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‘Única maneira de acabar com os estupros é discutir o valor da mulher na sala de aula’

A britânica Leslee Udwin, consultora da ONU e diretora de documentário sobre estupro coletivo em Nova Délhi, em 2012, afirma que a solução para a violência sexual é ter na escola conteúdos que valorizem o papel feminino e contemplem a diversidade sexual e de gênero

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 Maio 2016, 16h58 - Publicado em 17 set 2015, 18h49

Para contar a história de um estupro coletivo que ocorreu na Índia em 2012 e levou à morte a estudante Jyoti Singh Pandey, de 23 anos, a cineasta britânica Leslee Udwin passou os últimos dois anos e meio entrevistando todos os envolvidos no crime. Conversou com os criminosos que violentaram a jovem, advogados de defesa e acusação, autoridades da Justiça indiana e familiares da vítima. Durante o lançamento do documentário India’s Daughter (Filha da Índia), na noite da última quarta-feira (16), em São Paulo, Leslee afirmou que, após sua extensa pesquisa, concluiu que a única forma de acabar com tragédias como a retratada em seu filme é “ter na escola, desde os primeiros anos, discussões sobre o valor de homens e mulheres e ensinar o papel da sexualidade em sala de aula”.

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Após o estupro de Jyoti Pandey, uma série de manifestações na Índia levou à revisão das leis nacionais relativas aos crimes de violência sexual. Mesmo assim, ao ser lançado em março, o documentário de Leslee foi banido no país. Em uma das cenas do filme, um dos defensores dos criminosos afirma que a Índia “tem a melhor cultura. Na nossa cultura, não há lugar para as mulheres.” As estatísticas refletem essa visão. Na Índia, uma mulher é violentada a cada 25 minutos e, com frequência, a culpa é atribuída à vítima.

De acordo com a diretora Leslee Udwin, esse tipo de perspectiva, em que as mulheres têm pouco valor social e precisam ser “protegidas pelo sexo masculino”, é o que leva à violência como estupros e violações sexuais.

“É preciso haver uma mudança cultural e a única forma de isso acontecer, em qualquer lugar do mundo, é por meio de uma ampla politica escolar que ensine que a mulher tem valor e que ela precisa de respeito, não de cuidados. Nenhum dos criminosos que entrevistei expressou remorso ou arrependimento. Eles não acreditam que fizeram algo de errado porque foram educados para pensar que a vida de uma mulher não tem valor e é isso que precisa mudar. Precisamos discutir a igualdade dos gêneros em sala de aula”, disse a cineasta.

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Mudança de mentalidade – No Brasil, apenas 10% dos casos de violência sexual são denunciados, cerca de 50 000 casos todos os anos, de acordo com dados da ONG Plan Internacional, que atua há 18 anos no Brasil. Para Leslee, medidas como a denúncia dos crimes ou sua quantificação são importantes, mas não atacam as causas do problema, que são culturais.

“Há diferenças entre o Brasil e a Índia, mas todos nós somos responsáveis por mudar a maneira como as mulheres são tratadas. O estupro é um crime que acontece em todas as classes sociais, idades e em todos os países do mundo, pobres ou desenvolvidos. Só a educação e a discussão a respeito dos papeis sexuais de homens e mulheres será capaz de mudar a mentalidade que promove o estupro”, afirmou.

Desde que seu filme foi lançado, a diretora se tornou consultora da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) para um projeto global de educação que promova a igualdade de gêneros e direitos femininos (Equality Studies Global Initiative, em inglês). No Brasil, o filme será exibido em circuito alternativo, como espaços culturais. Junto ao documentário foi também lançada uma campanha para identificar a violência sexual e sugerir estratégias para diminuir os casos, em uma página do Facebook.

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