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Adnet ataca as ideias prontas e faz o melhor humor da TV

‘Tá no Ar’, do humorista carioca, chega à terceira temporada na Globo e não poupa nada, da religião aos anunciantes, passando por programas da própria emissora

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 dez 2018, 10h19 - Publicado em 11 mar 2016, 22h01

Em dezembro do ano passado, o cantor Chico Buarque de Hollanda, eterno defensor do PT, envolveu-se num bate-boca com cidadãos revoltados com os desmandos do partido no bairro carioca do Leblon. As reações de simpatizantes dos dois lados do conflito se igualaram no mau humor. Mas o episódio acabaria em piada. E das boas: foi durante uma conversa sobre aquele babado que Marcelo Adnet e Marcius Melhem, criadores e estrelas do humorístico Tá no Ar, inventaram um tipo impagável apresentado ao Brasil na mais recente edição do programa da Globo, na noite de terça-­feira 8. Interpretado por Adnet com a verve gaiata de hábito, Chico Buarque de Orlando é uma variante do cantor com sinais ideológicos subvertidos. Em vez das ideias de esquerda, ele celebra, por meio de versões satíricas de seus sucessos, certos valores da classe média avessa ao PT e vista com repulsa pela intelectualidade de esquerda – a começar pelo sobrenome, referência ao destino predileto dos brasileiros nos Estados Unidos. Para Adnet, o personagem diz algo sobre “um país polarizado e de debate raso”. Sacadas assim, com potencial para irritar – ou divertir – tanto os “reaças” quanto os devotos de Chico, fazem de Tá no Ar a melhor experiência do humor nacional em muito tempo.

Na terceira temporada, o programa vem reiterando sua maior qualidade: a liberdade quase tresloucada. Os humoristas disparam rajadas iconoclastas para todos os lados, da religião aos anunciantes, passando por programas de outras emissoras e da própria Globo. Em outra frente, Tá no Ar redobrou a aposta numa prática comum na TV americana, mas quase ausente por aqui: a escalação de celebridades para pagar mico em quadros que cutucam sua própria vaidade. Lilia Cabral, atriz respeitada, virou aspirante reprovada ao cargo de Mulata Globeleza. Antonio Fagundes surgiu em cena de collant e a cantora Sandy se deixou mostrar entre ursinhos, toda infantilizada. Perto do que as celebridades americanas enfrentam num humorístico como o Saturday Night Live, a carga de autodepreciação é suave. Mas representa um passo promissor. Diz o diretor Maurício Farias: “No Brasil, muita gente tem receio de brincar consigo mesmo. Estamos mostrando que pode ser saudável”.

Por falar nos Estados Unidos, o quadro do Chico Buarque de Orlando encerra uma lição parecida com a do comediante Chris Rock em seu discurso na abertura da cerimônia do Oscar. Ao ironizar o racismo de Hollywood, mas também a hipocrisia dos que boicotaram o prêmio, Rock demonstrou que o humor mais corrosivo é aquele capaz de colocar as ideias prontas em curto-circuito. “Humor é contraponto. É uma chave clássica”, diz Melhem.

O esquete do Chico direitista atesta o valor do contraponto. Graças a ele, o programa bateu o recorde de audiência da temporada, alcançando 16 pontos no Ibope em São Paulo. Foi notável a repercussão nas redes sociais: em relação à semana anterior, Tá no Ar teve quase 80% a mais de curtidas no Facebook. O vídeo da tirada puxou seu desempenho, com mais de 2 milhões de visualizações.

A performance de Adnet faz jus à boa recepção. Ele alternou os visuais e os sucessos de várias fases do cantor. Mas, no lugar das letras que denunciavam a ditadura, entra a revolta do Brasil de hoje. Na versão de A Banda, entoa: “Fui protestar na Paulista / alguém interveio e falou / para em Orlando morar / porque o Brasil acabou”. Em sua Roda Viva, esse Chico vai para a Disney: “Tudo com fila, até o Rei Leão / a Disney não é a mesma de antes / agora está muito povão”. Com terno branco igual ao da Ópera do Malandro, ele festeja o consumismo numa releitura de Apesar de Você: “Amanhã vai ter Black Friday”.

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Em resumo: tanto a reverência ao compositor quanto a visão de mundo que se contrapõe à dele são satirizadas. Maliciosamente, o esquete não perdoa as figuras identificadas com certa direita folclórica. Na sua versão de Meu Caro Amigo, Adnet cita o filósofo Olavo de Carvalho, além de mandar um “abraço” para seu pupilo, o cantor Lobão. Orlando é uma festa.

Assista a um trecho:

https://www.youtube.com/watch?v=2uhhs6ic7fI

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