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Fracassar é primeira lição para aspirantes a líder

Reitor da escola de negócios e empreendedorismo do MIT fala sobre o método de formação de lideranças que a instituição aperfeiçoa há 150 anos

Por Nathalia Goulart
19 fev 2012, 13h08

Há cinco anos à frente da Sloan School of Management, unidade do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), o americano David Schmittlein tem uma incumbência nada trivial: preparar líderes empreendedores e inovadores para o século XXI – sejam eles empresários, administradores públicos ou inventores. E Schimittlein tem um método para cumprir sua missão. O primeiro ponto é oferecer a pós-graduandos de mais de 60 países que estudam na instituição uma convivência intensa com pesquisadores e empresários. “Tudo isso faz com que o embrião de uma futura grande empresa nasça aqui mesmo, dentro do campus”, diz. Outro ponto do método é ensinar aos aspirantes que o líder deste século não dá ordens, mas, sim, convence. “O líder agora precisa fazer com que as pessoas entendam o propósito de uma empresa ou de um projeto. E precisa envolvê-las nisso.” Por último, mas não menos importante, o método da escola do MIT prega que fracassar é parte do aprendizado dos que ousam. “Os líderes aprendem mais com os erros do que com os acertos e estão seguros de que, mesmo se falharem, serão valorizados no mercado”, afirma o reitor. De olho em parcerias com o Brasil que possibilitem troca de conhecimento, Schmittlein concedeu a seguinte entrevista a VEJA:

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Como a MIT Sloan School of Management ensina liderança, empreendedorismo e inovação a seus alunos? Um quesito indispensável para o MIT é a experiência prática, porque o essencial não pode ser ensinado apenas em aulas teóricas. Recebemos empresários em nosso campus, que convivem conosco e com nossos alunos por algum tempo. Também mantemos uma relação próxima com startups (as nascentes empresas de inovação), que transmitem conhecimento a nossos estudantes. Outro aspecto que classifico como fundamental é a interação entre as diversas escolas do MIT. Estudantes, professores e pesquisadores de todas as partes estão criando empresas a todo momento. Criamos competições dentro do campus para que os alunos apresentem suas criações e existem empresas que oferecem o suporte financeiro para isso. Tudo isso faz com que o embrião de uma futura grande empresa nasça aqui mesmo, dentro do campus.

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No Brasil, empreendedorismo, liderança e inovação parecem temas novos à maioria das universidades. Como o senhor vê esse processo nos Estados Unidos? Encorajar o empreendedorismo, a inovação e a liderança fazem parte do MIT desde sua fundação. Há 150 anos fazemos o mesmo trabalho. Por outro lado, acredito que, em outras universidades dos Estados Unidos e do mundo, cresce a ideia de que as universidades não devem se preocupar apenas com a formação intelectual de seus alunos: elas precisam criar atividades econômicas. Precisam estabelecer uma ponte entre as ideias que nascem dentro do campus e o mundo fora dele. As formas de fazer negócio estão sendo alteradas muito rapidamente e, por isso, a responsabilidade da universidade hoje é muito maior do que antes: ela precisa preparar seus estudantes para esse novo mundo.

Por que empreender, liderar e inovar são três conceitos tão importantes para o século XXI? Eles criam atividades econômicas. O resultado disso são empregos, oportunidades e mobilidade social. Isso significa novas oportunidades para cada vez mais gente. Por isso, acredito que tratar desses assuntos seja tão importante, principalmente no tempo em que vivemos. Atravessamos um momento de crise mundial em que a criação de emprego se faz necessária. E economias emergentes, como o Brasil, precisam de grandes oportunidades e uma intensa atividade econômica para crescer de maneira sustentada.

