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Em ‘Leviatã, a luta de um russo contra abusos do Estado

Filme em exibição na Mostra de Cinema de São Paulo fala de corrupção com direito a ironias certeiras contra o governo russo

Por Simone Costa
18 out 2014, 12h54

“Você consegue pescar com anzol o Leviatã ou prender sua língua com uma corda?”, pergunta o padre ortodoxo, citando o trecho bíblico do Livro de Jó. É para Kolia, um mecânico desesperançado, que o padre faz o questionamento. Apesar das referências religiosas em Leviatã (Leviafan, Rússia, 2014), longa do diretor russo Andrey Zvyagintsev, ganhador da Palma de melhor roteiro no Festival de Cannes, o leviatã do título remete mais ao do livro do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Em sua obra, o leviatã é o Estado, soberano absoluto, resultante da abdicação voluntária da liberdade individual irrestrita em nome de uma sociedade pacífica e ordeira. No filme, Kolia é pressionado a abdicar da casa onde vive com a mulher Lilya e o filho Roma, numa pequena cidade da Península de Kola, no noroeste da Rússia. Ali, onde também funciona sua oficina, a prefeitura pretende fazer um empreendimento e, para isso, quer confiscar o terreno.

O filme de Zvyagintsev é uma espécie de sátira política. O diretor já afirmou em entrevista que a crítica é sobre um tema universal, a luta contra o abuso de autoridades e contra injustiças. E a Rússia de Vladimir Putin não poderia ser cenário melhor para o drama. Aliás, uma das melhores cenas mostra fotos de figuras importantes da história russa, como Lenin e Mikhail Gorbachev, sendo alvejadas durante uma brincadeira de tiro ao alvo protagonizada por Kolia e seus amigos. Os líderes mais modernos, diz um dos amigos, ele deixará para quando tiverem “um pouco de perspectiva histórica”. A foto de Putin aparece também, mas emoldurada na parede bem atrás da cadeira de Vadim, o prefeito corrupto da cidade.

Leviatã começa num ritmo mais lento, em que Kolia e seu amigo de longa data Dmitri, advogado em Moscou, discutem como podem reverter a decisão da prefeitura. Aos poucos, novos ingredientes vão sendo acrescentados e as cenas ganham agilidade diante da tensão que aumenta. Em alguns momentos, o ritmo diminui novamente e as imagens apenas contemplam o desamparo de Kolia, que não quer deixar o lugar onde vários de seus antepassados viveram. Zvyagintsev consegue manter um mistério que o cenário mítico ajuda a reforçar. No lugar magnífico, carcaças de barcos e um enorme esqueleto de baleia, mais um dos elementos simbólicos que o diretor deixou ao longo do filme.

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Como nem só de política é feita a vida, Kolia ainda passa por outro drama envolvendo seu amigo Dmitri e sua mulher Lilya. O filho Roma sofre junto com o pai. Além desses personagens e do prefeito, o diretor conseguiu complementar a história com figuras interessantes, que são os outros amigos de Kolia. Eles estão sempre por ali e são personagens bem construídos, que ajudam a equilibrar a história. Ao final, o diretor ainda deixa um mistério para os espectadores.

Na Mostra:

18/10 às 22h40 – Reserva Cultural 1

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Avenida Paulista, 900 Tel: (11) 3287-3529

19/10 às 20h40 – Espaço Itaú de Cinema – Pompeia sala 1 – Bourbon Shopping

Rua Turiassu, 2.100 – Barra Funda – Tel: (11) 3673 3949

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