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O empreendedorismo social vai ao cinema

Cineasta Mara Mourão fala sobre documentário 'Quem se Importa', que mostra histórias de 18 pessoas que tentam transformar realidades a seu redor

Por Nathalia Goulart
15 abr 2012, 14h05

Em 2005, a diretora Mara Mourão levou às telas do cinema a rotina da trupe do Doutores da Alegria, grupo de palhaços que anima crianças que enfrentam tratamento médico no ambiente sisudo dos hospitais. A diretora percebeu, então, que podia arrancar mais do que gargalhadas do público, como pretendiam suas obras anteriores, as comédias Alô?!, de 1998, e Avassaladoras, de 2002. “Percebi que as pessoas se sentiram tocadas de verdade e que aquilo tinha feito algum sentido para a vida delas”, diz. “Eu realmente tinha produzido um impacto positivo na vida de alguém.” A partir de então, a diretora decidiu que sua próxima obra retrataria pessoas que dedicavam suas vidas a fazer o mesmo: transformar a realidade a seu redor. Assim, surgiu Quem se Importa (assista ao trailer), documentário que chegou na última sexta-feira a salas de cinema de São Paulo e que registra a trajetória de 18 empreendedores sociais. São homens e mulheres que têm como ponto de partida uma demanda social a atender (do analfabestimo à produção de energia limpa) e como método a ação. Filmado em sete países, a produção pretende estimular jovens que, como muitos personagens do documentário, estão tentando dar uma nova cara ao mundo. Quem se Importa já foi exibido também na Universidade Harvard, onde é intenso o debate sobre empreendorismo social, e em breve chegará a Colúmbia e outros centros de excelência do exterior. Confira a seguir a entrevista que a diretora concedeu ao site de VEJA:

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O que motivou a senhora a retratar pessoas que tentam mudar o mundo? Eu já tinha feito duas comédias, que levavam as pessoas a me dizer que tinham se divertido muito, que as histórias eram muito engraçadas. Mas os comentários ficavam nisso. Em 2005, com Doutores da Alegria, as reações mudaram. Passei a ouvir que meu filme tinha transformado a vida de quem o assistiu. Percebi que as pessoas se sentiram tocadas de verdade e que aquilo tinha feito algum sentido para a vida delas. Foi muito prazeroso: eu realmente tinha produzido um impacto positivo na vida de alguém. Ali, percebi o poder de transformação social do cinema. Então, resolvi fazer o que eu chamo de “upgrade” do Doutores da Alegria, que é Quem se Importa, filme que tenta investigar a alma dos transformadores.

A senhora já tinha tido algum contato com empreendedorismo social? Minha relação com o empreendedorismo social é antiga. Meu marido é um empreendedor social, presidente do conselho da Ashoka (organização internacional pioneira no fomento do modelo). Por isso, há muitos anos tenho escutado histórias lindas de pessoas que provocam impactos positivos a seu redor. Aos poucos, fui amadurecendo a ideia de fazer um filme sobre elas. Quando decidi de fato filmar Quem Se Importa, mergulhei de cabeça nessa temática e me aprofundei nas pesquisas, conversando com diversas pessoas, entre elas Bill Drayton e o David Bornstein, dois grandes conhecedores do assunto.

A senhora tem dito que esse não é apenas um filme, é um movimento. Que movimento é esse? Quero que uma parcela da população acorde para o fato de que todos podem fazer algo para mudar o mundo. Na medida do poder de cada um, todos podem provocar transformações. Desmitificar essa ideia de que existem pessoas que nascem com o dom de mudar o mundo foi uma das minhas preocupações. Acredito que todos podemos ser transformadores sociais em diferentes escalas. Mas é preciso querer.

Como transformar desejo em ação? Eu achava que era um impulso que vinha sem explicação. Mas, com o filme, aprendi que essas pessoas que decidem agir estavam muito envolvidas com o problema que resolvem desafiar. Às vezes, as coisas começam pequenas e vão evoluindo. Amadurecer uma ideia e implementá-la pode consumir anos.

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Por que a senhora diz ser fundamental levar o filme e suas ideias aos jovens? Bill Drayton, da Ashoka, costuma dizer uma coisa importante a esse respeito. Se 20% ou 30% dos jovens que hoje estão nas escolas estivessem sendo formados para ser agentes de mudança, conseguiríamos mudar o mundo em pouco tempo. Os jovens estão na idade certa, eles captam facilmente as novas ideias. Eles estão em busca de uma utopia, querem uma causa para abraçar. Eles querem transformar as coisas.

Como tem sido a receptividade desse público? Alguns jovens com que tiveram acesso ao filme antes da estreia nos cinemas ficaram pilhados – e essa é a única palavra que me ocorre para descrever a empolgação deles. Eles saem da sala querendo fazer alguma coisa. Sei que alguns adultos ficam tocados e querem fazer alguma coisa transformadora e até mesmo as pessoas que trabalham no setor social assistem ao filme e sentem reconhecidas. Mas os jovens, na maioria das vezes, nunca entraram em contato com esse assunto e, mesmo assim, ficam muito entusiasmados. Tenho amigos que me ligam para dizer que o filho ficou contagiado pelo filme e que quer começar já um projeto de transformação. Isso é emocionante.

A reação dos adolescentes diante do filme a surpreende? Eu não tinha certeza de que conseguiria atingir os jovens até exibir o filme em uma escola. Eu não tinha certeza se eles iriam compreender as mensagens, porque no fundo achava que seria um tema sofisticado demais para o dia a dia de uma adolescente de 16 anos. Fiquei realmente muito nervosa, eu estava certa de que seria um fracasso. Mas não foi. Eles adoraram o filme.

Quem Se Importa foi exibido em Harvard, durante a Social Enterprise Conference, reunião anual que discute novos modelos de negócios. Como surgiu a oportunidade de exibir ali? Foi um convite que partiu da própria universidade. Uma das pessoas que viu o filme aqui no Brasil tinha contato com estudantes de lá e eles me fizeram o convite para a exibição. A receptividade foi ótima. Como o filme tem quase 60% de seu conteúdo em inglês, a plateia internacional não enfrenta dificuldades para compreendê-lo. A Universidade de Colúmbia também já me fez um convite para exibir o filme em Nova York e em breve pretendo levá-lo para todas as grandes universidades do mundo.

O filme mudou alguma coisa na vida da senhora? Fui inspirada pelo meu próprio filme. Tive uma ideia simples, mas que já tem produzido alguns resultados. Montei um grupo no meu bairro para discutir e melhorar a nossa qualidade de vida. Estamos nos conhecendo melhor e compartilhando opiniões e preocupações acerca do espaço comum que dividimos.

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Assista ao trailer de Quem se Importa:

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