Quais as condições ideais para encorajar futuros líderes? O primeiro passo é atrair o tipo certo de estudante – aqueles que realmente querem desenvolver algo que já têm dentro de si. Outra coisa importante é desenvolver nessas pessoas a habilidade de lidar com o fracasso. Empreendedores falham a todo o momento. Os líderes aprendem mais com os erros do que com os acertos e estão seguros de que, mesmo se falharem, serão valorizados no mercado. Portanto, é preciso oferecer muitas oportunidades para os estudantes e proporcionar experiências complexas e incomuns para que possam aprender de verdade.

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Qual o perfil dos alunos do MIT Sloan? Acho que isso não chega a ser uma surpresa, mas eles são muito inteligentes! Eles têm um histórico acadêmico muito forte e possuem boas notas nos testes de admissão. Mas eles também são pessoas que gostam de se relacionar com os outros, são bons comunicadores e sabem prestar atenção ao que acontece ao seu redor. São pessoas corajosas, dispostas a transformar.

Muitos jovens brasileiros que encabeçam empreendimentos apresentam uma característica em comum: eles buscam negócios que deem lucro e, ao mesmo tempo, resolvam problemas de suas comunidades. É possível aliar rentabilidade e ação social? Sim, é possível aliar as duas coisas. Essa é uma demanda da sociedade. Acho que o ponto crucial é ter um propósito. Grandes empresas e projetos precisam de propósito e paixão. Geralmente, as pessoas jovens conseguem unir essas duas coisas. Quando chegam à universidade ou estão saindo delas, é fundamental que tenham esse senso de urgência. Esse desejo de fazer algo pela comunidade é algo muito respeitado dentro das empresas hoje em dia.

Que diferenças o senhor vê entre os líderes do passado e os de agora? Liderança hoje não significa mais dizer às pessoas o que elas precisam fazer, como acontecia antigamente. O líder agora precisa fazer com que as pessoas entendam o propósito de uma empresa ou de um projeto. E precisa envolvê-las nisso. O líder precisa fazer essas pessoas compreenderem que também são líderes, em alguma medida.

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Como o senhor vê o Brasil em termos de empreendedorismo e inovação? O Brasil, como outras economias emergentes, têm feito emergirem importantes empresas, grandes e pequenas. Tenho visto companhias promovendo novas tecnologias, principalmente na área de agricultura. O Brasil tem um grande potencial de inovação e todo o mundo já despertou para isso.

Recentemente, o MIT Sloan anunciou uma parceria com uma escola de negócios da Rússia. O senhor está interessado em parcerias semelhantes com o Brasil? Sim. Estamos interessados em conhecer a dinâmica de economias emergentes. Tenho muitos amigos à frente de diversas instituições de ensino no Brasil. Mas ainda não encontramos um possiblidade de realmente fazer a diferença no Brasil, de aprender e também levar conhecimento. Foi isso o que nos levou à Rússia: um projeto de mútuo aprendizado. Queremos fazer a diferença nos lugares aonde vamos. Até esse momento, nossas atividades em parceria com o Brasil estão restritas a projetos conjuntos com a mineradora Vale. Ao invés de procurar uma única instituição, acabamos mantendo contato com várias dela por intermédio da Vale. Esse não a maneira ideal de trabalhar intensamente com uma única universidade, mas é uma boa forma de ter contato com diversas instituições.

O senhor trabalhou durante muito tempo na inciativa privada, tendo passagens por importantes multinacionais. Como o senhor vê a interação entre empresa e universidade? O contato com as empresas é necessário quando falamos em financiamento de projetos. O investimento governamental no ensino superior está estagnado na maioria dos países. Então, precisamos da iniciativa privada para que possamos apostar em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, as empresas têm uma experiência de mundo muito importante para os alunos. Elas estão expostas a diferentes culturas e relações comerciais. Isso é precioso para as escolas de negócios, como a nossa. Mas a universidade também precisa estar atenta porque eventualmente existem empresas que não têm os valores que a universidade busca e não estão interessadas numa relação de troca. É preciso atenção, mas sem dúvida é uma parceria indispensável. Construir um muro ao redor da universidade certamente não é a melhor saída.

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