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‘Eu não duraria 20 minutos em Marte’, diz Matt Damon

Em ‘Perdido em Marte’, de Ridley Scott, ele interpreta um astronauta deixado para trás no Planeta Vermelho depois de uma tempestade

Por Mariane Morisawa, de Budapeste
3 out 2015, 08h59

A reportagem do site de VEJA esteve onde nenhum homem jamais pisou, no solo de Marte. Claro que, graças à magia do cinema, ele ficava no conforto de um enorme estúdio nos arredores de Budapeste, na Hungria. Lá foi filmada boa parte de Perdido em Marte, que marca a volta de Ridley Scott (Alien – O 8º Passageiro, Prometheus) ao espaço. No dia da visita ao set, era rodada a sequência da tempestade monstruosa que faz voar uma antena de satélite direto no abdômen do astronauta Mark Watney (Matt Damon), dado como morto e deixado para trás no Planeta Vermelho por seus companheiros de missão, liderados pela Comandante Melissa Lewis (Jessica Chastain). Quando se descobre sozinho, Watney precisa fazer de tudo para sobreviver, já que a próxima missão está prevista para dali a quatro anos. Ele explora ao máximo os conhecimentos científicos que tem e chega a bolar um jeito de fazer chover sobre uma plantação de batatas – para azar do personagem, a Nasa só anunciou nesta semana a descoberta de água no planeta. Ridley Scott, aliás, declarou que sabia fazia meses da presença de água em Marte, já que a agência espacial americana colaborou de perto com a produção. Mas ele não podia divulgar – muito menos usar a informação no filme. Pobre Watney.

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O astronauta é o segundo viajante do espaço interpretado por Matt Damon, que também vestia roupa da Nasa e estava sozinho em um planeta em Interestelar, de Christopher Nolan. Mas os personagens não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Mann era um sujeito pouco confiável, Mark Watney é um querido. Um eterno otimista, sempre bem-humorado, apesar das adversidades. Damon, de 44 anos, enfrentou problemas nesta semana ao declarar que atores deveriam preservar a vida íntima – e permanecer no armário, se gays, por consequência. Em Budapeste, porém, estava como sempre, simpático e brincalhão, mesmo a minutos de ter um monte de terra jogado sobre ele por ventiladores gigantes.

Agora é assim: precisamos de um astronauta perdido no espaço, vamos chamar Matt Damon? Clooney está perdido no espaço até hoje! (risos.) Está lá flutuando, mas está perdido, na verdade. (Em Gravidade, o astronauta interpretado por George Clooney perde contato com a personagem de Sandra Bullock e não consegue regressar à Terra.)

Você enfrentou brincadeiras por engatar dois papéis de astronauta um no outro? A primeira coisa que disse para Ridley Scott, quando ele me convidou para o filme, é que tinha feito essa ponta em Interestelar, em que interpreto um cara sozinho em um planeta. Aí, tiro um ano e meio de folga e volto como um cara sozinho em um outro planeta (risos). “Pode ser uma má ideia”, falei. Ridley riu, disse que os filmes eram muito diferentes, que o tom era totalmente outro. Fora que a capacidade de atenção das pessoas é tão pequena que, na estreia de Perdido em Marte, ninguém mais vai se lembrar de mim em Interestelar.

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Já se acostumou à roupa de astronauta? Sim, sim. Os figurinistas pesquisam o que a Nasa está fazendo. Os trajes de Interestelar e de Perdido em Marte são similares no design, eles têm a mesma coisa nas costas, é como se alguém estivesse pendurado nos seus ombros o dia todo. Há algumas diferenças, claro, mas são similares.

Qual a maior razão para fazer o filme? Ridley Scott. E era um excelente roteiro. Drew Goddard, que escreveu o script, ia originalmente dirigir, e já estávamos conversando. Mas aí o chamaram para fazer o novo Homem-Aranha, que era o sonho de sua vida. Achei que o filme não ia acontecer. Mas Ridley Scott leu o roteiro, gostou e resolveu fazer.

Qual a diferença entre os sets de Ridley Scott e de Christopher Nolan? Bem, são similares de muitas maneiras. Acho que já disse isso, que os grandes cineastas com quem trabalhei são todos parecidos, no sentido de que ouvem a opinião de quem está em volta. Se você for lá agora atrás de Ridley, vai ver umas 50 pessoas em volta dele para falar de coisas diferentes, dar sugestões, e ele vai ouvindo e tomando as decisões. Tanto ele quanto Chris Nolan estão no controle, e fazem filmes grandes.

