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A vaquinha digital chega ao mainstream

Com adesão de nomes como o do diretor David Fincher e o da atriz Whoopi Goldberg, e representando uma ótima saída em tempos de crise, financiamento coletivo avança na produção de filmes, discos e turnês por diversos países

Por Carol Nogueira
17 nov 2012, 07h10

Diz a sabedoria popular que “a união faz a força”. Os fundadores do site de financiamento coletivo Queremos! confirmam. Há cerca de dois anos, o grupo organiza shows internacionais no Rio de Janeiro com dinheiro levantado por fãs – já foram mais de 50, a maioria de bandas independentes que tinham somente São Paulo na agenda. Nesta semana, o empreendimento deu um salto, quando um de seus criadores, o carioca Bruno Natal, esteve nos Estados Unidos para lançar a versão americana da plataforma, We Demand, para viabilizar shows por lá, também. Mais que o crescimento de um projeto brasileiro, a expansão representa a segunda fase por que passa o sistema de financiamento coletivo. Maior e mais interessante em tempos de crise econômica, ele agora atrai gente grande como a atriz Whoopi Goldberg e o diretor David Fincher e organiza até turnês de músicos pelo mundo.

Para quem ainda não conhece, o sistema do Queremos! funciona assim: para financiar o show de um determinado artista, o site pede colaborações de valor baixo que, juntas, pagarão os custos de produção da apresentação. Custos pagos, tem início a venda de ingressos para o show. Se os bilhetes esgotarem, aqueles que apoiaram o show na primeira fase têm o investimento reembolsado e assistem à apresentação de graça.

“Assim, o artista e o produtor têm certeza de que, no mínimo, não terão prejuízo. Hoje em dia, o projeto de um show já começa com custos astronômicos e com a missão de vender um número xis de ingressos para recuperar o investimento”, afirma Tiago Compagnoni, um dos fundadores do Queremos!. Segundo ele, o mercado tradicional de shows é conservador e composto de “uma ou duas empresas” que investem “somente em artistas consagrados”, porque representam risco menor. “Produtores estão vendo no financiamento coletivo uma oportunidade de fazer mais shows sem arriscar tanto dinheiro”, afirma. “Nunca seríamos capazes de produzir 50 shows em dois anos se não fosse por esse sistema.”

Indústria 2.0 – Se a “vaquinha” digital começou como alternativa para artistas em início de carreira, hoje ela é também uma opção interessante para veteranos que querem se ver livres de grandes empresas. É gente que já fez o próprio nome e poderia confiar em um estúdio ou uma gravadora para bancar seus custos de produção, mas prefere usar o dinheiro dos fãs para desenvolver um trabalho sem interferências comerciais. Projetos assim não faltam no site americano Kickstarter, que atualmente conta com campanhas do cineasta David Fincher (A Rede Social), da atriz Whoopi Goldberg e do roteirista Charlie Kaufman (de Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças). No Brasil, os sites Catarse e Bemfeitoria também estão cheios de pedidos de artistas talentosos – mas ainda não tão ilustres (leia mais na lista abaixo).

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Além de David Fincher e Whoopi Goldberg, o Kickstarter atrai gente como a cantora Amanda Palmer, que lançou no fim do mês passado o seu terceiro disco solo, Theatre Is Evil. Pouco conhecida, mas com muitas credenciais, a ex-integrante da banda The Dresden Dolls e mulher do escritor Neil Gaiman abandonou a gravadora e teve seu disco inteiramente bancado por fãs. A cantora esperava arrecadar cerca de 100.000 dólares, mas conseguiu doze vezes mais. O projeto recebeu cerca de 1,2 milhão de dólares, graças em boa parte à criatividade da moça – o sucesso da campanha se deve a um vídeo divertido feito por ela e às recompensas inventivas oferecidas a quem a ajudasse, como um show particular na casa da pessoa.

“Lançar uma campanha de financiamento coletivo é como pular de um penhasco, porque você não sabe no que vai dar. Sei que tenho muitos fãs e que eles gostam de ajudar, então, decidi tentar”, diz Amanda. “E gostei da experiência. Me senti poderosa ao fazer as coisas do meu jeito. Não sobrou muito dinheiro, mas paguei todo mundo que trabalhou comigo.” Seu próximo passo, agora, é realizar uma turnê com ajuda de fãs. “Ouvi dizer que tem um pessoal fazendo isso no Brasil, gostaria muito de participar, pois é difícil se apresentar aí, há uma máfia de grandes produtores.”

Vaquinha para turnê – Atitude semelhante à de Amanda levou o músico americano Andrew Bird, com mais de 15 anos de carreira, a anunciar a maior turnê já bancada por financiamento coletivo: um giro pela América Latina. Ele tocará pela primeira vez na região, onde desembarca em fevereiro e passa por seis cidades – São Paulo e Rio de Janeiro incluídas.

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A turnê do músico é o primeiro experimento do Detour, projeto criado pelo site Songkick – que compila uma agenda de shows de várias partes do mundo – para levar bons artistas aonde eles normalmente não chegariam. Seu funcionamento é similar ao dos sites de financiamento coletivo: uma vez que a quantidade mínima de apoiadores é atingida, o Detour ou o próprio artista contrata produtores locais para produzir a apresentação. “Muitos mercados foram negligenciados pela indústria tradicional. Ouvimos diariamente de fãs de lugares tão distantes como Manila (Filipinas) e Rio de Janeiro, e até do interior dos EUA, que eles estão frustrados porque um determinado artista não fará show em sua cidade. A internet é o melhor caminho para identificar essas oportunidades, e o financiamento coletivo, o melhor jeito de fazê-las acontecer”, afirma o CEO do Songkick, o britânico Ian Hogarth, de apenas 30 anos.

Para Hogarth, a crise financeira mundial dificultou a realização de shows em mercados tradicionais, então, nada mais natural que esses eventos migrem. “Atualmente, shows são uma atividade de nicho. Nos EUA, por exemplo, uma pessoa só vai a um show por ano, em média. Conectando diretamente fãs e artistas, é possível fazer shows mais baratos para os fãs e, às vezes, o artista até ganha mais dinheiro do que se estivesse trabalhando com uma grande empresa”, diz. Segundo ele, com o tempo, o plano é diminuir ainda mais o custo para os fãs. Custos menores podem representar mais fãs investindo. O financiamento coletivo parece que veio mesmo para ficar.

https://youtube.com/watch?v=gi9eGMbSGKw

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