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Cannes: curta brasileiro filmado em Alagoas ganha elogios

‘Sem Coração’, exibido na mostra paralela Quinzena dos Realizadores, é co-dirigido por Tião e Nara Normande

Por Mariane Morisawa, de Cannes
23 Maio 2014, 16h19
Cena do curta 'Sem Coração'
Cena do curta ‘Sem Coração’ (VEJA)

O cinema pernambucano há algum tempo conquistou a crítica dentro e fora do Brasil. Agora ele repete o feito com Sem Coração, curta-metragem co-dirigido por Nara Normande e Tião, único trabalho brasileiro do 67º Festival de Cannes. A produção foi recebida com elogios na mostra paralela Quinzena dos Realizadores.

O filme baseia-se numa história da infância de Nara, ocorrida em uma praia de Alagoas, sobre uma menina que tem um marca-passo e é apelidada pelos garotos de Sem Coração. Embora atuem em parceria, os autores são de produtoras diferentes.

“No Recife existe um grupo de realizadores que são amigos. A gente troca muita ideia, usa o outro como teste, cobaia”, disse Kleber Mendonça Filho, diretora de O Som ao Redor. Ele destaca que o ciclo atual da produção pernambucana dura 20 anos e não dá sinais de fraqueza. “Percebo em lugares como Cannes uma curiosidade sobre a produção da cidade do Recife.”

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Na trama, Léo (Rafael Nicácio) é um adolescente de Maceió que visita o primo Vitinho (Ricardo Lavenère) numa vila de pescadores do litoral. Lá, conhece Sem Coração (Eduarda Samara). Todos eles foram encontrados em uma seleção local no Estado de Alagoas. “O desafio foi fazer um curta com orçamento de curta, num lugar distante, com atores não-profissionais e preparação de elenco”, afirmou a produtora Emilie Lesclaux, que é casada com Mendonça Filho.

A diretora Nara Normande falou ao site da VEJA logo depois da primeira exibição do filme em Cannes:

Como surgiu o projeto? O filme é baseado em fatos reais. Eu morei muito tempo, 14 anos, na praia. E alguns meninos começaram a falar em segredo sobre essa menina chamada Sem Coração. Aos poucos, fui descobrindo mais sobre ela. Ela era filha de pescador, tinha um marca-passo no coração. Essa história ficou marcada em mim. Muito tempo depois, conversando com Tião sobre projetos, mencionei essa história, e a gente achou que podia ser interessante. Aí foi criado o personagem de Léo, que é muito importante na história. Ele vem da cidade grande para conhecê-la nessa vila pesqueira.

De que forma se deu a parceria com o Tião? Ele foi meu assistente de direção em Dia Estrelado, meu primeiro curta. Somos de produtoras diferentes, mas dividimos o mesmo espaço. Foi muito bom dirigir juntos, não teve divisão de tarefas.

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Filmar na praia foi difícil? É superdifícil filmar em uma cidade que não é a sua. Acho que era mais logística mesmo, de sair de um lugar para o outro, muito sol na cabeça. Passei dois meses na praia, direto, numa praia que eu adoro, que ia muito quando era criança. Inclusive as cenas subaquáticas foram sensacionais. A gente passou quatro dias filmando embaixo d’água..

Vocês fizeram uma grande seleção de atores. O que estavam procurando? Desde o início, queríamos trabalhar com atores não-profissionais, que foram preparados pela Maeve Jinkins (atriz de O Som ao Redor). Como a história se passa numa vila de pescadores, a gente foi até lá e fez uma pesquisa grande. A ideia era ter pessoas locais. Foi assim que encontramos a menina que faz a personagem Sem Coração, que é filha de um pescador. Ela dá uma vida, dá uma coisa muito real para o filme.

‘Tatuagem’ (2013)

O longa de estreia do diretor Hilton Lacerda — conhecido por assinar o roteiro de filmes como Baile Perfumado (1996), Amarelo Manga (2002) e A Febre do Rato (2011) e por dirigir vídeoclipes de bandas do mangue beat como Chico Science & Nação Zumbi — apresenta uma irreverente trupe de teatro burlesco chamada Chão de Estrelas. O grupo, liderado pelo personagem Clécio Wanderley (Irandhir Santos), atua na noite recifense em pleno regime militar, em 1978. Clécio se apaixona pelo jovem soldado Arlindo Araújo, conhecido como Fininha (Jesuita Barbosa). A produção ganhou três prêmios no Festival de Gramado: melhor filme, melhor ator para Irandhir Santos e melhor trilha sonora para o DJ Dolores. E levou cinco estatuetas no Festival do Rio: melhor filme do júri, crítica e voto popular, melhor ator para Jesuíta Barbosa e melhor ator coadjuvante para Rodrigo García. 

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‘O Som ao Redor’ (2012)

O longa de estreia na ficção de Kleber Mendonça Filho apresenta a história de uma rua de um bairro de classe média no Recife. Apesar de viver em um local aparentemente seguro, a vizinhança se esconde em condomínios, atrás de muros e grades, em busca de segurança. Uma milícia chega ao bairro e oferece vigilância noturna particular. A presença do grupo traz alguma paz para moradores e apreensão para outros. O título foi o selecionado pelo Ministério da Cultura como representante do Brasil para concorrer a uma vaga entre os indicados a melhor filme estrangeiro no Oscar, em 2014. Bem recebido pela crítica internacional, O Som ao Redor conquistou o público em festivais internacionais como o de Roterdã, Nova York, São Francisco, Lisboa e Copenhague.