O que aprendeu com ele? Ele me lembra Steven Soderbergh e Steven Spielberg, porque edita o filme na cabeça enquanto filma. Sabe exatamente o que vai fazer. Ele é um grande artista, faz storyboards e passa alguns dias falando sobre o filme inteiro, da primeira à última cena, antes de começar a rodar. Ele pensa visualmente e fala como montador. Soderbergh sempre diz que cada tomada é específica, que uma cena tem de se conectar ou colidir com a próxima. A única desculpa para uma má atuação é se você não entendeu em qual filme estava. Se um diretor consegue fazer você entender o que é o longa, você não tem desculpa para uma performance fraca.

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Teve de perder peso para esse papel? Sim. No começo, tinha de estar em forma, parecer um astronauta. Mas aí, no fim, precisei emagrecer.

Como fez, houve uma parada na produção? Sim. A ideia original era começar pelo fim, porque eu não trabalhei durante um ano e meio, a não ser por umas duas semanas em Interestelar. Então, daria para perder peso durante uns seis meses. Mas Ridley disse que não, por causa da maneira como ia rodar, preferia começar com a fase astronauta. Não tive tempo, não deu para fazer muita coisa nesse período. O emagrecimento e as mudanças no corpo de Watney foram acentuadas com maquiagem e outros truques (como computação gráfica).

Seu personagem fica sozinho por muito tempo. Você lida bem com a solidão? Em relação às habilidades necessárias para conseguir sobreviver, não sou bom, morreria em 20 minutos. Sou só um ator. “Como assim, ninguém vai me trazer um café?” (risos) Eu cometeria suicídio (risos). Mas a parte da solidão é algo que tento proteger na minha vida. A tecnologia tem muita coisa legal, mas a habilidade de ser reflexivo está se perdendo. É preciso praticar, colocar o celular de lado e sair para dar uma caminhada. Como era antigamente. É daí que vêm as melhores ideias, da reflexão. Um pouco de solidão seria ótimo. Mas eu não duraria muito tempo sozinho, não.

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Na maior parte do filme, você está sozinho, sem ninguém para contracenar. Somos eu, Ridley Scott e Marte (risos). Sim, essa foi uma das razões pelas quais queria estar em Perdido em Marte. Fiz muitos longas. Já disse que Ridley Scott e o roteiro me fizeram embarcar no filme. Mas havia também a possibilidade de fazer esse monte de coisas sozinho. Claro que há muita ação, várias coisas acontecem, senão seria um filme experimental.

Seu personagem é extramamente inventivo. Sim. Drew, que escreveu o roteiro, apaixonou-se pelo livro de Andy Weir que deu origem ao filme (Perdido em Marte, lançado no Brasil pela editora Arqueiro). Li entrevistas com Weir em que ele disse que bolou essa premissa e deixou a ciência ditar o que aconteceria. Segundo ele, um cientista se comportaria nessas circunstâncias como Watney. Para Drew, o filme é uma carta de amor à ciência.

Para quem está sozinho em Marte, seu personagem é muito entusiasmado. Como acreditar nessa premissa? Acho que os astronautas precisam ter essa mentalidade de “Vamos resolver o problema que está à nossa frente”. Um astronauta não vai ficar sentado se lamentando, porque isso não vai melhorar a sua situação. Ele vai agir para melhorar sua condição. Então, está fora de questão a crise existencial. Este personagem vai fazer de tudo para sair dele.

Qual seu interesse em ciência? Não faço ciência no meu tempo livre, claro, mas acompanho o que minhas filhas fazem. Tento ler sobre o assunto porque tudo está mudando com a tecnologia, estou interessado no futuro. Tento imaginar o mundo em que minhas filhas vão viver, porque tudo está se transformando exponencialmente. A vida que elas vão viver não vai ser muito semelhante à de agora. Isso é interessante para mim.

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Pouca gente sabe o que sente um astronauta quando vê a Terra se distanciando. Como se preparou para viver esse momento? O fato de pouca gente saber joga a meu favor, não é? Posso estragar tudo, e quase ninguém vai perceber! Mas o fato é que um ator não precisa ir tão longe. Tive apenas de pensar nos momento em que não estou com minha família, as minhas filhas. Fica fácil sentir solidão quando se está fora de casa. Para um ator, isso basta. No passado, talvez eu tivesse passado um mês em um floresta para me preparar. Agora que tenho quatro filhas, não mais.

Conversou com psicólogos? Não. Li o livro e o roteiro. Acho que tudo de que precisamos está lá. O filme não fala sobre o colapso de alguém desolado. Se fosse esse o caso, poderia fazer sentido. Mas Perdido em Marte não é isso.

Consideraria sair em uma viagem espacial? Realmente admiro quem faz. Estou pensando aqui, agora, que provavelmente eu não seria um dos pioneiros, um daqueles que subiram em uma carroça em direção ao desconhecido. Mas é isso o que os seres humanos fazem, ou não estaríamos aqui. Então, vou deixar as viagens espaciais para os outros. Vou fazer só no cinema.

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