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Equipe de ‘Liberdade, Liberdade’ fala da 1ª cena de sexo gay da TV aberta

Sequência com os atores Ricardo Pereira e Caio Blat está prevista para ir ao ar no dia 12

Por Da Redação
5 jul 2016, 11h17

Está gravada e editada a primeira cena de sexo entre dois homens na TV aberta brasileira. Apesar de todo o suspense criado em torno da sequência que une o militar Tolentino, personagem de Ricardo Pereira, e André, vivido por Caio Blat, na novela das 11 da Globo, Liberdade, Liberdade, sabe-se que haverá nu traseiro, que seu tempo no ar será longo, precedido por uma discussão entre o par em questão, e que o conteúdo sexual foi “esvaziado”, nas palavras do diretor Vinicius Coimbra, em detrimento do aspecto afetivo.

Mas “está tudo ali, a cena tem tudo”, prometem Blat e Pereira. Os dois, assim como o diretor e o autor, Mario Teixeira, falaram sobre o episódio, previsto para ir ao ar no dia 12 de julho.

Considerada sodomia, a homossexualidade era tratada como crime de lesa- majestade naquele início de século XIX. “O que importa são as consequências desse momento, e as consequências serão nefastas”, explica Teixeira. “Naquela época, a sodomia era considerada crime, com enforcamento. Não era nem preconceito, porque o conceito de homossexualidade nem existia, era tratado como ato inatural, como pecado.”

Autor, diretor e atores enfatizam sobretudo a questão da intolerância presente na novela em vários aspectos, como na questão da segregação dos negros, na religião, na violência doméstica, na violência contra os insurgentes à Coroa e contra a mulher. “Estou muito feliz por ter feito essa cena e pelo fato de a Globo bancar isso, não só essa temática da homossexualidade, mas voltar a abordar a questão do negro, da violência contra a mulher, vários casos horrorosos, e isso vem num ótimo momento, em que a intolerância tem se mostrado tão nociva”, diz Coimbra. Assim, o caso entre Tolentino e André está absolutamente inserido nesse contexto, o que deu a todos uma margem de compreensão que vai muito além da cena em si.

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De todo modo, o ineditismo da situação exigia cuidados extras. “Quando recebi a cena, fiquei pensando como abordar, como fazer com que o público não repudie o casal, é uma cena difícil, como sempre foi na televisão”, explica o diretor, que continua: “A intolerância era um caminho, a gente tinha que tirar essa cena da situação homossexual e criar uma identificação com o público para que as pessoas se vejam naquela condição de não serem aceitas. Quando vi a cena, vi uma cena de amor e não de sexo, e tentei colocar o máximo de poesia para que o público torça por esse casal”. Ricardo Pereira acredita que a torcida já existe. “As pessoas que acompanham a novela pelo Twitter estão torcendo muito por eles”, diz.

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Tecnicamente, atores e diretor concordam que os cuidados no set são similares aos de qualquer cena com o sexo oposto. “Tivemos o mesmo cuidado”, garante Coimbra. “A gente trabalha com mais privacidade para que os atores fiquem muito à vontade, com o mínimo de pessoas no set”. E o que seria esse mínimo? “Ah, umas doze pessoas”, responde o diretor. “Adoro fazer essas cenas com mais tranquilidade, sempre tem alguém no set que não precisaria estar ali, então tiramos”. Caio Blat endossa: “Não tem constrangimento a mais por isso, tem o mesmo constrangimento de ficar nu na frente de colegas, de repetir a cena várias vezes, a mesma coisa que a gente tem com uma atriz”.

Teixeira ressalta que o maior conflito a ser enfrentado pelos dois não virá de forças externas, mas dos próprios personagens, em especial de Tolentino, um militar reprimido que não aceita sua orientação sexual. “O julgamento vai acontecer aos olhos da sociedade, eles serão considerados culpados, mas o amor sempre redime tudo. As pessoas eram castigadas de modo muito severo, eles vão pagar caro por isso, mas o grande drama desses personagens é interno. Eles vão sofrer por serem quem são”, revela o autor.

Com o típico comportamento de quem não se aceita nessa posição, Tolentino parte para a agressão sobre as mulheres. “No dia seguinte à gravação da nossa cena, filmei outra em que espanco uma prostituta e a sufoco, quase até a morte. É uma coisa muito forte também, muito delicada. Esse conflito, para Tolentino, é horrível, e ele vai se vingar dessa orientação nas meninas do bordel, na forma como ele maltrata as mulheres, na forma como vai bater em todo mundo, um ato de punição nele mesmo: ele vai tentar descobrir um montão de coisas que façam com que ele esqueça o que aconteceu.”

André vai tirar satisfação com o amigo, ao vê-lo com uma mulher, e alguém flagrará os dois juntos. Só o advogado será denunciado e preso. Mais ciente de sua orientação que o outro, não negará nem confirmará o que houve. Não à toa, a sequência teve referências fortes em filmes como O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, que enfocava a paixão entre dois cowboys no Oeste dos Estados Unidos, nos anos 1960. “Mas eu acho que a nossa história está mais para Morte em Veneza“, anuncia o autor. “Tem várias referências, a gente pesquisou também Almodóvar e outras fontes, mas depois que vimos toda a cena editada e montada, posso te dizer que a nossa é a mais bonita de todas”, promete Caio, que conta: “O Ricardo, quando viu, chorou, de tão linda que é”.

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(Da redação com Estadão Conteúdo)

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