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As verdadeiras mulheres ricas

Grandes compradoras das semanas de moda investem em média dois milhões de reais por ano para abastecer as araras de suas lojas multimarca

Por Roni Filgueiras
15 jan 2012, 15h21

Esqueça Val Marchiori, Brunete Fraccaroli, Narcisa Tamborindeguy, Débora Rodrigues e Lydia Sayeg. As mulheres ricas desta reportagem só não matam de inveja as protagonistas do desvairado reality show da Band porque trabalham, e muito. Fazem business pesado. Picida Fiuza, Bebel e Tereza Tinoco, Rita Bomfim, Juana Ferreira e Michelle Jamur são clientes vips das feiras de moda carioca, o Fashion Rio e Senac Rio Fashion Business, que movimentaram a cena carioca esta semana. São empresárias que investem em média R$ 2 milhões anuais para abastecer suas lojas multimarcas espalhadas pelo país.

Elas fazem parte de um grupo seleto. A organização do SRFB lista cerca de mil empresárias, que ganham passagem aérea, transfer e hospedagem na cidade para visitar seus expositores. A FR oferece os mesmos benefícios para cerca de cem lojistas. O investimento se justifica. Na edição de verão passada, o SRFB fechou R$ 750 milhões em vendas nos cinco dias de seu salão de negócios. Já a plataforma do FR gerou R$ 743 milhões, um aumento de cerca de 20% em relação à edição de verão 2010. Uma vez na cidade, elas aproveitam para checar os dois salões, sem crise de consciência ou de fidelidade. E, também, é óbvio, para fazer umas comprinhas, porque ninguém é de ferro.

A fórmula para o sucesso entre essas empresárias está na pesquisa constante (o que exige viagens ao exterior e às feiras de moda do calendário nacional) e investimento em gestão para desenvolver os negócios, capacitando funcionários. E ainda em investimentos em tecnologia e novas plataformas de comunicação. E o mais importante, estreitar o relacionamento com clientes. A brasileira, dizem em coro, gosta de ser bajulada. Cappuccino, espumante, petit fours, cup cakes, entrega feita por motorista em casa, serviços de costureiras 24 horas são alguns dos mimos oferecidos por dez em cada dez multimarcas.

Em Tatuí, uma serva de Deus que adora Lanvin

A empresária Picida Fiuza
A empresária Picida Fiuza (VEJA)
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A empresária Picida Fiuza, dona da multimarca que leva seu nome, dedica-se a satisfazer os desejos terrenos das loucas por grifes de Tatuí, a 140 quilômetros de São Paulo. Agora, planeja conquistar o reino dos céus. “Estudo a Bíblia há 20 anos como Testemunha de Jeová”, conta. “Vou me batizar e fazer o serviço de campo em no máximo um ano”, planeja. Se o Diabo veste Prada, a serva de Deus elege Lanvin como estilista icônico. E acrescenta ao look acessórios Balenciaga, Louis Vuitton e Chanel, a preferida.

Picida não aparenta seus 54 anos. Formada em Artes Industriais e Educação Artística, com 1,68m, 60Kg, morena, ela se casou aos 20 anos com o médico Celso. Foi ele que bancou o que achava ser uma extravagância da mulher, apaixonada por moda desde criancinha. Um sonho que se mostrou lucrativo. Fundada há 25 anos, a multimarcas Picida tem um cadastro de 500 clientes, da avó à netinha, que deixam anualmente no caixa da loja de mil metros quadrados de R$ 50 mil a R$ 120 mil. Tatuí tem apenas 110 mil habitantes, mas o luxo da Picida extrapola fronteiras do rico interior paulista e atrai consumidoras de Itapetininga, Tietê, Cerquilho e Sorocaba. “Temos clientes até em São Paulo”, orgulha-se Picida. A loja, projetada pelo badalado arquiteto Artur Casas, ocupa um prédio de cinco andares (cerca de mil metros quadrados).

Enquanto Picida quer cada vez mais se dedicar a Deus, Celso Fiuza, o herdeiro, mais conhecido como Celsinho, aplica sua expertise de administrador, formado pela PUC SP, e MBA em Gestão pela Faap, para expandir o reino das criancinhas. “Estamos abrindo uma linha kids, e aprimorando o know how”, diz. “A moda aqui em casa está na veia”, diz.

Malhação para o corpo e oração para garantir as vendas

A empresária Rita Bonfim, da paraibana Quarto  de Vestir: colete de pele, 'sem medo de ser feliz'
A empresária Rita Bonfim, da paraibana Quarto de Vestir: colete de pele, ‘sem medo de ser feliz’ (VEJA)

Moda que vem de berço também é o caso de Rita Bomfim (assim mesmo, com “m” antes do “f”, da boutique Cabine de Vestir, de João Pessoa. Sempre de salto alto, de preferência um modelo Charlotte Olympia (um par assinado pela filha da ex-top carioca Andrea Dellal pode sair por 12 mil reais), Rita administra a loja de 300 metros quadrados, juntamente com a mãe, Valdenice, a Val Bomfim , que ergueu o endereço há 20 anos na capital paraibana.

Rita e Val levam a extremos o esforço para agradar as frequentadoras da Cabine de vestir. Se a cliente não se anima a experimentar um look, uma funcionária o faz por ela. “Nossa gerente veste a roupa e desfila para a cliente”, conta Rita, que há 12 anos escolhe as peças que vestem uma misteriosa compradora. As peças são enviadas à casa da cliente por motorista particular. “Eu nunca a vi, nem sei sua altura, mas ela confia em mim e sabe que eu acerto”.

