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Fã do Brasil, Jorge Drexler retorna com show dançante

Cantor uruguaio se apresentará em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba com canções de seu novo disco, ‘Bailar en la Cueva’

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 mar 2015, 14h01

O cantor uruguaio Jorge Drexler, 50 anos, é um homem de aptidões e curiosidades diversas. Dançar, contudo, não parece ser uma delas. “Foi muito difícil aprender coreografias”, diz, sobre os embaraços de sua atual turnê. A falta de desenvoltura do músico é mote do clipe Universos Paralelos, no qual ele e três amigos exibem alguns passos ensaiados — e cômicos. Dançando bem ou não, Drexler promete apresentações animadas, com movimento corporal, na pequena turnê que traz agora ao país, com shows em São Paulo (nesta quinta), em Porto Alegre (nesta sexta) e em Curitiba (no domingo). Pena que a plateia de São Paulo e Curitiba terá que limitar seus movimentos, já que as apresentações serão com cadeira na pista.

A turnê é parte da divulgação de seu último disco, Bailar en la Cueva, que lhe rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de compositor e também um dos principais prêmios da cerimônia, o de gravação do ano, para a canção Universos Paralelos. “O disco foi pensado para o corpo. Para provocar movimento. Digo que é um álbum escrito a partir dos pés”, conta.

O compacto é um experimento gratificante para quem acompanha a carreira do uruguaio. Um antigo fã de folk, de ritmos latinos e especialmente de MPB, o cantor conhecido por músicas comoventes se mostra leve, fora da caixa e mais próximo do público.

Com um português perfeito – que ele conta ter aprendido ouvindo João Gilberto -, Drexler fala ao site de VEJA sobre seu relacionamento com o Brasil, o sonho de fazer um disco por aqui e como saiu contente do Oscar, apesar de ter sido esnobado pela Academia de Hollywood, que colocou Antonio Banderas para cantar em seu lugar a música Al Otro Lado del Rio, do filme Diários de Motocicleta, em 2005.

O senhor teve contato cedo com a música brasileira. Como se deu essa experiência? O Uruguai tem uma relação muito forte com o Brasil em todas as áreas da atividade humana, entre elas a cultura e a música. Desde menino, eu ouvia muitas canções brasileiras em casa, especialmente de cantores da MPB, como Chico Buarque e Caetano Veloso. Foi só nos anos 1980 que eu conheci o João Gilberto e o disco Chega de Saudade. Ele foi uma grande mudança na minha percepção da música popular. Foi a partir deste momento que comecei a compor.

Qual o peso da cultura brasileira na sua carreira? Tenho uma ligação pessoal com a música brasileira. Comecei a viajar pelo Brasil desde pequeno. Aos 18, fui até Salvador, na Bahia, e viajei por dois meses pelo país pegando carona. Nunca tive aulas de português, aprendi o idioma cantando. João Gilberto foi meu professor. Então, o Brasil exerce uma forte influência na minha vida.

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Como o senhor classifica Bailar en la Cueva na sua carreira? O disco foi pensado para o corpo. Para provocar movimento. Digo que é um álbum escrito a partir dos pés. De todos meus trabalhos, este é de longe o mais latino. Pela primeira vez, saí da sonoridade regional e fui para a continental. Há vinte anos, eu vivo em Madri, na Espanha, mas fiz este disco inteiro na Colômbia, o que também trouxe uma forte presença do ritmo colombiano.

Alguns trechos do novo disco usam a palavra falada no meio da canção, recurso que você já usou em trabalhos do passado. Por que retornou ao estilo? Gosto muito da palavra falada em meio à cantada. A fala em uma música cria um contato diferente com quem ouve e tira a proteção da melodia, deixando o cantor mais exposto e vulnerável. A primeira vez que usei este recurso foi muito difícil, há dez anos, no disco Eco. Levei muitos dias para aprender a falar em uma canção. Tão difícil quanto aprender a dançar, como agora. Foi muito difícil aprender as coreografias para os shows.

