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A efervescência das artes visuais no Brasil

Entre a reflexão e o consumo, a Bienal de São Paulo, que vai até dezembro, e a Art Rio, que começa nesta quarta-feira, oferecem um cardápio generoso no ano em que o Brasil é visitado por mostras memoráveis

Por Mario Mendes
12 set 2012, 15h14

Como de costume, o visitante vai deparar com muitas “bienalzices”, como as telas em branco do coletivo PPPP (Productos Peruanos Para Pensar). Mas há também instalações de grande impacto visual, como as “células brancas” do israelense Absalon, que se suicidou em 1993

“São Paulo já é um dos grandes centros de arte contemporânea no mundo”, declarou a VEJA o inglês Nicholas Serota, diretor da prestigiosa Tate Gallery de Londres e uma das maiores autoridades no assunto. Sir Nicholas foi um dos vários nomes ilustres da cena artística internacional que aterrissaram na cidade na semana passada para a abertura da 30ª Bienal de São Paulo – que permanece em cartaz até 9 de dezembro no Parque do Ibirapuera. Enquanto isso, desta quarta-feira até domingo 16, acontece no Píer Mauá, no Rio de Janeiro, a segunda edição da feira Art Rio. Apesar dos objetivos diferentes – a tradicional mostra paulistana ambiciona exibir um panorama do que há de relevante na arte mundial; a feira carioca é voltada para a comercialização de obras -, os dois eventos convergem em um momento de particular efervescência nas artes visuais no Brasil.

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Várias exposições de grande porte estiveram ou ainda estão em cartaz, como a retrospectiva de Alberto Giacometti, a coleção dos impressionistas do Museu d’Orsay de Paris e a mostra de Caravaggio. O cardápio agora é de arte contemporânea, com toda a propalada crise, a costumeira impostura e o renitente brilho que lhe são próprios. A Bienal traz cerca de 3.000 obras de 111 artistas – dos “suportes” tradicionais de pintura e escultura a experiências em foto, vídeo, instalação e performance – e vai além de seu espaço no prédio de Oscar Niemeyer, com trabalhos expostos em outros museus, como o Masp, e em locais públicos da cidade, como a Estação da Luz. A expectativa é receber um público maior do que o da pálida edição anterior, que foi de 600.000 pessoas. Já a Art Rio reúne 120 galerias, nacionais e internacionais, apresentando cerca de 1.000 obras. Espera atrair 60.000 visitantes e movimentar em torno de 150 milhões de reais.

Depois de polêmicas tolas – a tal Bienal do Vazio, em 2008, e a edição de 2010, em que se discutiu se a presença de urubus na instalação de Nuno ramos era ecologicamente correta -, a Bienal vem com um tema tão vago quanto indecifrável: A Iminência das Poéticas. Aliás, o curador da mostra, o venezuelano Luis Pérez-Oramas, prefere falar em motivo, e não em tema. “Minha intenção é voltar à poética como motivo central do fazer artístico”, diz, em fluente curadorês. Ele escolheu como principal artista brasileiro do evento o sergipano Arthur Bispo do Rosário, morto em 1989, que passou cinquenta de seus 80 anos em uma instituição psiquiátrica no Rio de Janeiro. Oramas admite o caráter pessoal da escolha, mas justifica-se afirmando que a descoberta da obra de Bispo do Rosário, no fim dos anos 80, influenciou artistas contemporâneos como Leonilson e Leda Catunda. Como procurou agrupar os artistas não pelo país de origem, mas pelas similaridades estéticas, o curador também chama atenção para obras que utilizam o bordado, o principal meio de expressão de Bispo do Rosário. É o caso das americanas Sheila Hicks – que, com certo espírito riponga, se vale de técnicas de tecelagem de povos nativos da América do sul – e Elaine Reichek – cujos bordados reproduzem obras de arte de vários períodos da história e representam mitos como o do minotauro em seu labirinto.

Como de costume, o visitante vai deparar com muitas “bienalzices” – bobagens, algumas divertidas, outras inanes, feitas com a pretensão de causar impacto em exposições gigantes. Tal é o caso das telas em branco do coletivo PPPP (Productos Peruanos Para Pensar). Mas há também instalações de grande impacto visual, como as “células brancas” – recintos claustrofóbicos nos quais o artista entrava – do israelense Absalon, que se suicidou em 1993. “Outras mostras internacionais estão pautadas por questões políticas. Nós estamos propondo uma outra discussão, mais estritamente artística”, diz Heitor martins, presidente da Fundação Bienal.

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Antes das questões artísticas, porém, o presidente teve de se ver com os problemas financeiros. Em seu segundo e último mandato, Martins – que atua no mercado financeiro – enfrentou uma grave crise. Por causa de dívidas de gestões anteriores, a bienal teve suas contas bloqueadas em janeiro. Falou-se até na possibilidade de a mostra não acontecer. Foi necessária uma ação na Justiça para que a verba federal do evento fosse liberada. “Graças a um grande esforço de gestão, conseguimos realizar esta Bienal com 22,5 milhões de reais, 20% a menos do que a anterior”, diz. A boa gestão econômico-cultural é prática da família: Martins é casado com Fernanda Feitosa, diretora e idealizadora da SP-Arte, feira que está em sua oitava edição.

O sucesso da SP-Arte serviu de inspiração para a Art Rio, que neste ano terá a participação substantiva da Gagosian de Nova York, considerada a maior galeria de arte do mundo, com filiais em doze cidades. “Decidimos participar da Art Rio pela oportunidade de conhecer um mercado novo e excitante”, diz a americana Victoria Gelfand, diretora da galeria. Em sua primeira ação no Brasil, a Gagosian traz oitenta obras de 13 artistas, entre modernistas históricos, como Picasso e Henry Moore, e sucessos do momento, como o japonês Takashi Murakami. Os preços variam de 15.000 a 15 milhões de dólares.

O curador Oramas é reticente em relação ao modelo das feiras. “Compradores, feiras e leilões não devem estabelecer o valor de uma obra ou ditar prioridades curatoriais”, avisa. Graças a declarações como essa, ele já foi acusado de “inimigo do mercado”. Mas grandes mostras como a bienal têm o poder de consagrar um artista, enquanto feiras celebram “marcas” já consolidadas. Espera-se que a Bienal de São Paulo retome esse poder – e não volte a cair no vazio.

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