Rita acorda às 6h, malha três vezes por semana e às 9h já está atrás do balcão. “A primeira coisa que faço antes de entrar na loja é entregá-la a Deus”, diz a bonita evangélica, de 33 anos, mãe de dois filhos e prestes a se casar pela segunda vez com o empresário Fábio Lummertz. Com 200 pares de sapatos em seu closet, Rita faz o estilo básica. Bem diferente de suas clientes. “As mulheres aqui de João Pessoa usam colete de pele, sem medo de ser feliz”.

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‘Brasileira gosta de ser tratada como rainha’

As empresárias Tereza e Bebel Tinoco, da loja Tereza Tinoco, de Natal
As empresárias Tereza e Bebel Tinoco, da loja Tereza Tinoco, de Natal (VEJA)

Dona de multimarca já entendeu que se relacionar de forma personalizada faz toda a diferença… no faturamento. E se desdobra em papéis como psicanalista, melhor amiga e consultora de moda. “A brasileira gosta de ser tratada como rainha. Se ela achou que não recebeu atenção, sai chateada”, conta Maria Isabel Tinoco Souto Filgueira Barreto, a Bebel, da loja Tereza Tinoco, de Natal.

A arquiteta Bebel, 29 anos, está dividindo a gestão com a mãe Tereza, na capital potiguar. Bebel morou em Londres e Florença, cursou MBA em Gestão Empresarial, na Fundação Getúlio Vargas, e já pensa em criar uma marca própria. “Já desenhei umas pecinhas”, conta ela que costuma atender pessoalmente as cerca de 700 clientes cadastradas. Algumas vão diariamente ao endereço, que completa 16 anos em 2012, e chegam a comprar R$ 30 mil numa única visita.

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Sapatos de dez mil euros, e vida simples

Cleuza, Fabrício e Juana Ferreira, donos da multimarca Magrella, de Brasília
Cleuza, Fabrício e Juana Ferreira, donos da multimarca Magrella, de Brasília (VEJA)

Há 42 anos a Magrella é um dos endereços preferidos das poderosas do Planalto Central. O ambiente impressiona. São três andares, num total de 1.500 metros quadrados, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Mas o segredo do sucesso é a devoção com que Juana Ferreira, 32 anos, e sua mãe-sócia Cleuza desempenham a tarefa de mimar suas frequentadoras.

“Nossa cliente exige tratamento premium e compra por causa disso”, atesta a herdeira Juana, que paga para suas vendedoras treinamento com o consultor Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil. O resultado desse comércio com alto valor agregado é um gasto médio per capita de R$ 100 mil mensais. Mas há as que compram num só dia R$ 130 mil. “Tenho cliente que abre a loja todos os dias conosco”.

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Juana confessa que já foi “consumista enlouquecida”. Não sabe ao certo quantas bolsas tem. Os cuidados de beleza (salão e dermatologista) batem os R$ 5 mil mensais. As roupas comprometem de R$ 15 a R$ 20 mil no mês. Já os 10 sapatos Valentino, Jimmy Choo, Louboutin, Charlotte Olympia e Gucci são adquiridos por até 10 mil euros, em viagens de negócios na Europa, onde costuma assistir aos desfiles de alta-costura. Depois de seis meses de uso, os modelos são descartados e distribuídos entre as vendedoras da loja.

A empresária é mãe de um casal e está em seu segundo casamento com um policial da Divisão de Operações Especiais. Ela conta que já ficou muitas noites insone por causa dele. “Hoje sou mais tranquila, meu marido não faz mais plantão nem tocaia, deixou de trabalhar em homicídios e nos sequestros”. O contraste entre a vida dos dois é evidente, mas segundo ela, não cria problemas. “Apesar de viver no glamour, no luxo, me hospedando nos melhores hotéis, em casa sou simples”.

‘Pagamos um preço alto pelo sucesso’

A empresária Michelle Jamur, sócia da Namix, de Curitiba: trabalho mesmo durante as férias
A empresária Michelle Jamur, sócia da Namix, de Curitiba: trabalho mesmo durante as férias (VEJA)
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Incansáveis, mesmo de férias, essas empreendedoras estão sempre alertas quando o assunto é duplicar os lucros. “Somos bem-sucedidas porque pesquisamos. Encontrei aqui em Trancoso quatro estilistas iniciantes fantásticas”, conta a empresária Michelle Jamur, 37 anos, sócia da Namix, lojas multimarcas de Curitiba.

Formada em Administração e Relações Públicas, com pós em Marketing, Michelle há dez anos resolveu passar de pedra a vidraça. “De tanto consumir, eu e minha sócia, Cláudia Leal, decidimos fazer disso um negócio”, lembra ela que contou com o patrocínio da família para abrir seu negócio.

Michelle confirma a máxima de que “é dificil ser empresária no Brasil. Minha cliente quer exclusividade, bom atendimento e consultoria”. Suas compradoras são formadas em moda, o que facilita o atendimento à clientela que gasta em média por estação de R$ 50 mil a R$ 100 mil.

Ela já colocou na mala modelos de Juliana Jabour, Filhas de Gaia, Chanel, Cavalli para conferir, em outubro, uma feira de tecnologia na China. Mas não pense o leitor que tudo são flores para elas. “Pagamos um preço alto pelo sucesso. O homem brasileiro ainda não assimilou a independência da mulher”, reclama da solidão, por ora trocada por um novo namorado.

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