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Apesar de Rafinha Bastos, humor nacional pode rir – e muito

Popularização da comédia no país atrai investimentos recordes no formato. Em janeiro, serão destinados 15 milhões de dólares à instalação do canal americano Comedy Central na TV a cabo brasileira

Por Mariana Zylberkan
16 out 2011, 15h54

Poucas vezes uma piada mobilizou tanto o Brasil. A carga explosiva do episódio Rafinha Bastos é a maior prova de que o humor virou assunto sério. Além de ter suscitado opiniões acaloradas, a piada de mau gosto proferida pelo comediante contra a cantora Wanessa Camargo na bancada do programa Custe o que Custar – CQC, da Band, evidenciou a relevância que vem adquirindo o segmento. Num cenário de contratos publicitários vultosos e humoristas tratados como popstars nas redes sociais, a piada deixou de ser uma simples brincadeira.

A popularização da comédia stand up, cuja incursão na TV é capitaneada pelo CQC, já chamou a atenção de investidores estrangeiros. A Viacom, gigante da comunicação nos Estados Unidos, vai investir 15 milhões de dólares no Brasil, para onde traz, em 2012, o canal a cabo Comedy Central, espécie de MTV que, em vez de clipes, exibe programas de humor dia e noite. O sinal estará disponível para o público brasileiro a partir de janeiro. Outro indício do bom momento do humor é a adesão do Fantástico, o tradicional dominical da Globo, ao formato. O programa conta agora com o quadro Stand-up Nosso de Cada Dia, em que diferentes humoristas apresentam suas esquetes a cada semana. “Para a gente, que começou fazendo show para uma plateia de onze pessoas, isso é uma revolução”, avalia Márcio Ribeiro, há vinte anos no ramo.

A explicação para a transformação em febre nacional de um formato quase desconhecido, exceto por seus representantes famosos como Chico Anysio e Jô Soares, está na disseminação do formato através da internet. Jovens talentos passaram a transmitir seus shows através do Youtube. Esse movimento é responsável pela definição do perfil atual do público de stand-up: jovens na faixa dos 20 anos. “A irreverência desse tipo de humor atrai a garotada”, avalia Ribeiro.

Riso na rede – Apesar da popularização, o stand-up brasileiro ainda carece de ajustes. Para Ribeiro, a relação entre público e comediantes precisa de afinação. “O stand-up foi criado por uma cultura diferente da nossa. No Brasil, o povo tende a ser mais malicioso e piadista que nos Estados Unidos. É preciso entender isso para pensar o stand-up brasileiro.”

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Para fugir ao risco de propagar piadas de mau gosto como a dita por Rafinha na bancada do CQC, os executivos do Comedy Central irão recorrer ao recurso da edição. Alvaro Paes de Barros, gerente-geral da Viacom no Brasil, confirma que serão cortados trechos considerados ofensivos, sem prévia aprovação ou avaliação dos artistas. “Uma piada como a do Rafinha Bastos sobre a Wanessa não iria ao ar. Temos o luxo de gravar os programas e editá-los.”

As apresentações de comédia stand-up, carro-chefe do Comedy Central, vão dividir espaço na grade do canal no Brasil com filmes e animações, entre outros gêneros. O percentual brasileiro na programação – 22% do total – a princípio ficará a cargo de Danilo Gentili. O repórter do CQC vai apresentar esquetes de humor acompanhado de outros comediantes de stand-up menos conhecidos do público.

Rafinha Bastos foi cotado para ser a cara do Comedy Central no Brasil, mas perdeu o páreo para Gentili. A falta de tato em criar piadas, porém, não foi o principal critério para a escolha. Ou Gentili não seria selecionado. De acordo com Paes de Barros, na época em que foi eleito pelo canal, o humorista conquistara o prêmio de persona non grata no Twitter, após caçoar de judeus ao criticar o embargo de moradores de Higienópolis ao metrô na região. “Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que eles chegaram perto de um vagão, foram parar em Auschwitz”, escreveu em sua página no Twitter.

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Fora da televisão, o riso se mostra lucrativo até num ambiente cultural que, geralmente, custa a se tornar rentável. Nos teatros de São Paulo, atualmente, há 12 espetáculos de stand-up em cartaz. Um deles é voltado às apresentações-solo de humoristas que fazem o público rir de situações reais. Aberto há um ano, o Comedians Club é administrado pelos sócios Danilo Gentili, Rafinha Bastos e Italo Gusso, produtor do CQC. “Essa explosão do humor, em parte, é creditada a um grupo de comediantes que se organizaram e transformaram a piada em negócio”, diz Paes de Barros, da Viacom Brasil.

Veteranos reclamam – Se, por um lado, alguns humoristas comemoram a boa fase do formato e o crescimento da conta bancária, outros profissionais do riso traçam um panorama totalmente diferente. “O país está vivendo uma enorme falta de humor. De uma hora para outra, as emissoras retiraram programas do ar, sobraram apenas um ou dois”, opina o comediante Chico Anysio.

Outro veterano das risadas, Ary Toledo concorda com a avaliação de Chico Anysio. “O humor piorou muito de uns três anos para cá. Há falta de qualidade e de bom gosto nas piadas.”

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Para Toledo, o sucesso resultante do uso do stand-up na televisão pode não durar muito tempo. “É um fenômeno cíclico, que tende a acabar pela falta de talento artístico desses humoristas. Eles só sabem fazer piadas de algo que esteja em voga no momento. Acredito que irá prevalecer o humor do tipo feijão com arroz, feito aqui no Brasil desde os anos 1950”, diz o humorista, que, atualmente, está em cartaz com o espetáculo Ary Toledo a Todo Vapor no Teatro Silvio Romero, na Zona Leste de São Paulo.

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