O que o fez dar mais atenção para a dança? Gosto do ser humano do jeito mais completo que você possa imaginar. Gosto da mistura de ideia, sentimento e movimento. E eu sentia que tinha trabalhado mais as ideias e as emoções do que o corpo nas canções. Foi então que tentei me completar como pessoa e artista.

Bailar en la Cueva foi gravado na Colômbia. Tem planos de fazer um disco inteiro em português e no Brasil? Esta é uma ideia que tenho na cabeça há tempos. Sim, com certeza farei isso, talvez no próximo álbum. Tenho um forte de desejo de gravar no Brasil e em português.

Sabe compor bem em português? Na verdade, sou muito cuidadoso com a linguagem, então tentei poucas vezes escrever em português. Às vezes, sou respeitoso demais com línguas estrangeiras (risos). Respeito é bom, mas tenho demais, acho que deveria desrespeitar um pouco o idioma. O Caetano, por exemplo, usa de muita liberdade com outras línguas, como em Soy Loco por ti, América. Essa frase não tem sentido em espanhol, o correto seria ‘Estoy Loco por ti, América’. É maravilhosa essa liberdade artística que ele tem. Mas meu problema é ser sério demais, estou trabalhando nisso (risos).

Apesar de ser famoso mundialmente, o senhor também nunca fez um disco em inglês, como muitos artistas latinos. Planeja gravar um? Sim. Tenho muito mais interesse pelas coisas do que realmente conseguirei fazer na minha vida. Sou muito curioso e ávido de experiências, mas faço o que posso, não tudo o que quero.

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Como foi a experiência de participar do tributo aos 70 anos de Nelson Motta, em 2014? Nelson é uma das personalidades da música brasileiras que eu mais respeito e tive a maravilhosa experiência de me tornar seu amigo. A combinação de admiração e amor foi muito importante nessa versão que eu gravei de Como uma Onda no Mar. Geralmente, não fico muito contente com versões que faço de outros cantores, mas neste caso fiquei bastante feliz.

O senhor ganhou o Oscar de melhor canção, em 2005, com a canção Al Outro Lado Del Rio. Porém, a Academia de Hollywood preferiu colocar Antonio Banderas para cantar no seu lugar. Guarda alguma mágoa daquele dia? Não guardo mágoa. Foi um dia muito importante na minha vida e, no final, as coisas saíram da melhor maneira possível. Eu ganhei, eu cantei, consegui interpretar a música no palco a capela, sem o arranjo feio que eles fizeram para o Antonio Banderas. Gostei muito mais do resultado artístico da minha versão do que da versão faraônica que eles produziram antes. Além disso, este não é meu mundo. Eu fui ao Oscar como se estivesse visitando outro planeta. Como um escafandrista, coloquei a roupa e entrei em um mundo alheio ao meu. Foi muito interessante e divertido, foi bom, mas não é meu mundo.

Antes de ser músico, o senhor se formou em medicina. Por que escolheu essa profissão? Sou uma pessoa de desenvolvimento pessoal lento. Sempre fui o último a descobrir o que eu queria da minha vida. Entrei na faculdade de medicina sem pensar. Meu pai é médico, minha mãe, meu irmão, minha irmã, meu tio, quase toda família é formada por médicos. Então, achei natural esse caminho. Depois de muitos anos, tive uma crise vocacional, mesmo assim, terminei a faculdade, pois pensei em fazer as duas coisas, música e medicina. Meus dois primeiros álbuns eu paguei com a medicina. Quando viajei para a Espanha, com o Joaquín Sabina, fui tão bem aceito na Europa que entendi que não precisava mais da medicina para viver, então deixei de um dia para o outro, sem remorso.

O que podemos esperar dos shows no Brasil? Serão shows dançantes e muito importantes para mim, pois fecharemos a turnê no Brasil. Somos uma equipe de doze pessoas, amigos, viajando o mundo. Foram mais de noventa shows em diversos países. Então, será uma festa de encerramento bastante emotiva e que deixará saudade.

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