Por AE
São Paulo – Eles fizeram uma revolução. Os franceses do Cirque Plume foram pioneiros naquilo que se convencionou chamar “novo circo”. A partir dos anos 1980, ao lado dos canadenses do Cirque du Soleil, transformaram a maneira de se criar espetáculos para o picadeiro. Passaram a buscar inspiração na dança, na música, no teatro. Incorporaram novas tecnologias de luz, som e vídeo às suas criações.
Em sua segunda passagem pelo Brasil – já estiveram aqui em 2006 – o grupo da França abre nesta terça-feira a temporada de dança do teatro Alfa. Apresenta “L’Atelier de Peintre”, trabalho em que explora o universo da pintura e traz menções a obras de nomes como Picasso, Matisse, Klimt.
Na aparência, o espetáculo certamente soa diferente das primeiras obras do Plume: que serviram de matriz para tantas das vertentes circenses hoje em voga. A essência, porém, permanece inalterada, acredita Bernard Kudlak, diretor artístico e um dos fundadores da companhia. “O espírito por trás do Cirque Plume é sempre o mesmo”, disse ele em entrevista à reportagem. “Vimos com prazer o crescimento de todas as formas do circo. Assim, como observamos também a tentação por parte das elites culturais de influenciar o circo para moldá-lo à cultura conhecida das elites. Uma tentação à arte oficial. Mas os artistas, felizmente, são ardilosos e livres.”
Mesmo ao referenciar cânones da pintura, “L�Atelier de Peintre” não cede aos apelos do que seria uma arte dita de “bom gosto”. Não sacraliza nada. Faz questão de manter certo espírito anárquico. É dentro desse espírito que as sólidas figuras azuis de Matisse podem surgir de uma situação não apenas aparentemente despretensiosa. Mas também repleta de elementos cômicos.
A escolha dos artistas plásticos a serem convocados à cena não segue um princípio racional ou narrativo. O que leva o Plume a unir Klimt a Courbet? Ou a colocar lado a lado Ingres e Miró? “É o inconsciente que fez essas escolhas”, argumenta Kudlak. “Mas também a ideia de que a arte não reconhece o conceito de progresso. A pincelada da filha do oleiro Dibutades em torno da sombra de seu amante (criação do primeiro desenho na Grécia antiga) é contemporânea a Yves Klein ou aos grafiteiros das capitais do mundo.”
Traço identitário do Plume é seu requinte visual. Um apuro que poderia ajudar a explicar a aproximação com o universo das artes visuais nesse novo espetáculo. Mas o caminho não é bem esse, nos alerta o diretor artístico. Trata-se, na verdade, de uma investigação sobre tempos distintos do espectador na sua relação com as distintas manifestações artísticas. “Trabalhar com a pintura é uma forma de jogar com uma arte especial, que leva tempo para ser vista, em um formato que pede ritmo de circo. O homem pinta há 34 mil anos e as crianças continuam a pintar espontaneamente. A vontade de trabalhar com esse tema está enraizada nesse desejo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
CIRQUE PLUME
Teatro Alfa (R. Bento Branco de Andrade Filho, 722). Tel. (011) 5693-4000. 3ª a 5ª e sáb., 21 h; 6ª, 21h30; dom., 18 h. R$ 40/R$ 150. Até 5/8.