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‘As Bling Ring se achavam melhores que as celebridades que elas roubaram’, diz autora

Por Carol Nogueira
11 ago 2013, 09h27

Para Nancy Jo Sales, autora da reportagem Os Suspeitos Usavam Louboutins, publicada pela revista Vanity Fair em 2010, e do livro Bling Ring: A Gangue de Hollywood (tradução de Andrea Gottlieb, Cláudio Figueiredo e Lourdes Sette, Intrínseca, 272 páginas, 24,90 reais), que acaba de sair no país e já figura entre os vinte títulos de não-ficção mais vendidos, vários motivos levaram os jovens da gangue Bling Ring a roubar as casas de famosos em Los Angeles. Em uma tentativa de dar verniz sociológico ao caso, a jornalista cita fatores como a eclosão de um tipo de imprensa voltada a perseguir famosos, a hipersexualização da juventude e o fato de vivermos em um mundo em que não é mais preciso fazer algo relevante para tornar-se uma celebridade. “Antigamente, só atores e políticos tinham uma imagem pública. Hoje, todos temos personas nas redes sociais. Isso não pode ser uma coisa boa”, afirma.

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Mas a jornalista também cita razões mais prosaicas — e interessantes. Diz, por exemplo, que as meninas da Bling Ring não viam problema em pegar as roupas de gente como Paris Hilton, porque se achavam melhores que ela. “Elas viam a Paris e outras como estúpidas. Outro pensamento delas é que as celebridades não sentiriam falta das coisas, já que tinham tantas.” Sem falar no simples e universal desejo por objetos de status, descrito ainda no século XIX pelo economista americano Thorstein Veblen no ensaio A Teoria da Classe Ociosa. “Alexis me contou que, quando estava na sexta série, todas as suas colegas tinham bolsas da Louis Vuitton, e ela se sentia mal porque não tinha uma. Ao entrar na casa de Orlando Bloom e Miranda Kerr, qual foi a primeira coisa que ela procurou? Bolsas da Louis Vuitton. É claro que ela não relacionava as coisas de forma consciente, mas inconscientemente o fazia.” Leia abaixo a entrevista com a autora.

O que achou do filme de Sofia Coppola? Acha que ela conseguiu capturar o espírito da gangue Bling Ring e do seu artigo na Vanity Fair? Eu gostei muito do filme. Acho que ele foi fiel ao meu texto, e especialmente ao que apurei, porque Sofia trabalhou também em cima das entrevistas que fiz. Ela gostou tanto dos diálogos, porque eles eram frescos, originais e até engraçados, que decidiu mantê-los. Quando vi o filme, foi divertido, porque parecia que eu estava vendo tudo pela segunda vez. “Sim, foi isso o que ele disse, foi assim que aconteceu.” Mas acho que Sofia também capturou algo a mais: a energia maluca dos crimes que essas pessoas cometeram e o espírito dos adolescentes americanos de hoje, especialmente os que vivem no sul da Califórnia. Não estou dizendo que todos os jovens americanos são iguais aos de Bling Ring, mas muitos são. Acho que ela capta também a hipersexualização dessa juventude. Eles são bombardeados com mensagens que dizem que eles devem ser sexy o tempo todo e acabam acreditando nelas. Isso está fora de controle. Já é muita pressão para qualquer um, imagine para crianças.

De onde vem a obsessão dos jovens pelo univeso dos famosos e seus símbolos de status? Os jovens estão obcecados porque nós estamos obcecados. A nossa cultura é assim. Li recentemente uma pesquisa que diz que o adolescente americano médio, quando está acordado, está nas redes sociais, no celular ou assistindo a televisão. E as redes sociais são basicamente plataformas de autopromoção. Você cria esse seu avatar perfeito para mostrar ao mundo. Isso era o que atores e políticos tinham de fazer antigamente, criar uma imagem pública deles mesmos. E hoje é o que fazem todos, até as crianças. Isso não pode ser uma coisa boa. Isso torna as crianças ansiosas, depressivas. Crianças de países em desenvolvimento, que deveriam estar preocupadas em ser médicas, professoras, estão querendo ser estrelas do pop, rappers.Eu falo com crianças há dez ou quinze anos para fazer reportagens e, quando pergunto a elas o que querem ser, elas respondem: “Quero ser modelo”. Ou algo do tipo. Por que essas crianças querem isso? Estamos promovendo a ideia de que isso é uma profissão viável para qualquer um, e não é. O número de modelos bem sucedidas no mundo é minúsculo.

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Quando você escreveu essa reportagem, imaginava que poderia virar um filme? Achava que a história tinha potencial, mas não imaginava que Sofia Coppola fosse me ligar. Quando estava apurando a história, eu fiquei desesperada para conseguir fazer a reportagem, porque havia muita competição. Todo mundo queria falar com eles. E também porque, em 2008 e 2009, as coisas estavam ruins financeiramente nos Estados Unidos. Tudo quebrou, as pessoas perderam seus empregos, as empresas pararam de anunciar e as revistas não tinham dinheiro. Eu estava feliz porque tinha uma matéria para fazer. Sabia que tinha de conseguir terminá-la.

Como jornalista, como você reagiu ouvindo as histórias deles? Já entrevistei crianças que fizeram coisas piores. Que comandavam esquemas de drogas, por exemplo. Então, não fiquei chocada, mas fiquei atônita com a ingenuidade deles e o fato de usarem a internet para o crime. E me surpreendi com o sucesso dos roubos. Eles roubaram cerca de 3 milhões de dólares em peças, fizeram isso por mais de um ano, e ninguém desconfiava desses garotos. A polícia não fazia ideia de que os roubos estavam conectados. E os meninos não escondiam os crimes, eles se exibiam para os amigos, colocavam fotos no Facebook. O garoto roubou um colar da socialite Paris Hilton com um P de diamantes e postou no Twitter dela, falando: “Ei, Paris Hilton, isso lhe parece familiar?”. Era muita ousadia.

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Há quem diga que o filme glamoriza os roubos. Você concorda? Sim, havia um receio de que o filme glamorizasse os roubos, mas acho que isso não aconteceu. Um amigo meu que é cineasta sempre me disse que essa história poderia dar tanto um filme ótimo como péssimo. Ou seja, ou sairia um longa que mostrasse toda essa questão social em volta ou uma produção que tratasse dos roubos como algo superficial. E, agora, creio que esses dois projetos foram feitos (ela se refere ao longa feito pelo canal Lifetime sem a sua autorização). E, de qualquer forma, não sou eu ou a Sofia Coppola que vamos atrair atenção para o que esses garotos fizeram, até porque na época em que foram presos eles se tornaram celebridades. Até hoje, há pessoas que fazem a mesma coisa. Ontem mesmo, a casa de Paris Hilton foi roubada de novo.

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