‘Doméstica’ (2013)

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No documentário dirigido por Gabriel Mascaro, sete adolescentes recebem uma câmera e a missão de filmar suas empregadas domésticas por uma semana. O filme foi lançado no Brasil este ano, próximo à discussão da chamada PEC das domésticas, legislação que reconhece o trabalho das empregadas do lar. Sensível, a produção mostra o olhar da classe média sobre a classe C e as profissionais que vivem em suas casas e se tornam parte da vida familiar. A produção de documentários em Pernambuco tem se mostrado tão inventiva e feliz quanto os longas de ficção do estado. Destaque também para O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas (2000), dirigido por Paulo Caldas e Marcelo Luna, sobre um justiceiro que atua no subúrbio; e Pacific (2009), de Marcelo Pedroso, outro em que as câmeras são entregues nas mãos dos personagens, desta vez, a bordo de um cruzeiro rumo a Fernando de Noronha. 

‘Eles Voltam’ (2011)

Cris, uma garota de 12 anos, é deixada com seu irmão na estrada pelos pais como forma de castigo por tumultuar a viagem de carro da família. Logo, a menina de classe média se vê sozinha em busca do caminho de volta para casa. A jornada toma proporções maiores quando ela conhece pessoas de classes mais baixas que vivem perto do local onde ela foi abandonada. Dirigido por Marcelo Lordello, brasiliense radicado em Recife, o filme ganhou o troféu Candango de melhor longa de ficção no Festival de Brasília em 2012, e também os de melhor atriz para a jovem Maria Luiza Tavares e de melhor atriz coadjuvante para Elayne de Moura. A produção está prevista para entrar em circuito comercial em março de 2014. 

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‘Cinema, Aspirinas e Urubus’ (2005)

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, um alemão, que veio para o Brasil para escapar ao confronto na Europa, e um brasileiro, que quer fugir da seca no sertão nordestino, se cruzam no interior de Pernambuco e se tornam amigos enquanto viajam entre povoados para vender aspirinas. A jornada leva os dois a aprender sobre as suas diferenças e a buscar, em estradas empoeiradas, solidariedade e amizade. O filme foi ovacionado após sua exibição no Festival de Cannes, em 2005, onde ganhou o prêmio de Educação Nacional e foi selecionado pelo Ministério da Educação da França para ser exibido em escolas. Escrito e dirigido por Marcelo Gomes, o longa também teve em seu roteiro a participação do cineasta cearense Karim Aïnouz, diretor de O Céu de Suely (2006). A dupla atuou em outras produções, como Madame Satã (2002), com Aïnouz na direção e Gomes no roteiro. Recentemente, Gomes lançou no circuito de festivais o filme O Homem das Multidões (2012), bem recebido na última Mostra de São Paulo, ainda sem previsão de estreia. 

‘Amarelo Manga’ (2003)

No filme de Cláudio Assis, um vasto grupo de personagens lida com uma teia de perigosas vinganças e desejos irrealizáveis. O nome do filme remete ao oposto do amarelo ouro, que lembra riqueza, e cai no tom mais embaçado e ofuscado da cor, relacionado a doenças, obsessões e violências. Amarelo Manga foi o primeiro longa-metragem de Assis, e conquistou prêmios nos festivais de Miami, Berlim e Toulouse. No Brasil, se consagrou com sete Candangos no Festival de Brasília, em 2001. Depois dele, Assis lançou Baixio das Bestas (2007) e A Febre do Rato (2011).

‘Era uma Vez Eu, Verônica’ (2012)

De Marcelo Gomes, mesmo diretor de Cinema, Aspirinas e Urubus, o filme conta a história de Verônica (Hermilia Guedes), jovem recém-formada em medicina que começa a vida profissional em um ambulatório público do Recife. A médica psiquiátrica vive com o pai e utiliza um gravador para falar sobre seus problemas, questionamentos e relações. O longa foi bem recebido no Festival de Toronto e em San Sebastian. No Brasil, ganhou sete prêmios no Festival de Brasília, em 2012, entre eles os de melhor filme por júri oficial e popular, melhor roteiro para Marcelo Gomes e o prêmio Vagalume de melhor longa-metragem, avaliado por um júri de deficientes visuais. 

‘Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo’ (2009)

Outra parceria do pernambucano Marcelo Gomes com o cearense Karim Aïnouz, o filme conta a história de um geólogo que, para espairecer após uma separação, faz uma viagem de trabalho por diferentes estados do nordeste. Com ares de documentário e narrado em primeira pessoa (no texto e na visão da câmera), o longa mostra cenas gravadas na Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará, e mistura uma história de ficção com a realidade do sertão. A produção ganhou diversos prêmios no Brasil e no mundo, entre eles os festivais de Santiago do Chile, de Cinema Brasileiro em Paris, Toulouse e o Festival do Rio. 

‘Baile Perfumado’ (1996)

Parte da retomada do cinema pernambucano, que abriu caminho para a atual leva de produções local, o filme Baile Perfumado (1996), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, conta a história do libanês Benjamim Abrahão, o único que filmou Lampião e seu bando. Os acontecimentos vão desde a morte de Padre Cícero até a morte de Lampião. O roteiro assinado pelos diretores também contou com a participação de Hilton Lacerda, idealizador de Tatuagem (2013). A produção ganhou três prêmios no Festival de Brasília, de melhor filme de júri e crítica, melhor ator coadjuvante para Aramis Trindade e melhor direção de arte.

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