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Produção científica local avança, diz chefe da Capes

Jorge Almeida Guimarães afirma que, apesar de percalços, avaliação dos cursos de pós-graduação no Brasil é positiva

Por Nathalia Goulart
15 out 2010, 19h46

A mais recente avaliação dos cursos de pós-graduação brasileiros, divulgada em setembro, mostrou alguns dados importantes. O primeiro: são oferecidos atualmente no país, 2.718 programas, o que representa um aumento de 20,8% em relação a 2007. Eles correspondem a 4.099 cursos de mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado. Outro destaque: o grupo de programas que receberam as maiores notas (6 e 7) subiu de 237 para 298 – mantendo uma proporção ao redor de 11% do total. Contudo, a parcela de programas mal avaliados (notas 1 e 2) saltou 92%, somando 75 ocorrências. Na avaliação de Jorge Almeida Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência ligada ao Ministério da Educação responsável pela avaliação, o índice de reprovação (2,7%) está dentro do esperado, e os dados que apontam evolução mostram a tendência nesse setor da educação brasileira. “O país já ganhou respeito no exterior na área da produção científica”, diz Guimarães. Na entrevista a seguir, ele comenta o desenvolvimento da pós no Brasil.

Qual sua leitura da avaliação dos cursos de pós-graduação recém-divulgada?

A melhora dos cursos é continua, em consequência da avaliação rigorosa que fazemos.

Entre os 2.718 programas avaliados, quase 3% foram reprovados. Por quê?

O número de cursos reprovados está dentro do esperado. Se olharmos para trás, há 20 anos essa proporção era bem maior, porque os cursos estavam menos preparados. De agora em diante, esse número não tende a aumentar: só vai crescer se afrouxarmos o rigor da aprovação inicial – e isso não vai acontecer. A aprovação de um curso na Capes não é simples e deve continuar assim. Todos os anos, recebemos um grande número de propostas de novos cursos, cerca de 700, e desse total poucos entram em funcionamento devido ao nosso crivo, pois nossa preocupação é garantir que o estudante seja bem formado. Então, quando um curso é barrado, ele se aperfeiçoa e tenta no ano seguinte entrar em funcionamento. Quando ele finalmente entra no nosso sistema, já está muito melhor. Há casos de cursos que não foram aprovados da primeira vez. Mais tarde, foram aprovados com conceito 3 e, hoje, têm nota 7. É esse o caminho a ser percorrido.

Em geral, os cursos reprovados são os mais novos?

Não detectamos apenas esse perfil. Às vezes, acontece de aprovarmos um curso prematuro e ele não atender às nossas expectativas na avaliação seguinte. Mas cuidamos para que isso não aconteça. Existe também aquele curso que se mantém durante muito tempo com a nota 3. Isso é um mau sinal: ele tem grandes chances de sair do nosso sistema na próxima avaliação. Para evitar isso, estamos programando para o próximo ano uma visita às instituições que mantêm esses cursos. A intenção é conversar com a diretoria e alertar para o fato de o curso estar estagnado.

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O número de programas oferecidos hoje no Brasil é satisfatório?

Sim. É evidente que constatamos que algumas áreas têm curso demais, mas em outras há défict, como é o caso das engenharias, que hoje representam uma média de 11% dos cursos. Nos países com os quais competimos, essa média fica ao redor de 60%. Então, temos de atentar às necessidades do país. A botânica é outro exemplo: temos diversos cursos, mas apenas um ou dois na Amazônia. Então, temos também uma fator regional que interfere nessa lógica.

Hoje, o maior crescimento na oferta de cursos de pós ocorre nas regiões mais carentes.

Sim. Constatamos que o crescimento na região Sudeste é muito menor do que nas demais áreas do país. Ou seja, o Sudeste já está atingindo uma quantidade de cursos compatível com a comunidade que visa atender. Mas esse não é o caso do Norte e do Centro-Oeste. Essas duas regiões em específico ainda precisam avançar muito para poder atender a demanda local. E justamente são essas as regiões que mostraram o maior crescimento na última avaliação da Capes. Isso é um bom sinal.

Quais as áreas do conhecimento mais carentes?

Na área de humanidades, já temos um número de cursos considerável. Mas nas ciências sociais aplicadas talvez seja necessário mais investimento. Outra área que cresce pouco é a de bioquímica. Apesar de ser das mais qualificadas, ainda cresce muito pouco. Podemos olhar essa discussão por uma outra perspectiva. Até agora, a pós-graduação foi vista como um mecanismo para capacitar as universidades, centros de pesquisa e o setor público. Agora, vemos que entra nessa disputa também o setor de serviços e industrial, que vão seguir daqui para a frente exigindo profissionais capacitados. E isso também vai ajudar a ditar quais áreas da pós-graduação deverão crescer.

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Dos mais de 2.000 programas avaliados, cerca de 300 atingiram a nota máxima. O senhor considera esse número baixo?

Não, ele é resultado da exigência de que, para alcançar um conceito 6 ou 7, o programa deve ter um nível compatível com os grandes centros do mundo, e isso não é fácil de atingir. Hoje, o Brasil é o 13º no ranking do Journal of Science Research e isso se deve sobretudo aos cursos de nota 6 e 7. Esses cursos são a ponta do sistema e promovem avanços representativos. Há 40 anos, havia perspectiva de desenvolvimento da pós-graduação no Brasil diferente da que existe hoje. O país já ganhou respeito no exterior na área da produção científica. Na década de 1980, a produção era quase cem vezes menor do que a dos Estados Unidos. Hoje, essa relação está em dez para um. Esse é um salto significativo. Temos que levar em consideração que começamos mais tarde. Quando a Universidade de São Paulo foi criada, Harvard já tinha 300 anos. E isso pesa.

Qual o perfil desses cursos?

Uma parte são cursos que já existem há mais tempo, que já aprenderam como se faz uma pós-graduação de qualidade. Mas também vemos cursos novos que já atingiram a nota máxima.

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