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Nova presidente do Inep discorda do ministro da Educação sobre futuro do Enem

Ela quer que instituição continue organizando exame, enquanto Haddad defenderia criação de estatal para realizar a prova

Por Luciana Marques
24 jan 2011, 17h12

Menos de uma semana depois de ser nomeada presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman já apresenta sua primeira discordância com o chefe, o ministro da Educação, Fernando Haddad. Na entrevista a seguir, ela defende que o Exame Nacional do Ensino Médio continue sob controle do Inep, em vez de passar a ser gerenciado por uma empresa estatal a ser criada, por exemplo, a partir da estrutura do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília (UnB). A proposta de terceirizar o Enem teria partido do próprio Haddad, segundo confirmou a jornais na semana passada o reitor da UnB, José Geraldo de Souza Júnior. O Enem é a pedra no sapato do ministro. Nos últimos dois anos, registrou falhas graves de organização (roubo de provas, erro de impressão, vazamento de dados de candidatos) e virou disputa judicial envolvendo estudantes, promotores públicos e MEC. Nota vermelha para Haddad, que, segundo se comenta nos corredores do Planalto, pode estar com os dias contados no ministério. É no olho desse furacão que Malvina Tuttman – doutora em educação e ex-reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) – chega ao Inep. Confira a seguir a entrevista que ela concedeu ao site de VEJA.

A senhora defende que o Inep continue organizando o Enem? Neste momento, eu considero que isso é importante. O Inep tem condições de aprimorar tanto a questão pedagógica quanto a operacional. Não podemos desconsiderar as questões que ocorreram, é claro. Precisamos olhá-las de frente, sem com isso diminuir a importância do Enem. Vamos melhorar a logística e o próprio exame. A partir daí, o ministro Fernando Haddad poderá encaminhar o Enem da melhor forma.

O ministro conversou com a senhora sobre a criação de um novo órgão para cuidar exclusivamente do Enem? Não conversei com o ministro sobre esse assunto. Falamos da importância de aprofundar os diagnósticos da educação nacional. Para isso, ele considera que neste momento a minha presença no Inep, pela experiência e trajetória de 40 anos no exercício do magistério, seria importante. Nós temos o trabalho já desenvolvido e a partir de agora tentaremos avançar.

De que forma o Inep vai trabalhar para melhorar o Enem? A aplicação do Enem precisa ser constantemente revista, mesmo quando tivermos, daqui a dez anos, por exemplo, toda a operação em um momento ótimo. Nós temos que acompanhá-lo e avaliá-lo permanentemente, porque nunca vamos chegar ao desejável. A utopia precisa ser perseguida, mas nunca chegaremos à utopia.

O Inep estuda mudanças no sistema on-line do órgão para evitar falhas como as que ocorreram na divulgação dos resultados do Enem, em que candidatos puderem ver as notas de outros? Nós detectamos alguns pontos limitadores e eles já são alvo de discussão. Mas ainda não fechamos esse estudo, nem entregamos ao ministro, até porque todo o processo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ainda está por terminar.

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Os problemas encontrados durante as inscrições para o Sisu podem prejudicar o Enem? O Sisu é de competência da Secretaria de Educação Superior do MEC. O Inep passa todas as informações sobre o sistema e cabe à secretaria a operacionalização.

Os repetidos erros no Enem desestimulam as universidades federais a adotar o exame como processo de seleção de estudantes? Tenho clareza que não. Nós começamos com cerca de treze universidades que adotaram de forma integral o Enem e mais algumas de forma parcial. Hoje são 86 instituições federais, estaduais e municipais que utilizam o exame. Então, os números comprovam que isso não está acontecendo.

De que forma o Inep tentará recuperar sua imagem, prejudicada pelos constantes erros no Enem? Não tenho essa visão de imagem abalada. Nós realizamos várias ações, que ficam por vezes adormecidas perante à opinião pública, na medida em que a imprensa focaliza apenas uma ação. O Inep é muito mais do que o Enem. O exame não é o Inep, nem o órgão foi criado para abrigar somente o Enem.

Em oito anos, o Inep teve seis presidentes. Essa troca-troca contribui para a fragilidade da instituição? Se nós tivermos um plano diretor que conduza para metas estabelecidas, não há nenhuma dificuldade na alteração da presidência. Isso também faz parte da nossa proposta de trabalho: construir um plano diretor de forma bastante participativa, com envolvimento de profissionais da instituição, que são muito experientes, e com os olhares externos que nos ajudam a refletir.

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O quadro de pessoal do Inep será mantido? Eu encontrei um quadro comprometido e com disposição. Tenho ouvido os meus colegas e tenho percebido a qualidade dos profissionais que estão aqui. Acredito que seja o momento de ampliar essa rede ouvindo outros atores. Já estamos agendando a presença das representações estudantis, universidades, secretarias municipais e estaduais para analisarmos o Enem. Os diferentes olhares vão somar as percepções que nós temos para fazer uma avaliação mais consolidada. Isso nos trará uma segurança maior para o rumo que vamos tomar.

Leia mais:

O desafio da nova presidente no Inep: permanecer no cargo

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