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Christian Bale reflete sobre o vazio da vida em ‘Knight of Cups’

Por Mariane Morisawa, de Berlim
12 fev 2015, 11h31
Cena do filme 'Knight of Cups'
Cena do filme ‘Knight of Cups’ (VEJA)

Em Terrence Malick, é preciso acreditar. Entrar na sessão disposto a ser levado por suas vozes em off fazendo considerações filosóficas e a embarcar em uma sucessão de imagens que jorram como fluxo de memória. Não à toa, as únicas manifestações audíveis depois da sessão de imprensa, no início da tarde do último domingo, foram um grito de “Horror!” e outro de “Bravo!”. Verdade que Knight of Cups não é o melhor dos filmes de Terrence Malick, nem mesmo se forem contados os mais recentes – A Árvore da Vida, Palma de Ouro em Cannes, é superior. Mas é bom ver um cineasta desse porte com vontade de filmar, ainda mais porque ele sempre foi um pouco lento, lançando sete longas em 41 anos.

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No filme, Christian Bale é Rick, um roteirista famoso de Hollywood que, apesar do sucesso, percebe um vazio dentro de si. Vaga por festas e reuniões, observa tudo e pouco fala. Em sua jornada em busca de si mesmo, lembra as mulheres com quem se relacionou, interpretadas por atrizes como Natalie Portman, Cate Blanchett, Imogen Poots, em visões idealizadas que só o tempo pode fixar. “É alguém que procura uma satisfação da alma que dê um sentido para sua vida”, disse Bale em coletiva de imprensa – ele, Natalie Portman e os produtores ficaram encarregados de falar sobre o filme, já que Malick não faz aparição oficial há décadas.

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Los Angeles é praticamente uma personagem do filme. “Há muitos elementos que são ridiculamente superficiais e feios, mas, mesmo assim, há beleza e substância”, afirmou o ator. Sobre o vazio que o personagem sente, Bale acha que não é algo típico de quem mora em Los Angeles ou faz carreira em Hollywood. “Você também não sente isso?”, perguntou ao repórter. “É uma coisa universal, não?”

Bale não tinha um roteiro para seguir, apenas conversou com Terrence Malick sobre o personagem e seu passado. Os outros atores, sim, recebiam algumas páginas, com sugestões de diálogos e ideias, como explicou Natalie Portman. “Em cada cena não sabia o que ia fazer, ele me empurrava e víamos o que acontecia”, disse Bale. “Com Terry é muito confortável fazer isso, ele é um homem adorável. Nosso mantra era começar antes de estarmos prontos. Há muitos acidentes felizes.” Portman disse que foi uma sorte trabalhar com o cineasta logo antes de dirigir seu primeiro filme, A Tale of Love and Darkness, baseado num livro de Amos Oz. “Ele me lembrou que as regras, os rituais, não são necessários. Você pode encontrar sua própria maneira e pode abraçar os problemas. Se começa a chover, rode na chuva. Aceite o desconhecido, a sorte.”

El Botón de Nácar Knight of Cups foi o primeiro longa-metragem da competição com um protagonista masculino – sem contar, claro, o emocionante documentário El Botón de Nácar (“o botão de madrepérola”), do chileno Patricio Guzmán, exibido na noite do sábado. Os dois filmes guardam certas semelhanças, como a abordagem filosófica sobre a vida. Guzmán, diretor de A Batalha do Chile, sobre o golpe que depôs o presidente Salvador Allende em 1973, compõe um painel que relaciona a água de onde nasce a vida com o cosmos, os povos indígenas devastados na Patagônia Ocidental e os desaparecidos durante a ditadura militar de Augusto Pinochet. Se seu filme anterior, Nostalgia da Luz (2010), tratava o deserto do Atacama, no extremo norte do país, como o cemitério onde foram depositados corpos dos dissidentes mortos em sessões de tortura, em El Botón de Nácar é a vez de falar do mar e da região no extremo sul. O título refere-se a um botão grudado em um pedaço de trilho de trem, uma prova de que os pedaços de ferro eram amarrados aos corpos lançados ao mar, para que afundassem. É raridade assistir a um filme tão impactante.

Ixcanul Os indígenas de outra região latino-americana, a Guatemala, estão no centro de Ixcanul, de Jayro Bustamante, que estreia na direção de longas. A protagonista é a adolescente maia María (María Mercedes Coroy), que mora numa fazenda de café aos pés de um vulcão de nome Ixcanul. Seus pais arranjam um casamento com o capataz Ignacio (Justo Lorenzo), mas ela sonha fugir para os Estados Unidos com Pepe (Marvin Coroy). Com sutileza, o diretor fala de machismo, poder feminino e da situação dos maias no país.

