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Biliar, Jake Gyllenhaal se supera no mediano ‘Nocaute’

Dirigido por Antoine Fuqua, de ‘Dia de Treinamento’, o longa traz o ator como o boxeador Billy ‘The Great’ Hope, campeão mundial de boxe que perde tudo o que tem após desastre familiar

Por Daniel Dieb
10 set 2015, 12h50

No dicionário Houaiss, o substantivo “superação” é definido como o “ato ou efeito de superar, sobrepujamento; ação de vencer, alcançar; elevar-se acima de, superar”. O termo se aplica ao boxeador Billy “The Great” Hope e ao seu intérprete, Jake Gyllenhaal (O Abutre), no longa Nocaute, que estreia nesta quinta-feira. Porém, o adjetivo não pode ser usado para o diretor Antoine Fuqua. Enquanto o cineasta se mantém no patamar de outras produções suas, como o bom Dia de Treinamento (2001), Gyllenhaal entrega a bile e as vísceras de um personagem que não tinha nada, fica rico, perde tudo e tenta dar a volta por cima.

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Órfão e de origem pobre, Hope é um campeão mundial dos meio-pesados que está na fase final de sua carreira, mas vê tudo aquilo que conquistou ir por água abaixo após um desastre familiar. A fim de provar para os outros, especialmente para sua filha, Leila (Oona Laurence), e para si mesmo que ainda é um campeão, Hope desafia Miguel Escobar (Miguel Gomez), pugilista que o derrotou e está envolvido no incidente que o abalou, a uma revanche. Para retomar o cinturão e sua antiga vida, ele recorre ao treinador Tick Wills (Forest Whitaker), que o ensina a controlar e usar conscientemente a raiva.

Gyllenhaal expele a cólera de forma crua, e transmite com perfeição traços particulares de seu papel, como a melancolia do luto e a impotência que o lutador sente ao ver sua filha se distanciar. Sem necessidade, esses sentimentos, assim como a raiva, são elevados ao quadrado por Fuqua, que cria uma dramaticidade exacerbada com cenas que sugam o máximo do lado emocional da trama, normalmente acompanhadas por músicas que parecem forçar o espectador a sentir algo.

Um bom exemplo de como Fuqua interfere na trama mais que o necessário é o momento em que Hope descobre que Hoppy (Skylan Brooks), um adolescente que o ajuda na academia de Wills, foi morto. Emocionados, ele e o treinador se sentam dentro do ringue com as costas apoiadas nas cordas e são iluminados por uma luz fraca, amarela, que entra pela janela. Os dois conversam sobre como poderiam ter impedido a morte de Hoppy e logo pulam para um bate-papo descontraído, em que falam sobre fatos passados em suas respectivas carreiras. Desta forma, fica entendido que Hoppy foi criado na trama apenas para ser um reflexo de Hope, além de proporcionar o momento em que Wills revela um pouco sobre sua vida.

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Quanto às cenas de luta, Fuqua usa enquadramentos parecidos com os de Martin Scorsese em Touro Indomável (1980), com câmeras que assumem o ponto de vista dos lutadores, como se o espectador fosse levar um cruzado de direita do personagem. Ponto positivo para o diretor, que passa a apreensão e o nervosismo de ficar em frente a um pugilista que quer socar o rosto do rival aos olhos de uma multidão.

Um dos responsáveis pela concepção inicial de Nocaute foi o rapper Eminem (8 Mile: Rua das Ilusões), que encomendou a Kurt Sutter, roteirista da série Sons of Anarchy, a adaptação da trama do clássico O Campeão (1931), longa vencedor do Oscar de melhor roteiro original. Em vez disso, Sutter preferiu criar uma história nova, baseada nos problemas pessoais do músico, como o relacionamento com a filha, Hailie Jade, e a morte de Proof, seu melhor amigo. De início, o próprio Eminem interpretaria Hope, mas ele desistiu do papel para se dedicar às gravações do álbum The Marshall Mathers LP 2, lançado em 2013. Apesar da distância do set de filmagens, ele não se afastou por completo do projeto, e fez a curadoria musical do filme, cuja trilha conta com as faixas Kings Never Die e Phenomenal, ambas entoadas por Eminem.

Nocaute escapa de ser um filme abaixo da média graças às cenas de luta e o bom desempenho de Gyllenhaal. Mais do que ganhar músculos, o ator de fato incorporou e transmitiu o amargor de um personagem que quer se superar, assim como o próprio Gyllenhaal, que aceita personagens dos mais variados, em sua longa espera por uma estatueta do Oscar. Enquanto Fuqua parece perdido, apoiado nas cordas do ringue, enquanto busca na fúria, sem sucesso, um impulso para sair do corner.

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