio perto de The Cut.

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