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Bem menos delicado é Journal d’une Femme de Chambre (Diário de uma empregada, em tradução direta), produção França-Bélgica em que o diretor Benoit Jacquot repete a parceria com Léa Seydoux – eles fizeram juntos Adeus, Minha Rainha. Se, naquele filme de 2012, a atriz fazia uma empregada da corte de Maria Antonieta, nesta adaptação da obra de Octave Mirbeau interpreta uma empregada que sai de Paris para trabalhar numa cidade do interior, na casa da rígida Madame Lanlaire (Clotilde Mollet). Ela precisa lidar com o assédio de vários homens, inclusive o Sr. Lanlaire (Hervé Pierre). Céléstine critica os patrões e ri deles pelas costas, assim como de homens em geral. Mas fica fascinada com o misterioso jardineiro Joseph (Vincent Lindon), por quem é capaz de fazer coisas inimagináveis.

É mais ou menos o caso da boba personagem-título de Victoria, do alemão Sebastian Schipper. A garota de Madri, que mora agora em Berlim, sempre viveu numa redoma – estudou por anos no conservatório. Uma noite, Victoria (Laia Costa) conhece quatro amigos alemães: Sonne (Frederick Lau), Boxer (Franz Rogowski), Blinker (Burak Yigit) e Fuss (Max Mauff). Desde o início, dá para ver que não vai dar certo. E, realmente, enquanto se encanta cada vez mais com Sonne, ela topa ajudar em um esquema para Boxer pagar uma dívida de seus tempos de prisão. Victoria, coitada, precisava de um estágio de um mês numa cidade brasileira para ficar mais esperta. O principal “atrativo” é ter sido rodado em um único plano-sequência de 2 horas e 15 minutos – que duram uma eternidade, aliás, com os diálogos improvisados dos personagens que 90% do tempo apenas reproduzem diálogos de adolescentes e jovens sem problemas reais na vida. As situações são tão surreais, apesar do clima naturalista, que provocaram risadas da plateia de jornalistas.

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‘Nadie Quiere La Noche’

Nascida em Barcelona, Isabel Coixet vai à Groenlândia para contar a história de Josephine (Juliette Binoche), mulher de um explorador do Ártico que parte para as terras geladas e acaba descobrindo afinidades com Allaka (Rinko Kikuchi), uma mulher inuit. O longa, que está em competição, abre o 65º Festival de Berlim.

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Jafar Panahi conduz pessoas pelas ruas de Teerã em seu novo filme, ‘Táxi’ (VEJA)

https://www.youtube.com/embed/wb3oUM4TQp4
‘Life’

O holandês Anton Corbijn fotografou alguns dos maiores nomes da música, como David Bowie, Bob Dylan, Bruce Springsteen e Miles Davis e teve uma longa colaboração com o U2. Seu filme de estreia, Control, falava sobre o líder do Joy Division, Ian Curtis. Seu quarto longa, Life, mostra a relação entre o fotógrafo Dennis Stock e James Dean.

https://www.youtube.com/embed/SI2j1FHCjtM
‘Knight of Cups’

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Em 41 anos, Terrence Malick lançou apenas sete longas-metragens. Mas ele deu uma acelerada nos últimos tempos, estreando A Árvore da Vida em 2011, Amor Pleno em 2012 e agora Knight of Cups, sobre um ator de Hollywood (Christian Bale) à procura de significado na vida. Natalie Portman e Cate Blanchett também estão no elenco. 

https://www.youtube.com/embed/fXEYqXE4_sg
‘Que Horas Ela Volta?’

Diretora de Durval Discos (2002), É Proibido Fumar (2009) e Chamada a Cobrar (2012), a paulistana Anna Muylaert foca seu novo filme em Val (Regina Casé), empregada faz anos de uma mesma família. Sua filha Jéssica (Camila Márdila), com quem não se encontra há uma década, aparece de repente, alterando o delicado equilíbrio da casa.

https://www.youtube.com/embed/g9LnLOR3_ks
‘Everything Will Be Fine’

Numa noite de inverno, Tomas (James Franco) não consegue frear seu carro a tempo e acaba pegando Christopher e seu irmão, filhos de Kate (Charlotte Gainsbourg). Anos mais tarde, Christopher (Robert Naylor) resolve procurar o homem que transformou sua vida para sempre. O alemão Wim Wenders filmou essa história de culpa e perdão em 3D.

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‘Cinquenta Tons de Cinza’

A adaptação do best-seller de E. L. James finalmente chega aos cinemas depois de alguns percalços, como a troca do ator principal. Dakota Johnson é Anastasia Steele, a estudante ingênua que cai nas garras do milionário Christian Grey (Jamie Dornan), chegado em umas práticas sadomasoquistas. O filme é dirigido por Sam Taylor-Johnson, de O Garoto de Liverpool.

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