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Cineastas mulheres mostram sua força em Cannes

A alemã Maren Ade é uma das favoritas com a comédia dramática “Toni Erdmann”, a inglesa Andrea Arnold capta a energia juvenil em “American Honey”, enquanto a francesa Nicole Garcia provoca risos involuntários com “Mal de Pierres”

Por Mariane Morisawa, de Cannes
15 Maio 2016, 18h12

O Festival de Cannes sempre enfrenta algumas críticas pela falta de mulheres na competição. Os dois anos anteriores tiveram duas cada. Em 2013, uma. Em 2012, zero. Com um presidente do júri como George Miller, diretor do feminino Mad Max – Estrada da Fúria, e três longas dirigidos por mulheres nesta edição, será que chegou a hora de uma Palma de Ouro feminina? O resultado só sai no próximo domingo, dia 22, mas as três concorrentes já apresentaram suas armas.

A primeira foi a alemã Maren Ade, com seu terceiro longa-metragem, Toni Erdmann. A cineasta faz uma profunda exploração de dois personagens. Winfried (Peter Simonischek) é um professor de piano bem-humorado e sem alunos, que resolve visitar de surpresa a filha depois da morte de seu cachorro. Ines (Sandra Hüller) mora em Bucareste, onde atua numa consultoria. Ela abraçou totalmente a vida corporativa: só usa terninhos e o cabelo preso em coques e faz expediente mesmo à noite, indo a coquetéis com o objetivo único de fazer contatos e média. A chegada do pai, com quem tem pouco contato, deixa Ines completamente desconcertada. Pior ainda quando, ao tentar ter um acesso à filha emocionalmente indisponível, Winfried inventa o personagem de Toni Erdmann, com peruca e dentes postiços. Quando Toni aparece, é sempre em momentos inoportunos, em que Ines precisa ser fria e profissional. Claro que o conflito se instala. Mas é assim também que Winfried empurra sua filha para fora daquele casulo em que se refugiou.

Utilizar Toni Erdmann, um personagem constrangedor, é um recurso ousado, que poderia ter dado bem errado e tornado o filme um programa de humor sem graça. Maren Ade consegue fazer rir e chorar praticamente ao mesmo tempo. Mesmo as sequências mais absurdas e engraçadas contêm uma melancolia que emociona e faz avançar o relacionamento entre pai e filha, um confronto não apenas de gerações como de visões diferentes de mundo. Há cenas verdadeiramente surpreendentes, e uma delas chegou a ser aplaudida durante a projeção, algo raro para uma sessão de imprensa em Cannes. Sem ser panfletária, Ade também mostra o machismo que uma executiva como Ines precisa enfrentar, chegando ao absurdo de seus chefes preferirem a presença do personagem surreal criado por seu pai do que ela sozinha. Dificilmente Toni Erdmann sai sem prêmios.

A inglesa Andrea Arnold exibiu American Honey, seu quarto filme e o primeiro rodado nos Estados Unidos. A protagonista é a adolescente Star (a ótima estreante Sasha Lane), que vive uma situação barra-pesada em casa, com pobreza extrema – chega a revirar o lixo para encontrar comida -, abandono e abuso sexual. No estacionamento de um supermercado, numa daquelas zonas comerciais de beira de estrada tão comuns pelo país, ela vê Jake (Shia LaBeouf). O rapaz lhe oferece um trabalho: vender assinaturas de revistas. Desesperada para deixar para trás sua vida e encantada por Jake, Star aceita e junta-se a uma turma de jovens liderada por Krystal (Riley Keough, neta de Elvis Presley), que roda por Estados como Oklahoma, Nebraska, North e South Dakota.

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Arnold não costuma usar tramas muito complexas, e é a mesma coisa aqui. Seu objetivo é mergulhar no universo daqueles garotos e garotas, o que ela consegue com imagens sensoriais captadas por seu diretor de fotografia habitual, Robbie Ryan. Os jovens, interpretados por atores iniciantes encontrados em testes pelos Estados Unidos, divertem-se muito, trabalham um bocado e cometem pequenos crimes. Com o arrojo típico da adolescência, Star se coloca em perigo inúmeras vezes, tem uma atitude em geral desapegada em relação ao sexo, apaixona-se pela primeira vez. Para ela, a viagem é uma jornada de crescimento. Há alguns furos, como a polícia que jamais aparece, e uma atuação exagerada de LaBeouf, que destoa do tom absolutamente naturalista do resto do elenco. Mas não dá para negar a energia de American Honey, que pode muito bem levar algum troféu.

Mal de Pierres, da francesa Nicole Garcia, só sai premiado se der a louca no júri. O longa-metragem é sem dúvida o mais fraco apresentado até aqui. A personagem principal é Gabrielle (Marion Cotillard), uma mulher incompreendida por entregar-se ao amor e assumir seu desejo sexual nos anos 1950. Sua primeira paixão é o professor de história, o que rende cenas desajeitadas, pois, por mais que Cotillard seja linda e uma grande atriz, fazê-la interpretar uma adolescente é um tanto forçado. Preocupada com o que considera a loucura de sua filha, a mãe fazendeira resolve casá-la com um camponês, José (Alex Brendemühl). Acometida por cólicas renais (o mal de Pierres do título), Gabrielle é internada num spa, onde conhece o veterano da Guerra da Indochina André (Louis Garrel), em estado de saúde delicado. Mesmo assim, ela fica obcecada pelo novo amor e rejeita o marido eternamente compreensivo. O final, ridículo, foi recebido com risos involuntários na sessão de imprensa.

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