Autor de ‘Game of Thrones’ defende estupro na série de TV
Para George R. R. Martin, a cena, que não está nos livros, retrata a realidade da guerra
A quinta temporada da série Game of Thrones, da HBO, é a primeira a prescindir dos livros do americano George R. R. Martin, 66, que há anos promete concluir mais um volume da saga, mas não o entrega aos editores. O descolamento da história original, no entanto, não fez o autor se sentir apartado dela. Chamado a falar sobre as cenas de violência contra mulheres na nova temporada, Martin defendeu as sequências, incluindo a controversa cena de estupro que levou uma senadora do Missouri a protestar publicamente contra o programa e a revista americana Vanity Fair a dedicar um texto contra ela. Para o escritor, a sequência deve ser lida em seu contexto — um contexto de guerra. “Se você escolhesse escrever uma utopia, então provavelmente faria um livro muito chato”, disse à revista americana Entertainment Weekly.
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“O estupro, infelizmente, ainda é uma parte da guerra hoje. Não é um bom testemunho da raça humana, mas eu não acho que devemos fingir que não ele existe”, disse ainda o escritor, para quem seria “fundamentalmente desonesto” maquiar a guerra. “Escrevo sobre conflitos porque o drama surge daí.”
A cena da série de TV, em que a personagem Sansa Stark (Sophie Turner) é abusada por Ramsay Bolton (Iwan Rheon), não existe nos livros, mas, a bem da verdade um dos volumes de Martin carrega uma cena similar com outra personagem. Baseada na série de livros épicos As Crônicas de Gelo e Fogo, do autor, a atração da HBO se passa em Westeros, um universo ficcional que tem semelhanças com a Europa medieval. Segundo Martin, isso também ajuda a explicar a presença de um estupro na saga. “A história é sobre uma sociedade patriarcal baseada na Idade Média. E a Idade Média não foi uma era de igualitarismo sexual. As pessoas eram divididas em estamentos sociais fixos e tinham ideias também fixas sobre o papel das mulheres. Uma das acusações contra Joana d’Arc, que morreu queimada em uma fogueira, era a de que ela vestia roupas masculinas.”
Martin ainda deu uma cutucada nos fãs de outras sagas épicas inspiradas na Idade Média — como O Senhor dos Anéis. “Tem gente que pensa que, porque estou escrevendo fantasia, posso criar um mundo da maneira que quiser, com igualdade entre os sexos, por exemplo. Mas eu queria uma série fortemente ancorada na história, então, não podia fazer uma Idade Média ao estilo Disneylândia, com príncipes e princesas e cavaleiros de armadura brilhante”, afirmou à Entertainment Weekly. “Se você for escrever sobre guerra, e só incluir batalhas legais, com heróis matando um monte de orcs e coisas assim, e não retratar (a violência sexual), vai fazer algo fundamentalmente desonesto.”