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‘Dispositivos móveis podem revolucionar a educação’

Tablets e smartphones podem, pela primeira vez, integrar mundos dentro e fora da escola, diz professor da Faculdade de Educação da Universidade Harvard

Por Nathalia Goulart
15 ago 2011, 12h37

“É preciso, em primeiro lugar, ter um propósito educacional e só depois escolher que tecnologia melhor se adequa a esse plano”

O retorno às aulas em ao menos duas escolas paulistanas é promissor. O motivo: essas instituições passarão a adotar, de forma sistemática e programada, o tablet em sala de aula. Para Christopher Dede, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Harvard, a ferramenta é promissora. “Graças a dispositivos como tablets e smartphones, é possível, pela primeira vez, unir de maneira tão integrada o mundo dentro e fora da escola”, diz o especialista. Dede, no entanto, faz ressalvas. “Os educadores pensam em tecnologia como mágica e acreditam que apenas usando o computador ou a internet coisas boas vão acontecer. Na educação as coisas não funcionam dessa forma”, salienta. Ao adotar novos aparatos, as escolas devem estar munidas de um projeto pedagógico consistente, ou os aparelhos perdem sentido. Fazer dessas tecnologias ferramentas pedagógicas é, portanto, o grande desafio da escola do século XXI. Confira a seguir os principais trechos da entrevista que Dede concedeu a VEJA.

A tecnologia ainda é um desafio para a educação. Por quê? Os educadores pensam em tecnologia como mágica e acreditam que apenas usando o computador ou a internet coisas boas vão acontecer. O fogo é assim: você acende e já desfruta dos benefícios dele. Mas na educação as coisas não funcionam dessa maneira, não é possível obter resultado algum apenas sentando-se ao lado de um laptop ou tablet. A tecnologia precisa ser pensada como um catalisador, uma ferramenta que propicia mudanças. Essas transformações, sim, são poderosas. Ou seja, se um professor usa o tablet para aprofundar currículo, melhorar suas práticas em sala de aula e dar acesso à informação, então podemos dizer que a tecnologia foi usada de maneira efetiva e, de fato, provocou mudanças.

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Christopher Dede, da Faculdade de Educação de Harvard
Christopher Dede, da Faculdade de Educação de Harvard (VEJA)

Podemos dizer que os professores não estão preparados para a tecnologia? Não acredito nessa hipótese. Na vida pessoal, os professores lidam com a tecnologia de forma natural: eles usam computador, celular, fazem videoconferências e, em breve, usarão o tablet. A questão é: eles sabem utilizar tudo isso em prol da educação? O que acontece é que eles ainda não sabem como inserir a educação nesse contexto digital. Eles acreditam que basta usar o celular em uma aula para que seus alunos aprendam mais.

As escolas brasileiras apenas começam a discutir o uso do tablet na sala de aula. As instituições americanas parecem mais avançadas nesse sentido. Como senhor avalia a experiência até o momento? Nos Estados Unidos, creio que o processo se deu de forma inversa da ideal. Aqui, as escolas adquiriram iPads sem ter em mente quais mudanças esses aparatos poderiam trazer para a prática pedagógica. Essa não é a maneira como as coisas devem acontecer. É preciso, em primeiro lugar, ter um propósito educacional e só depois escolher que tecnologia melhor se adequa a esse plano. O problema é que esses aparelhos têm um apelo comercial muito grande. As empresas querem vender seus produtos e, para isso, dizem que podem satisfazer todas as necessidades da escola. Mas sabemos que isso não é verdade. Não existe um único aparelho capaz de fazer tudo. Nos Estados Unidos, muita gente não pensa dessa maneira, infelizmente. E só depois percebem que compraram algo que não valia tanto assim.

É possível medir o impacto da tecnologia no desempenho acadêmico dos alunos? Existem muitas evidências de que, quando a tecnologia é usada de maneira efetiva, ou seja, quando é identificado um propósito e estruturado um projeto para atingi-lo, ela pode melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Isso porque a escola se torna mais atrativa para o aluno. Perguntar qual o efeito da tecnologia na escola é o mesmo que perguntar qual o efeito do quadro negro na sala de aula. Depende do que se escreve nele. Agora, se pesquisarmos apenas se a tecnologia tem um efeito positivo na educação, sem levar em conta em que contexto ela foi inserida, não teremos uma resposta. Quando analisamos pesquisas sobre os projetos bem realizados, que estão preocupados com as transformações que a tecnologia pode nos proporcionar, então, sim, existem muitas evidências de que a tecnologia é um ótimo investimento em termos de aprendizagem.

Alguns analistas apontam que o tablet tem poder de revolucionar a educação devido à sua portabilidade e interatividade. O senhor compartilha desse pensamento? Sim. Graças a dispositivos como tablets e smartphones, é possível, pela primeira vez, unir de maneira tão integrada o mundo dentro e fora da escola, porque os alunos terão esses aparatos sempre à mão. Então, não se trata apenas de aprender dentro da escola. O conhecimento passa a estar disponível para o aluno durante todo o dia: ele pode aprender a qualquer momento, pode tirar fotos em qualquer lugar, levá-las para a sala de aula, discuti-las com amigos, mostrá-las aos professores. É um grande passo o fato de que podemos armazenar todas esas informações em um celular ou um tablet e depois usá-las em prol da educação. Mas só sentiremos o impacto disso tudo à medida em que todos os alunos tenham acesso a esses aparelhos.

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Recentemente, a Coreia do Sul anunciou que irá aposentar todos os livros escolares até 2015, fazendo do tablet uma importante ferramenta pedagógica. Como o senhor avalia essa notícia? Existem dois aspectos a serem analisados. Um deles é a migração de conteúdo impresso para o meio digital. Se este for mais barato, atualizado mais rapidamente e mais interativo, então espero ver o fenômeno da Coreia do Sul se repetir em muitos lugares do mundo. O segundo aspecto é que muitas pessoas dizem que não precisaremos mais do conteúdo dos livros impressos, porque qualquer pessoa poderá criar seu próprio conteúdo e disponibilizá-lo na internet. Em relação a esse último aspecto, sou muito mais cético.

Que conselho o senhor daria para as escolas que estão pensando em adotar o tablet na sala de aula? A coisa mais importante a se pensar é que o tablet não é a grande inovação. Ele não deve ser o foco do investimento das escolas. Eles devem se preocupar em primeiro lugar em oferecer um currículo mais atraente e práticas pedagógicas mais inovadoras. Quando isso estiver claro, será hora de pensar de que maneira elas farão isso. Repito: é preciso ter em mente um objetivo claro e só depois pensar nos meios para atingir essa meta.

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